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Estado de Minas

Turbulência a vencer ainda é a de 2008

Setor convive com produção abaixo dos níveis do ano da crise financeira mundial. Impacto dificulta reação em 2013


postado em 21/01/2013 00:12 / atualizado em 21/01/2013 07:18

Nos extremos da estatística, fabricantes de tecidos sofrem com concorrentes estrangeiros, enquanto os produtores de alimentos buscam novos mercados (foto: (Beto Novaes/EM/D.A Press - 25/11/10 ) )
Nos extremos da estatística, fabricantes de tecidos sofrem com concorrentes estrangeiros, enquanto os produtores de alimentos buscam novos mercados (foto: (Beto Novaes/EM/D.A Press - 25/11/10 ) )
A indústria brasileira se empenha num processo de recuperação neste ano, sem sequer ter vencido os impactos da crise financeira mundial de 2008. Dos 27 segmentos da atividade acompanhados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no país, 12 enfrentaram queda da produção em 2012, ante o ritmo de trabalho das fábricas no ano da turbulência na economia mundial. Em Minas Gerais, a situação não é muito diferente: entre 13 ramos do setor, seis amargam perdas e um ficou estável, frente ao nível de quatro anos atrás. Na média da indústria nacional, a produção cresceu modestos 0,6% comparada ao patamar de 2008, enquanto em Minas o resultado foi também tímido, com elevação de 2,22% em idêntica base de comparação.


O levantamento foi feito pelo analista do IBGE em Minas Antônio Braz de Oliveira e Silva, com base nos dados apurados pela Pesquisa Industrial Mensal de produção física do instituto. Na análise da série dos últimos quatro anos, 2009 amargou o pior desempenho da produção – recuos de 13,1% em Minas e de 7,4% na média brasileira, ante 2008 –, quando os efeitos da crise mundial se mostraram amplamente. Desde 2010, no entanto, a reação foi pífia (veja o quadro). Houve crescimento de 2,3% em 2010 e 2,7% em 2011 no Brasil, ao passo que a indústria mineira sofreu retração de 0,1% e cresceu ligeiros 0,20% no período analisado.

“Depois de quatro anos, os números são fracos, o que indica a dificuldade de a indústria atacar os problemas, Incentivos pontuais ao setor não bastam e não se trata só de uma questão cambial para as exportações”, afirma Braz de Oliveira e Silva. Para estudar o comportamento da produção industrial, ele trabalhou com as taxas médias anuais que retratam o nível de atividade do setor nos últimos quatro anos, comparadas ao patamar de 2008.

Em Minas, a indústria têxtil é mais sacrificada, como no restante do Brasil, com retração da produção no ano passado de 18,6%, em média, frente a 2008. O desempenho da fabricação de produtos de metal (basicamente as estruturas metálicas) ficou na vice-liderança das perdas, de 14,8%, seguido de fumo e metalurgia básica, ramo que inclui as siderúrgicas, afetados por quedas de 10,1% e 8,7%, respectivamente. Ficaram também no vermelho a indústria extrativa (-0,6%) e os fabricantes de bebidas (-5,2%)

As fábricas têxteis são vítimas de dificuldades estruturais da economia brasileira, que viveu um longo ciclo de expansão do consumo combinado ao controle da inflação feito por meio do estímulo à entrada dos produtos importados apoiados nos países de origem, resume Flávio Roscoe, presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas de Minas Gerais. “O problema do setor não é consumo, mas o avanço dos importados”, afirma o industrial, que é também diretor da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).

Flávio Roscoe lembra que outros países, diferentemente do Brasil, fazem defesa comercial usando a política cambial e recorrem mais a barreiras técnicas não tarifárias. “Além disso, o custo Brasil explodiu e as despesas com mão de obra subiram sem que a indústria apurasse ganhos de produtividade”, diz. As empresas têxteis acumulam queda na produção desde 2009 e deverão, de fato, puxar a ala dos segmentos da indústria mineira que mais tendem a enfrentar obstáculos para uma recuperação neste ano.

