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Estado de Minas

Indústria automobilística é colocada em xeque no Brasil

Levantamento com base em dados do BC mostra que volume enviado pelas montadoras ao exterior em 7 anos é quase metade do que as fábricas investiram no país em 31 anos


postado em 31/07/2012 06:00 / atualizado em 31/07/2012 07:20

Pátio da fábrica da GM em São Bernardo do Campo: governo quer manutenção de empregos(foto: MAURÍCIO LIMA/AFP - 2/12/01)
Pátio da fábrica da GM em São Bernardo do Campo: governo quer manutenção de empregos (foto: MAURÍCIO LIMA/AFP - 2/12/01)
Brasília –A indústria automotiva evita comentar qual é a margem de lucro de suas operações no Brasil, mas é inegável dentro do setor que a rentabilidade dessas empresas é elevada, apesar de elas estarem sempre com o pires na mão quando se encontram com autoridades do governo. A prova disso é o volume de remessas para suas matrizes, que cresce ano a ano. Levantamento feito pela reportagem junto ao Banco Central revelou que o volume enviado ao exterior somou US$ 22,2 bilhões em sete anos, quase a metade do que elas investiram entre 1980 e 2011 no país (US$ 47,3 bilhões).

Os incentivos de redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) têm uma contrapartida exigida pela presidente Dilma Rousseff, que consiste na manutenção dos empregos e dos investimentos no país além de elevar o índice de nacionalização dos componentes. Mas esse acordo não vem sendo cumprido. No início do ano, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) fez uma estimativa de que, até 2015, o investimento programado pelo setor no país chegaria a US$ 22 bilhões. Entretanto, esse número deverá ser revisto, pois incluía, por exemplo, a fábrica da chinesa Jac Motors que desistiu neste fim de semana de desembolsar R$ 900 milhões (cerca de US$ 450 milhões) em uma unidade em Camaçari (BA). Para piorar, a General Motors adiou a decisão de instalar uma unidade de módulos de transmissão (câmbio) em Joinville (SC) e pretende desativar as linhas de produção de três modelos (Corsa, Meriva e Zafira) no complexo de São José dos Campos (SP), no Vale do Paraíba.

Na avaliação dos especialistas, a montadora norte-americana foi a última das quatro líderes do segmento a renovar o portfólio, considerado o mais ancião do setor. Depois de aposentar o Astra e o Vectra, iniciou a produção dos modelos Cobalt e Cruze e do monovolume Spin (substituto da Meriva e da Zafira) em São Caetano do Sul (SP), no ABC. Essas linhas poderiam ter ido para o Vale do Paraíba, mas a falta de acordo com o sindicato levou-as para o ABC. Além disso, o leque de importados cresce. A Argentina é responsável por colocar no mercado brasileiro o Agile, um dos destaques de vendas da marca, e o México, o utilitário Captiva. A recém-lançada minivan Sonic é importada da Coreia do Sul.

As ameaças de demissão no complexo da GM de São José dos Campos, que emprega 7,2 mil funcionários, fizeram com que o governo interviesse nas negociações na semana passada. "No auge da produção do complexo, por volta de 2005, trabalhavam 12 mil pessoas na unidade", lembrou o conselheiro da SAE Brasil, Francisco Satkunas. Ontem, em São Paulo, o ministro do Trabalho, Brizola Neto, afirmou que as discussões ainda estão ocorrendo e a GM se comprometeu a contratar outros trabalhadores para a linha de produção de Gravataí (RS), onde fabrica o Celta e o Prisma e desenvolve o Projeto Ônix, um novo sedã. "Há uma decisão empresarial que deve ser respeitada, mas estamos dialogando para garantir que a realocação da mão de obra", disse o ministro. E as negociações prosseguem. Hoje, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, se reúne com representantes da Anfavea e da GM.

Movimento orquestrado


Em paralelo, os fabricantes de veículos costuram um movimento orquestrado de demissão em massa de trabalhadores, principalmente em cidades onde os sindicatos de metalúrgicos são mais atuantes. A intenção, segundo fontes ligadas às diretorias das empresas, é fechar as fábricas "não rentáveis" e, ao mesmo tempo, convencer o governo que não houve rompimento do compromisso de manter os postos de trabalho em troca da redução do IPI. A ideia vem sendo amadurecida e foi ventilada pelo ex-presidente da Anfavea, André Beer, que acusou os sindicalistas de radicais e sugeriu que a operação da GM no Vale do Paraíba deveria ser encerrada.

Dispensas não ferem a lei, pois o trabalhador da iniciativa privada não tem estabilidade. "Nesse caso, elas são imorais. Não faz sentido o governo perder receita e a empresa querer fugir do risco inerente à própria atividade", disse o advogado Eduardo Valença, da Escola Superior de Advocacia da OAB-RJ. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de S. José dos Campos, Antônio Ferreira de Barros, afirmou que o setor automotivo nunca respeitou o trato com a presidente Dilma. "Em plena vigência do acordo, Volkswgem, Volvo, Mercedez Benz e Scania fizeram PDV (processo de demissão voluntária), para mascarar a verdade. A GM fechou 2,5 mil postos nos últimos 15 meses, para contratar mão de obra mais barata, nessa que é a planta mais rentável do Brasil e do mundo", disse.

