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Estado de Minas

Empresas investem para escapar da energia cara

Com falta de chuvas, preço do insumo bate recorde histórico no mercado livre e pressiona indústrias a buscar redução no consumo. Além da economia, corte garante competitividade


postado em 02/02/2014 06:00 / atualizado em 02/02/2014 07:18

Na fábrica da Embaré projeto de R$ 16 milhões vai permitir diminuir em até 60% a demanda por eletricidade e tornará processo sustentável(foto: Divulgação)
Na fábrica da Embaré projeto de R$ 16 milhões vai permitir diminuir em até 60% a demanda por eletricidade e tornará processo sustentável (foto: Divulgação)

Grandes empresas reforçam investimentos para reduzir o consumo de energia na produção, se antecipando ao cenário de manutenção dos preços altos do insumo já desenhado para este ano. O baixo nível dos reservatórios de água das usinas hidrelétricas derrubou a esperança de que o país não precisasse intensificar o uso da geração mais cara das usinas térmicas. A elevação para R$ 822,83 por megawatt/hora na sexta-feira do Preço de Liquidação das Diferenças, referência paras os consumidores que compram no mercado livre de energia, aquele em que o fornecedor é escolhido pelo comprador, confirma a despesa maior. O preço em janeiro era de quase metade desse valor.

A tarifa média da energia consumida na indústria varia de R$ 350 a R$ 450 por MWh, dependendo da modulação. A opção da energia solar tem custado R$ 250 por MWh e a eólica (obtida a partir da força dos ventos) está sendo adquirida por R$ 107 por MWh. As empresas terão de pagar em 2014 uma conta no mínimo 10% mais cara, na comparação com as faturas recebidas no ano passado, avalia Eduardo Nery, diretor da Energy Choice, empresa de consultoria na área de energia. É nesse ambiente que cresce o campo para aportes em medidas de consumo mais racional nas fábricas.

O grupo siderúrgico Gerdau, de Porto Alegre, apelou à imaginação e criatividade de seus empregados, colhendo mais de 1,3 mil sugestões para ampliar a eficiência de equipamentos e otimizar processos fabris. Empresas como a Embaré, fabricante de produtos lácteos e doces, e a ArcelorMittal Bioflorestas, braço do maior produtor de aço do mundo, aproveitam matéria-prima e gases industriais com a mesma finalidade, além de obterem ganhos ambientais desses projetos.

“Qualquer economia significa economizar nos custos da indústria. Se houver rigor e um trabalho benfeito na busca de eficiência, pode-se reduzir o consumo entre 4% e 8%, no atual estágio de desenvolvimento tecnológico do parque industrial brasileiro”, afirma Eduardo Nery. O consultor observa que o país tem condições de produzir energia solar a R$ 200 por MWh e que shopping centers podem economizar até um terço dos gastos ao usarem painéis solares.

avanços Com um projeto ambicioso para tornar sustentável toda a produção da fábrica de Lagoa da Prata, no Centro-Oeste de Minas, a Embaré está concluindo investimentos de R$ 16 milhões. A empresa vai ampliar em 300% a produção de biogás que está sendo usado para gerar energia elétrica e oferece biofertilizantes como subprodutos do processo. Os efluentes que saem do sistema de evaporação e limpeza da produção de leite em pó, leite UHT e doces são tratados e destinados à geração elétrica. Outras duas iniciativas consistem na troca do óleo diesel das caldeiras por lenha de eucalipto, combustível limpo, e na instalação de um sistema pesado de no break (acionado quando há interrupção da energia).

A expectativa do diretor-presidente da Embaré, Hamilton Antunes, é de que o projeto global de eficiência energética vá permitir economia da ordem de 60% dos gastos atuais. “Custo é algo que exige atenção sempre. A empresa ganha com a redução de insumos caros, assim como o meio ambiente é preservado e o consumidor, que dá muito valor a isso”, afirma. O projeto é conduzido em paralelo à troca de iluminação convencional por LED em todas as novas edificações da companhia.

Geração Em Martinho Campos, município também localizado no Centro-Oeste de Minas, a ArcelorMittal Bioflorestas está na etapa final das obras civis para instalação de um sistema de turbina a gás que aproveitará a fumaça da queima de carvão vegetal para geração de energia elétrica. A tecnologia trazida da Itália, ainda em caráter experimental, promete beneficiar as usinas do grupo siderúrgico com a geração de até 30 MW, potencial elétrico dos gases da carbonização, informou Maurício Bicalho de Melo, diretor geral da ArcelorMittal Bioflorestas.

