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Estado de Minas

Inflação cai a 0,08% mas consumidor não vê alívio

IPCA recua em junho para o menor patamar desde agosto de 2010, mas consumidores ainda sentem reajuste de preço de outros meses


postado em 07/07/2012 06:00 / atualizado em 07/07/2012 07:10

São Pedro deu uma forcinha e a inflação oficial deu trégua. Contrariando as regras físicas – e poéticas – que as águas de março fecham o verão, o período chuvoso se estendeu em Minas por quase três meses e, com isso, os preços de hortaliças e frutas aliviaram. Mas, se no papel os cortes foram significativos, o consumidor não sentiu no bolso a variação. A explicação: apesar de terem recuado os valores no mês passado, no acumulado do ano a inflação ainda é alta, o que salgou o feijão, a cenoura, a banana…

Em junho, a inflação oficial registrou forte desaceleração, caindo de 0,36% em maio para 0,08%. O resultado é o menor desde agosto de 2010, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,04%. Com isso, o semestre fechou com acumulado em 2,32%. O percentual é 40,06% menor que o índice registrado no mesmo intervalo do ano passado (3,87%). No período de 12 meses, a alta é de 4,92% – também a menor desde setembro de 2010 –, mas ainda acima do centro da meta da inflação oficial, que é de 4,5%.

O grupo de gastos que teve maior peso para o desempenho da inflação foi o de transportes. Com a redução do Imposto sobre Produto Industrializados (IPI) para automóveis em maio, a categoria teve deflação de 1,18%, sendo que o preço dos carros teve redução de 5,48%. Os usados também tiveram queda de 4,12%.

Diferente dos outros estados onde é feita a pesquisa, em Minas também pesou o grupo de alimentação e bebidas, principalmente para o subitem alimentação em domicílio. Enquanto em maio, a categoria pressionou a inflação, com variação de 0,92%, no mês passado houve redução de 0,06%. A explicação está no prolongamento do período de chuvas, que se estendeu por três meses, adiando a entressafra. Resta saber se o início do novo período chuvoso se dará em outubro e novembro ou se também demorará a começar. “Se der sorte no final e as chuvas entrarem na época normal, o grupo de alimentos incidirá menos sobre a inflação”, afirma o analista do IBGE em Minas, Antônio Braz.

No bolso Se a incidência de chuvas no período tradicional de seca pode ser percebido claramente, os efeitos das águas nos preços é visível mesmo só para economistas. A esteticista Ruth de Freitas observou exatamente o contrário. Ela acredita que os preços nas gôndolas subiram e “foi muito”. Da carne ao feijão, ela não se recorda de um item que tenha caído. “Com muito mais dinheiro, você compra muito menos. Se alguma coisa caiu, foi depois que eu comprei”, afirma. Por isso, de vez em quando a dona de casa Carmelita Ferreira é obrigada a pesquisar preços em sacolões e supermercados da região onde mora para pagar um pouco mais barato. Sobre redução de preços, ela é resumida: “Queda? Está é subindo cada vez mais. O que percebo é que está cada vez mais caro”, crítica.

O fato de os consumidores não sentirem a variação se dá porque, apesar de a inflação ter dado folga no último mês, o acumulado no ano ainda é bem maior. Por exemplo, o feijão carioca caiu 6,56% no mês passado, mas a alta no primeiro semestre é 36,63%. O produto está inserido na categoria cereais, que teve redução de 2,93% em junho, mas no ano tem variação positiva de 17,61%. A cenoura também teve redução de 5,24% nos preços mês passado, mas, no ano, o aumento foi de 17,12%. Assim, o acumulado da inflação nos últimos seis meses faz com que a leve redução seja quase imperceptível no bolso dos consumidores.

Nessa mesma linha, a banana prata apresentou variação negativa de 3,50% no mês passado, mas o produto teve alta de 13,21% no primeiro semestre. Com isso, a professora Dayse Simone Mafra de Siqueira tem que pagar cada vez mais para a dieta diária. Ela consome a fruta todos os dias. “Ainda não deu para sentir a queda nos preços”, diz ela, que semanalmente abastece da fruteira. Mas não é só a banana. Outras frutas que tem o quilo mais caro, como kiwi e ameixa chilena, ela chega até a deixar de consumir.

