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Estado de Minas

Reservatórios com pouca água põem país na rota do racionamento

Com recordes de consumo e escassez de chuvas, nível de água nas usinas está próximo do registrado no apagão de 2001. Governo já estuda medidas para evitar a falta de energia


postado em 06/02/2014 06:00 / atualizado em 06/02/2014 08:40

A baixa afluência de água nos rios do Sudeste e do Nordeste e os sucessivos recordes de consumo e demanda, ocasionados por uma forte onda de calor no país, estão pressionando o sistema elétrico brasileiro e voltam a colocar o país perto da situação que levou ao racionamento de energia em 2001. Apesar de o governo descartar qualquer conexão entre a elevada demanda e as causas do primeiro apagão do ano, que atingiu 13 estados e o Distrito Federal e afetou 6 milhões de pessoas, dados divulgados ontem pelo ONS revelam que o blecaute de terça-feira ocorreu poucos minutos depois de um pico no consumo de energia, reforçando os temores sobre as reais condições do sistema. Às 14h de terça-feira a demanda da Região Sul atingiu o pico histórico de 17.412 megawatts (MW), ou seja, três minutos antes do início do apagão.


Na outra ponta, os reservatórios continuam em baixa e cada vez mais perto do nível que estavam no ano do racionamento. Em 31 de janeiro de 2001, o reservatório de São Simão (1.710 megawatts (MW), na bacia do Rio Paranaíba, – uma das mais importantes hidrelétricas da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) –, estava com 56,10% de sua capacidade. Na segunda-feira, o acúmulo de água era de 19,13%. Três Marias (396 MW) tinha capacidade de armazenamento de 38,43% no final de janeiro daquele ano e agora tem 26,6% (Leia mais na página 11). Em Marimbondo (1.440MW), no Rio Grande, o nível do reservatório está em 23,05%, muito próximo dos 15,55% registrados em janeiro de 2001.

De acordo com Flávio Neiva, presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), a pressão está sendo sentida pelas geradoras de energia, que observam um aumento substancial da demanda na ponta da carga. A combinação entre o nível dos reservatórios, afluência, oferta de energia e mercado também já fez com que o Preço da Liquidação das Diferenças (PLD) subisse para o seu valor máximo, R$ 822. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a energia armazenada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste chegou a 39,21% na terça-feira. O percentual é menor do que o de dezembro de 2013 (43,18%), mas um pouco superior ao de janeiro do ano passado (37,46%).

Segundo Neiva, apesar da agregação de energia nova ao sistema em 2013, os níveis de armazenamento da Região Sudeste em 2014 são praticamente iguais aos do ano passado. “Estão sendo verificados valores mais elevados de consumo (acima de 6.000 MW médios) e vazões naturais afluentes 50% menores). Ele lembra, porém, que, como ocorreu em 2013, essa conjuntura ainda pode ser revertida. Para isso será necessário “uma melhoria substancial das vazões afluentes, tendo em vista que a estação chuvosa se estende até o mês de abril”. Para Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, “o que preocupa ´é que a chuva não está chegando. Em fevereiro do ano passado, a curva estava subindo e agora ele está mais baixo, o que mostra que a produção de energia no Brasil ainda é fortemente dependente do clima”, observa.

Medidas extremas

Mas para não ficar na mão de São Pedro, o governo já avalia adotar medidas extremas. Caso se agrave nas próximas semanas ou meses o cenário dos baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, que receberam só 55% da água de chuva esperada para janeiro, estão sendo considerados controles excepcionais sobre a gestão de recursos hídricos. Segundo fontes do setor, o Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), estuda recomendar a suspensão temporária do uso preferencial dos rios para a irrigação no Nordeste e o adiamento de manutenções periódicas em hidrelétricas. Um prova do temor de repetir o vexame de apagões em pleno ano eleitoral está no alerta feito ontem pelo ONS às distribuidoras, para que não divulguem projeções meteorológicas “para não assustar” a população. Outro sinal vem da instalação de geradores em torno dos estádios da Copa do Mundo.

Mais apagões para os pobres

O perfil dos milhões de brasileiros prejudicados pela série de apagões ocorridos desde a posse da presidente Dilma Rousseff – como o da terça-feira, que afetou 6 milhões em 13 estados e no Distrito Federal— está concentrado nas camadas mais pobres da população, sobretudo moradores das periferias das principais metrópoles. Em virtude de protocolos obedecidos pelas distribuidoras de eletricidade nas “grandes perturbações” do Sistema Interligado Nacional (SIN), os alvos selecionados para desligamentos são as áreas menos favorecidas e populosas.

Nos bastidores, analistas e até mesmo autoridades dão mostras de crescente preocupação com a possibilidade desses eventos se repetirem com mais frequência devido às elevadas temperaturas verificadas neste começo de ano, que pressionam fortemente a demanda, somadas aos baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, os menores em 60 anos para o período.

Gestores das companhias estaduais de energia explicam que o procedimento técnico conhecido como Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), coordenado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), impõe cortes seletivos com o critério de evitar transtornos nos principais centros comerciais e empresarias, como paradas de elevadores e sinais luminosos de trânsito, com maior concentração de prédios e veículos. Essas medidas que vigoram enquanto o SIN não se estabiliza para então encerrar o blecaute acabam sobrando para a população mais carente.

No caso dos Eracs implementados esta semana, as distribuidoras estaduais tiveram que suspender 8% de sua carga por um período de pelo menos 35 minutos, a partir de 14h03, incluindo parte do Distrito Federal, afetando 16 mil pessoas. A maioria das vítimas foi justamente as que vivem em bairros e cidades metropolitanos distantes dos centros das capitais. As empresas ressalvam, contudo, a exclusão de presídios e hospitais dos planos de interrupções. (SR)


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