A companhia tem, ao todo, 258 fornos e mais de 100 mil hectares plantados com eucalipto no estado. “Quanto mais cara se torna a energia, mais vamos buscar independência. Se aproveitarmos todo o potencial estimado, teremos energia, inclusive, para vender ao sistema nacional interligado”, afirma Maurício Bicalho.

Consulta feita pelo grupo Gerdau a empregados resultou em 1,3 mil ações para que a empresa reduza consumo total das usinas, como a de Ouro Branco, em 2,5% neste ano, economizando R$ 40 milhões(foto: Marcelo San'tAnna/EM/D.A Press)
Consulta feita pelo grupo Gerdau a empregados resultou em 1,3 mil ações para que a empresa reduza consumo total das usinas, como a de Ouro Branco, em 2,5% neste ano, economizando R$ 40 milhões (foto: Marcelo San'tAnna/EM/D.A Press)
Esforços que dão retorno financeiro

Na indústria da construção civil, os gastos com energia ganharam status de prioridade, ligados diretamente às instalações elétricas nos canteiros de obras, segundo Roberto Matozinhos, assessor técnico do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG). A busca por eficiência começa no planejamento da edificação. “As empresas definem antecipadamente o consumo, estudando toda a movimentação de carga que será feita na obra e escolhendo o equipamento que melhor atenderá, entre gruas, elevadores e guinchos de coluna”, afirma.

Outra tendência que o setor abraçou e ajuda a reduzir o consumo de energia foi o uso de argamassa e concreto, que retira a betoneira do canteiro de obras. Na escolha dos equipamentos o principal requisito na avaliação da qualidade do maquinário passou a ser a quantidade de energia necessária para o seu funcionamento. “Dentro de pouco tempo teremos um selo Procel (certificado concedido pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica aos eletrodomésticos com melhores índices de economia do insumo) para os equipamentos de obra”, diz Matozinhos.

O projeto da ArcelorMittal Bioflorestas para gerar energia elétrica a partir da queima da fumaça decorrente da produção de carvão vegetal conta com recursos financiados pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Serão investidos R$ 9 milhões, dos quais R$ 3 milhões de capital próprio do grupo siderúrgico. A empresa pretende gerar 80 kW/h, energia suficiente para alimentar 30 residências, na planta -piloto de Martinho Campos, onde 12 dos atuais 40 fornos vão alimentar o sistema de turbina a gás. A experiência pode servir também de referência para a região, como destaca o diretor-geral da companhia, Maurício Bicalho de Melo.

“Fazendeiros, prefeituras e empresários de outros segmentos que precisam reciclar os resíduos nos seus empreendimentos poderão produzir energia com a queima da fumaça dos próprios resíduos. A venda da energia gerada pode levar a investimentos não só nessa solução ambientalmente correta, como também representar outra fonte de lucro”, afirma Bicalho de Melo. A Gerdau, por sua vez, pretende reduzir, neste ano, 2,5% do consumo total da energia demandada nas suas unidades no Brasil, o que deverá significar uma economia de R$ 40 milhões.

Equipamentos Iniciado em 2012, o programa busca eficiência energética na fábricas inclusive nos equipamentos auxiliares do processo de produção, que respondem por cerca de 40% do consumo total. Até o ano passado, as medidas adotadas para redução da energia consumida permitiram à companhia economizar R$ 36 milhões. O projeto-piloto está sendo aplicado nas unidades da siderúrgica no Brasil e deverá chegar, em 2014, às plantas industriais do México e da Colômbia.(MV)

Em busca de um modelo de eficiência


A proposta de um novo modelo de eficiência energética que possa atrair investidores na forma de parceiros e fornecedores de soluções às empresas está sendo estudada pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). A estrutura do negócio, que está sendo desenvolvida desde o ano passado, e deverá ser divulgada em breve, poderá contemplar a criação de uma empresa com foco nessas medidas, de acordo com Camila Sichoti, coordenadora da área de energia elétrica da Abrace.

“Eficiência energética é algo que a gente vê como estrutural nas empresas e com caráter socioambiental”, diz Camila. Segundo Helder Sousa, especialista de energia da Abrace, o maior volume de ações das empresas tem como alvo a energia elétrica. Cerca de 80% do potencial no país são processos térmicos que envolvem troca de calor e toda a parte de combustão industrial. A dificuldade para avançar nessa área está no fato de a indústria dar prioridade a investimentos em aumento da produção, meio ambiente, saúde e segurança.(MV)


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