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Estado de Minas NERVOS EXPOSTOS

Operações contra riscos no país passam de 600 bilhões de euros

Absurdo derivado da crise global


postado em 09/06/2012 07:34

Anteontem, num evento político no Rio de Janeiro, o ex-presidente Lula criticou os países ricos por excluírem o Brasil das decisões sobre a crise global. “Mesmo quando a gente conquista o direito de participar do baile eles não nos convidam”, repreendeu. É verdade.

Mas há exceções. Por motivos opostos aos apresentados por Lula, o Brasil está numa lista em que só há países pesos-pesados na crise. Ocupa as primeiras posições, abaixo de França, Itália e Alemanha, e acima de Espanha, Inglaterra, Japão e China. Os EUA estão muito atrás, na 15ª posição, neste ranking de 24 países especialíssimos.

Em todos eles, o capital internacional, seja financeiro, que vai e vem, ou o investimento direto, que assenta raízes, ocupa posição de destaque na economia. Suas moedas também são ativas no circuito do mercado cambial. Por tais razões, os investidores nestes ativos soberanos buscam algum tipo de seguro em momentos de volatilidade, como o atual, especialmente contra o risco de perdas cambiais.

O instrumento que conforta tais anseios é um titulo de emissão de bancos e seguradoras chamado de CDS, de credit default swap, usado também, pelas suas características, como medida de risco soberano.

O dado surpreendente, pois pouco noticiado no Brasil ou tratado nos informes sobre a economia, é que o volume de CDS referentes a operações com ativos brasileiros, com movimentação diária de pouco mais de 600 bilhões de euros, seja o terceiro ou o quarto maior do mundo. E na companhia de países, como Itália (com quase 1 trilhão de euros) e França (perto de 800 bilhões), que estão no olho do furacão da grande crise que dilacera as entranhas da Europa.

Os dados são do Depository Trust & Clearing Corporation (DTCC), uma empresa de clearing, custódia e serviços de informações para empresas financeiras associada à Thomson Reuters. Ela monitora no mundo, segundo seu perfil, operações que somam US$ 36,5 trilhões.

O que significam tais números? Para o Sober Look, um serviço de informações financeiras, “não é surpresa Itália e Espanha estarem no top 5” da lista, “mas parece que a França também é preocupação para os participantes do mercado” de CDS, o que atribui à recente eleição do governo socialista de François Hollande. Mas o que faz o Brasil nessa lista? E na companhia de países tão distintos? Não é pelas razões reclamadas por Lula. Mas por desconfiança.

Histerismo infundado

Na avaliação do Sober Look, fonte dos dados do DTCC, “parece que a desaceleração [econômica] do Brasil e as saídas de capital estão provocando uma animada atividade e uma grande exposição líquida de CDS do país”. Traduzindo: aumentou a percepção de risco sobre os negócios no Brasil e em reais. E tanto quanto o risco de economias chaves da encrencada Zona do Euro. Trata-se de um enorme exagero.

Absurdos são regra e não exceção no mercado de derivativos, caso do CDS, uma forma de proteger a aplicação de riscos cambiais, por exemplo, durante o prazo da operação. Mas, por ser negociado como um ativo qualquer, se sujeita aos mesmos movimentos especulativos que por princípio, sendo um contrato de seguro, deveria evitar.

Riscos da dependência

Das distorções dos CDS e de outros derivativos os bancos centrais dos EUA e da Europa, sobretudo, estão cuidando. Sem regras, não há o que fazer contra eles, até porque negociados no exterior em boa parte, a não ser conviver com a realidade que o mercado financeiro informa por meio das taxas e dos volumes transacionados de CDS.

A percepção sobre o Brasil é ruim e não deve melhorar, já que até a China resolveu de surpresa reduzir os juros em empréstimos de um ano, para 6,31%, primeiro corte desde novembro de 2008, num sinal claro de que se ressente da crise global. Para o Brasil, que desde 2007 acumula déficits nas contas externas e é altamente dependente das exportações para a China, nada disso é bom augúrio.

Mais seca que tsunami

O panorama externo ruim, a desaceleração da economia doméstica e a pressão externa na direção de maior desvalorização do real não parecem bem captadas na ata do Copom divulgada pelo Banco Central, embora o tom frio de suas mensagens deixe margem para medidas mais intensas. Vai surgindo espaço para cortes maiores da Selic, ainda em 8,5%, já que o cenário global é visivelmente deflacionário e o interno mostra a demanda contida, mas talvez haja algo a fazer no campo externo. Ao contrário do que o governo imaginou ao trancar a entrada do hot money, desenha-se um quadro de seca, não de tsunami do capital externo, hoje a maior incerteza a ameaçar a economia.


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