 

Frio eleva preços

 

O atraso na entressafra de produtos que dependem da combinação calor e chuva fez com que muitos itens tivessem os preços reduzidos no mês passado. Mas foi só o frio dar as caras que a produção foi prejudicada e os preços nas gôndolas voltaram a subir. E de forma acelerada. O preço da caixa de tomate (com 18 quilos) que no mês passado podia ser comprada por até R$ 12 subiu ultrapassou a casa de R$ 40, R$ 50 e essa semana já foi comprada por quase R$ 90. O resultado deve ser sentido na próxima divulgação da inflação, com os alimentos voltando a pressionar.

Nos sacolões, desde segunda-feira o preço dos tomates e outros legumes subiram bruscamente, refletindo a alta no atacado. O frio na Região Sul e em São Paulo obrigou atacadistas paulistas a virem a Minas buscar produção. “Julho vai descontrolar a inflação. Os paulistas vão buscar direto na roça, pagam muito mais e levam toda a produção”, afirma o sócio do Sacolão Center, Vando Alves, reiterando que a consequência é a falta do produto no mercado.

A oscilação da taxa de câmbio também pode contribuir para apertar a inflação. Em meses anteriores, o preço de eletroeletrônicos, como computadores e televisões, conseguiram ajudar para que a inflação não fosse ainda mais acelerada graças ao dólar bem abaixo da casa de R$ 2. Mas, com a impulsão da moeda norte-americana, os importados também devem ser reajustados. E ainda tem o trigo, que, com a variação do dólar, pode incidir sobre o custo do pãozinho de sal. “De fato, já se fala em impacto no trigo”, adverte o analista do IBGE, Antônio Braz. 

 

Endividamento é alto

 

Brasília – O comprometimento da renda dos brasileiros com o pagamento de dívidas continua alto. Pelo menos 48,5% dos consumidores do país têm débitos que comprometem de 11% a 50% da renda, segundo a Sondagem de Expectativas do Consumidor, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada ontem. Em Belo Horizonte, quinta no ranking das capitais, 19,8% dos consumidores estão endividados. Salvador é a cidade com maior percentual de população com dívidas (27,3%), seguida de Brasília, com 23,5%.

Para a coordenadora do estudo, a economista Viviane Seda, os números refletem a farta oferta de crédito destinada principalmente aos servidores de maior renda do funcionalismo, que têm à disposição menores taxas no consignado e no crédito pessoal, em razão da estabilidade no cargo. “Essa maior facilidade de crédito para as rendas mais altas é algo que motiva os consumidores a se endividarem mais”, explicou a economista, que pondera. Entre os que recebem até R$ 2.100, 38,7% têm gastos que ocupam esta parcela da renda (de 11% a 50%). Entre os que ganham mais de R$ 9.600,01, o prrcentual pula para 56%.

Vendas Com o endividamento dos brasileiros, as promoções já não seduzem como antes. Descontos de até 80% do preço são exibidos em cartazes chamativos. O público, no entanto, assiste, impassível, apesar do incentivo do governo para ir às compras e movimentar o mercado interno. Depois da farra do crédito desmedido, uma parcela significativa da população aproveita a queda dos juros para botar a vida financeira em dia. Não é à toa que a inadimplência caiu 0,27% em junho, na comparação com o mesmo mês de 2011, e 9,44% em relação a maio de 2012. Em contrapartida, as vendas diminuíram 2,8% sobre o resultado de junho de 2011 e ainda mais, 5,26%, se for levado em conta o indicador do mês anterior.

Para o consultor da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) Nelson Barrizzelli, o resultado das vendas de junho veio em linha com o de outros indicadores. “No geral, os segmentos estão com resultados inferiores ao do ano passado. Não vi nenhum que mostrou crescimento em relação ao ano anterior”, comentou, ao divulgar o Indicador de Vendas e Inadimplência, elaborado pela CNDL e o SPC Brasil. (Com Mariana Mainenti)

 

 


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