Desse grupo, participam também as fábricas de máquinas e equipamentos, observa Guilherme Veloso Leão, gerente de economia da Fiemg. O segmento verificou aumento de 3,1% da produção no ano passado, conforme a pesquisa do IBGE, número nada animador comparado à evolução muito pequena, de apenas 0,3%, em 2011 e uma queda de 29,9% em 2009. O nível baixo de encomendas preocupa o setor.

Mar aberto Navegando na corrente das taxas positivas, a indústria de fertilizantes e defensivos fez o segmento de outros produtos químicos acompanhado pelo IBGE exibir crescimento de 39,1% frente ao nível de 2008. Outro segmento que promete boas notícias em 2013 é o de alimentos, que manteve expansão nos últimos quatros anos, embora os 7,4% de 2012 tenham perdido fôlego para 2010 e 2011.

As fábricas de alimentos se beneficiaram de pelo menos três fenômenos que devem continuar surtindo efeitos, na avaliação do presidente da Forno de Minas, Hélder Couto Mendonça. O primeiro deles foi a expansão dos rendimentos do brasileiro, associado ao segundo fator, que consiste na redução das taxas de desemprego, além do ingresso da classe C no consumo. “O ano de 2013 será de muitos desafios em que vamos crescer em mercados fora de Minas, como Brasília e Goiânia, e buscar clientes no interior de São Paulo e na Região Sul”, afirma.

Custo da atividade ainda alto


As medidas recentes de apoio à indústria, como a desoneração da folha de pessoal, ajudam numa reação da produção em 2013, mas não serão suficientes, segundo empresários que esperam novos instrumentos de incentivo. Ampla redução tributária é o que almejam as indústrias de vestuário, junto à torcida para que o governo federal dê atenção especial ao pedido de salguardas da indústria de confecções apresentado pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e os sindicatos das empresas do segmento de vários estados.

“O país já fiscaliza melhor a entrada de produtos do vestuário, mas ainda falta a desoneração da cadeia de produção. Perdemos a competitividade para a China e a Índia e o câmbio nos atrapalha”, afirma Michel Aburachid, presidente do Sindicado da indústria do Vestuário de Minas Gerais. Atemoriza as empresas, de acordo com o industrial, o fato de o varejo estar acompanhando o crescimento do consumo, num cenário de produção estável ou de queda do ritmo de atividade das fábricas, diferença só explicada pelo maior naco dos produtos importados.

A desafagem cambial estaria entre 25% e 30% nas contas de Michel Aburachid, que considera ideal a cotação de R$ 2,40 a R$ 2,50 por dólar. A indústria mineira do vestuário projeta um crescimento de 5% neste ano, frente a 2012.

O fôlego dos importados é observado na baixa do nível de produção também nos segmentos da metalurgia e das fábricas de máquinas e equipamentos no Brasil, conforme o estudo feito por Braz e Silva, do IBGE. Neste último ramo, os números denotam, ainda, a redução dos investimentos. Para Guilherme Veloso Leão, da Fiemg, há fundamentos para o retorno da aplicação de recursos na atividade produtiva, considerando-se que ao se aproximarem os eventos da Copa do Mundo o governo precisará acelerar as obras de mobilidade urbana e deverá manter a taxa básica de juros (a Selic, que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para os bancos e o comércio, fixada em 7,5% ao ano).

Se não houver uma nova surpresa na economia mundial, envolvendo crise, Veloso Leão acredita na volta dos investimentos na produção a partir do segundo semestre. Na Forno de Minas, o presidente da empresa, Hélder Mendonça, revela que o desembolso na área operacional deverá somar R$ 20 milhões neste ano, incluindo a ampliação da capacidade de armazenamento em câmaras frias. A equipe de vendas no país, vai aumentar para atender aos planos de expansão da marca.


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