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Estado de Minas

Reajuste das escolas particulares engole os salários

Aumento acima da inflação amplia o comprometimento da renda da classe média com o ensino dos filhos


postado em 04/10/2013 06:55 / atualizado em 04/10/2013 07:19

Renata da Mata Costa com o filho Gustavo: custo do colégio pesa, mas educação é prioridade(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Renata da Mata Costa com o filho Gustavo: custo do colégio pesa, mas educação é prioridade (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Assim que consegue melhorar a renda da família, uma das prioridades do brasileiro é garantir a matricula do filho na escola particular. Nos últimos anos, parte da classe C que ascendeu ao mercado de consumo consolidou o sonho e empurrou a educação privada. As novas matrículas da classe média chegaram a compensar a queda das taxas de natalidade. Apesar da euforia, planejar é uma matemática importante para sustentar o investimento de longo prazo na escola privada, especialmente quando o reajuste da mensalidade é maior que o da renda e ao longo dos anos passa a devorar fatia maior do orçamento. Para evitar que o investimento não tenha fôlego para resistir até a faculdade, especialistas recomendam início da poupança ao nascimento da criança e controle rígido de gastos.

Nos últimos três anos os índices de reajustes da rede privada de ensino na Grande BH ultrapassaram a inflação do país. Para 2014, o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) estima que 80% das instituições de ensino vão corrigir seus valores em 8%, podendo o reajuste alcançar 12%, o que de novo supera o custo de vida estimado para o fechamento de 2013 (pelo Boletim Focus) em 5,82%.

A renda mensal média das famílias com filhos matriculados nas escolas privadas do estado aproxima-se dos R$ 4,5 mil, de acordo com levantamentos do Sinep. Considerando os preços médios da educação na capital, manter dois filhos na escola, um no ensino fundamental (R$ 711) e outro no médio (R$ 905), equivale a um investimento de R$ 1.616 por mês, ou 36% da renda familiar. Projetando um panorama imaginário, considerando como cenário o percentual de correção da renda familiar de 7% e do preço da escola de 10% ao ano, em 10 anos, o comprometimento do orçamento saltaria para 42%, em 15 anos, para 46%, podendo em duas décadas atingir a metade do orçamento doméstico, 50,9%.

Prioridade Mãe de Gustavo, 11 anos, e Ryan, 1 ano, a dona de casa Renata da Mata Costa diz que o crescimento do valor das mensalidades ocorre em ritmo acelerado. “O índice de reajuste costuma ser maior que o do salário da família. Esse é um peso grande no orçamento, mas fundamental já que garantir uma educação de qualidade é a prioridade.” Segundo ela, o custo da escola, que se soma a aulas complementares, material escolar e outras despesas ligadas a educação e cultura estão no topo do ranking do orçamento doméstico e a evolução dos gastos não permite que seja feita uma poupança para o futuro. “Minha expectativa é garantir uma base bem sólida para que meus filhos façam uma universidade pública. Planejamos, mas não sei se isso vai ser possível”, reconhece.

Mesmo que o salário evoluísse junto com o reajuste da escola, o comprometimento da renda observado no cenário atual já supera o patamar de 30%. Durante o plano real a inflação do país acumulou alta de 334,6% e a educação acelerou 348,7%. Já nos últimos três anos, segundo dados do IBGE, a renda real domiciliar na Grande BH avançou em média próximo a 3% ao ano e os reajustes dos colégios na região variaram entre 7% e 11%.

Na ponta do lápis


O professor de finanças Paulo Vieira projetou, a pedido do Estado de Minas, o crescimento da renda e das mensalidades no tempo. Ele explica que os cálculos consideraram taxas estáveis com uma correção da renda menor que a das mensalidades, o que justifica o crescimento do peso da fatura no orçamento doméstico. Mesmo considerando que a família pode ter a renda ampliada ao longo dos anos, vindo a acumular reajustes salariais superiores ao da escola, ele recomenda que o melhor é ser previdente e fazer poupança a partir do nascimento da criança para atender às despesas com os estudos. “Nem precisa ser muito dinheiro, mas tem que haver disciplina na poupança, não pode furar ou deixar de fazer”, alerta.

Segundo Vieira se houver uma poupança mensal de R$ 100 feita, numa caderneta de poupança, desde o nascimento da criança, a família poderá contar com um empurrão extra para o custeio. “Considerando uma taxa de juros de 0,5% ao mês, quando o filho entrar na universidade, aos 18 anos (216 meses), a família poderá contar com uma bolada de quase R$ 39 mil.”

De acordo com o Sinep o número de criança matriculada na escola privada cresceu nas classes de menor renda, mas, por família, o número vem caindo como reflexo da queda na taxa de natalidade do país, que é de 1,7 filho por mulher, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Hoje a grande maioria dos clientes das escolas privadas sustenta duas mensalidades. “As famílias com três filhos são a minoria e a tendência é que esse número caia para uma criança”, avalia Emiro Barbini, presidente do Sindicato.

Pesquisa do Instituto Data Popular que avaliou universo de 5,5 milhões de crianças matriculadas em escolas privadas, aponta que 48% são da classe C. Quando se observam as classes C e D o número de matriculados sobe para 67% do total.
“Em uma mesma escola há famílias com R$ 5 mil de renda e outras com R$ 10 mil e todos estão adimplentes. A chave para saber o momento de procurar uma escola mais barata é quando o orçamento começa a ficar no vermelho”, diz Erasmo Vieira especialista em finanças pessoais. Segundo ele, não há máximo da renda que pode ser comprometido com a educação. “Tudo vai depender da prioridade da família e de sua disponibilidade em cortar gastos para adequar as finanças”, aponta.

Pagamento em dobro


A escola privada está na lista de cinco serviços essenciais que o brasileiro paga dobrado para ter acesso com qualidade. De acordo com estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) fazem parte da lista a educação, saúde, previdência, segurança e pedágio. “São serviços que apesar de contribuir com pagamento de impostos os brasileiros, especialmente a classe média, paga em dobro porque contratam também o serviço privado”, explica João Eloi Olenike, presidente do Instituto. Segundo ele, o brasileiro trabalhou os 150 primeiros dias do ano, terminados em maio, para pagar impostos. A partir daí, trabalhou mais 117 dias, até 30 de setembro último, para contratar de forma privada a educação e os outros quatro serviços citados acima.

O levantamento do IBPT também mostra que a maior peso dos impostos fica com a classe média com renda entre R$ 3mil e R$ 10 mil, que paga 43,57% do total de tributos sobre os rendimentos. Outro dado citado por Olenike é o Índice de Retorno de Bem-estar à Sociedade (IRBS) calculado pelo IBPT para os 30 países com maior carga tributária no mundo, do qual o Brasil faz parte. O IRBS considera a arrecadação e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

“Na taxa de retorno de serviços de qualidade à sociedade o Brasil ficou em último lugar na lista de 30 países”, aponta. Os 10 primeiros, com melhor índice de retorno a sua população foram encabeçados pelos Estados Unidos, Austrália, Coréia do Sul, Japão, Irlanda, Suíça, Canadá, Nova Zelândia, Israel e Espanha.

A professora Denise de Araújo tem dois filhos na escola particular, sendo um no ensino médio e outro na educação fundamental. Ela diz que nem sempre o reajuste de seu salário acompanha o da escola, o que reflete no orçamento doméstico. Para garantir boa educação ela já fez alguns cortes no orçamento como da empregada doméstica. “Outras despesas que também não são urgentes vão sendo adiadas.” Segundo Denise como o ensino médio costuma ser mais caro que a faculdade fazer poupança para a escola é um desafio que a família ainda não venceu.


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