Pelos cálculos de Barros, nos últimos 10 anos, o setor teve isenções fiscais de R$ 27 bilhões. A economista Renata Belzunces, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), comprovou que, nos últimos 12 meses encerrados em junho, a GM fechou 1.189 postos de trabalho no país. A Anfavea informou que o nível de emprego no setor subiu de 131 mil para 142 mil, entre junho de 2011 e de 2012, e não falou sobre previsão de contratações para 2012.

Alta na inflação do aluguel

O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), referência para corrigir os preços de contratos de aluguel, subiu 1,34% em julho, mais que o dobro registrado no mês anterior, e registrou a maior alta desde novembro de 2010 . Em junho, a elevação foi de 0,66%. A taxa de julho é superior à registrada no mesmo período do ano passado (-0,12%). No acumulado de 12 meses, o indicador avançou 6,67%, e, no ano, sobe 4,57%.

De acordo com vice-presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário (CMI/Secovi), Fernando Júnior, a alta vem como alerta, apesar de afirmar que ainda não gera impacto significativo e direto ao setor imobiliário em Minas. “Os novos contratos geralmente são regulados pelo valor de mercado e não sofrem impacto. Já os contratos em curso são os reajustados pelo IGP-M, mas isso ocorre anualmente”, explica. “Então, somente se o processo de alta se repetir nos próximos meses é que poderemos saber se a inflação vai prejudicar o setor com aluguéis mais caros”, acrescenta.

Para os inquilinos, o importan
te na hora de renovar os contratos é o acumulado de 12 meses do índice. Na ponta do lápis, significa um aumento de, no mínimo, R$ 66,70 para aluguéis de R$ 1 mil, por exemplo. A tendência até o fim do ano, segundo especialistas, é o indicador apertar ainda mais o orçamento das famílias com incrementos no custo do aluguel acima de 7%.

TENDÊNCIA
As principais justificativas para o aumento do IGP-M são a alta dos grãos e o reajuste dos combustíveis. Segundo os dados da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Brasil, em julho, a soja encareceu 14,89%; o milho, 6,74%; e o café 2,36% – todas essas altas pressionaram o IGP-M para cima e devem continuar exercendo esse peso pelo menos até o fim do ano. O óleo diesel subiu 5,96%.

“A tendência daqui para frente é que os produtos agrícolas continuem acelerando”, observou Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. Na avaliação dele, o aumento do preço do diesel, assim como dos alimentos, deve afetar o indicador. Para Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora, a soja e o milho devem manter a trajetória de aceleração, “refletindo tanto um choque doméstico de oferta, por condições climáticas desfavoráveis, quanto um choque externo de demanda, com a quebra da safra de grãos nos Estados Unidos”.

Entretanto, para o coordenador de análises econômicas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Salomão Quadros, o movimento considerado atípico deve seguir uma tendência de desaceleração nos próximos meses. “Acredito que a continuação de uma alta tão forte quanto essa não deve se repetir”, considera.

Calote das empresas sobe 16,5%

Brasília – Com a piora generalizada da condição econômica global, os números que medem a capacidade das empresas brasileiras de honrar seus compromissos voltaram a apresentar forte alta. Diante de resultados menores nas vendas e na geração de receitas, a inadimplência nesse segmento avançou 16,5% no s seis primeiros meses do ano na comparação com o mesmo período de 2011. Foi o pior resultado para um primeiro semestre desde 2009 (35,8%), informou ontem a Serasa Experian. Na comparação com igual mês de 2011, a alta foi de 11,4%.

Entretanto, a inadimplência das empresas recuou 5,7% em junho ante maio (9,4%). Por essa razão, explica o economista Carlos Henrique de Almeida, coordenador do estudo, não é possível afirmar que o resultado do mês passado possa se repetir com a mesma intensidade nos meses seguintes. “Vínhamos de uma alta muito forte em maio. Então, era esperado que junho fosse bem menor”, disse. O economista trabalha com a perspectiva que o indicador recue nos próximos meses, mas ainda não o bastante para reverter o quadro atual.

O ritmo dessa queda também é motivo de pessimismo, pois espera-se que as empresas só consigam obter resultados mais consistentes a partir do últimos meses do ano. Em contrapartida, a inadimplência do consumidor, que variou 19,1% no semestre, poderá perder força. Para a Serasa, o cenário global recessivo influencia mais negativamente empresas do que pessoas.

Incerteza


Pensamento semelhante tem a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Em relatório, a instituição afirma que, embora possa se dizer que o ritmo da retomada da atividade no Brasil e a evolução do cenário externo pareçam mais consistentes, é certo que “o grau de incerteza (ainda) permanece muito elevado”. 


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