Quando Mark Zuckerberg tocou o sino para abrir as negociações dos 421 milhões de ações do Facebook na Nasdaq, na manhã de ontem, mal podia imaginar que a estreia não seria exatamente como imaginou. Isso porque a média das estimativas de analistas como os da corretora Morningstar, que apontavam para o preço de fechamento das ações em US$ 50 ontem, não se concretizou nem de longe. Ofertados por US$ 38 inicialmente, os papéis tiveram alta rápida de 13,16%, chegando a US$41,71, mas logo começaram a cair, retomando o valor inicial. Em seguida, voltaram a subir, mas oscilaram negativamente até encerrar o dia a US$ 38,23, alta de apenas 0,61% na estreia do maior IPO da internet.
Na véspera da abertura, a expectativa da maioria dos analistas era de ganhos emntre 10% e 20%, mas os mais otimistas apostavam em até 50% de alta, diante do interesse dos investidores e da mídia ao longo da semana. O valor de mercado da companhia chegou a US$ 104,63 bilhões com a pequena valorização de ontem – superior ao de Starbucks e Hewlett-Packard (HP) juntas. Com as ações estreando a US$ 38, a empresa levantou US$ 16 bilhões no IPO.
Os especialistas lembram ainda que o investidor do Facebook precisa se adaptar a um modelo de negócio que depende, essencialmente, de anunciantes para lucrar, o que pode ter atrapalhado a festa ontem. Parece que o fato de a rede social ainda não ter encontrado a fórmula para converter em dinheiro seus milhões de usuários incomoda o mercado.
O fato de a GM ter anunciado que deixou de anunciar na rede na mesma semana em que o Facebook abriu seu capital, também impulsionou a percepção negativa da empresa e colocou em cheque sua capacidade de geração de receita. “O Facebook é diferente do Yahoo, Amazon ou Google, que têm outras plataformas. Hoje, 25% do faturamento é viabilizado pelos jogos, o resto é receita de marketing, que não está se revertendo em resultado para os anunciantes”, comenta o economista e sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud, que reforça ainda que de quase 1 bilhão de usuários, 150 milhões acessam os anúncios.
Os especialistas lembram ainda que apenas os investidores de longo prazo que optaram pelo Facebook terão bom retorno. “Uma pessoa que comprar uma ação por US$38 hoje deve demorar 110 anos para recuperar seu investimento. Isso porque a expectativa de crescimento do lucro líquido do Facebook, dado ao seu modelo de negócio, é lenta”, explica Dauod. O economista garante também que, por se tratar de uma empresa de tecnologia, a tendência é mesmo de crescimento, o que vai acontecer a partir do momento em que as expectativas de futuro estiverem melhores e os investidores voltarem a apostar nesse segmento.
Quem vende
quer comprar
Parece que o Facebook não se distraiu ontem, mesmo em um dos dias mais agitados de sua história, com a oferta das ações da companhia. A maior rede social do mundo aproveitou o dia e comprou uma empresa também. O nome do negócio adquirido é Karma, empresa cujo negócio é entregar presentes virtuais no celular. Funciona assim: uma pessoa pode usar o celular para presentear alguém que receberá o mimo virtual também no telefone. Em seu site, a companhia garante que o processo é instantâneo e pode ser feito de qualquer lugar, a qualquer hora. A notícia da compra foi divulgada no blog da Karma no meio da tarde ontem sob a seguinte frase: “Saiba por que o ‘social gifting’ está prestes a se tornar ainda mais social”. O objetivo da empresa, segundo ela própria, é imprimir sentimento e significado ao ato de presentear virtualmente.