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Estado de Minas

Peças sacras são maioria no portfólio dos artesãos de Minas

Protetor dos animais é o preferido dos devotos


postado em 29/01/2012 07:34


A crença teimosa do brasileiro em tudo que expressa o divino se transforma numa equação de lucros para o valorizado artesanato brasileiro. Em Minas Gerais, onde o apelo é ainda maior, ancorado na religiosidade e na cultura das festas sacras do interior, pelo menos 20 a cada 100 artesãos vivem da produção de peças inspiradas nos santos mais populares da Igreja Católica, responsáveis por até dois terços do faturamento do negócio, dependendo do ateliê. Da frágil estatística existente sobre a atividade, o que se sabe é que cerca de 500 mil pessoas vivem do trabalho artesanal do Norte ao Sul de Minas, passando pela Região Central, uma das mais expressivas em diversidade de material usado nas oficinas, da argila ao papel maché, pedra-sabão e fibras vegetais.

Imbatível nessa espécie de santo negócio do artesanato mineiro, São Francisco de Assis, o protetor dos animais que trocou a vida de milionário pela pregação, lidera o ranking das imagens mais reproduzidas, conforme levantamento feito pelo Instituto Centro Cape, braço do Mãos de Minas, maior central de cooperativas de artesãos do estado (veja quadro).

Os trabalhos inspirados na vida e obra dos santos que representam a comissão de frente das vendas de muitos dos artesãos mineiros, que não perde força nem mesmo em momentos de crise na economia como a atual, têm demanda crescente junto ao consumidor, segundo Tânia Machado, presidente do Instituto Centro Cape. De toda a produção acompanhada pelo instituto no país, inclusive nas exportações, no mínimo 20% dos artesãos usam imagens sacras e vão além dos santos, agregando os estandartes com motivos religiosos e uma vedete um pouco mais recente que mostra a pomba branca, retrato do Divino Espírito Santo.

Conhecido pelo estilo barroco dos santos que molda em argila, o artesão Jorge Antônio da Cruz, de Raposos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nem imaginaria o negócio sem a forte participação do sagrado. Ele retrata São Francisco em 70% das peças entregues aos clientes brasileiros e estrangeiros. Os preços para venda ao consumidor variam de R$ 50 a R$ 170, dependendo do tamanho e dos detalhes das peças sempre exclusivas.

“Quem mais compra esses trabalhos são as pessoas esclarecidas e os devotos”, diz Jorge da Cruz. O sucesso das vendas, para o artesão, está ligado principalmente ao ar de vida terrena que ele dá às imagens. O São Francisco leva a marca do trabalho do artesão nos cabelos encaracolados, e surge cercado não dos tradicionais passarinhos, mas de exemplares da fauna brasileira, como araras, tucanos e jaguatiricas., “Eu gosto do jeito brasileiro e muita gente diz que os meus santos estão sempre rindo”, afirma.

Calendário religioso estimula produção

O rentável artesanato religioso se alimenta e segue de perto o calendário das festas religiosas em Minas, que ocupam quase todo o ano, observa o superintendente de artesanato da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Thiago Tomaz. “Minas é certamente um dos estados mais sacros do Brasil e de vocação religiosa que se perpetua. Muitos artesãos vivem exclusivamente desse trabalho sacro”, afirma. Parte da importância do segmento para a arte popular em Minas é retratada no Catálogo de artesanato – Minas Gerais 2010/2011, editado pelo Sebrae Minas e o governo estadual, para orientar compradores do Brasil e estrangeiros.

Em todas as regiões do estado há trabalhos ligados à religiosidade e ao sacro, em especial, parte deles tendo como referência os mestres santeiros da atividade, lembra Sabrina Campos Albuquerque, analista do Sebrae que coordena a assistência aos artesãos. São peças em argila, madeira, papel maché, pedra-sabão, fibras vegetais e tecido criadas em Belo Horizonte, Raposos e Betim, na região metropolitana da capital; em Lagoa Dourada, São João del-Rei, Ouro Preto e Mariana, na Região Central do estado; Patos de Minas, no Alto Paranaíba, e Pedralva e Maria da Fé, no Sul de Minas, entre outros municípios.

Para a artesã Stela Lodi, que há sete anos vive da atividade em Lagoa Santa, na Grande BH, os santos moldados em cabaças respondem por cerca de 60% do negócio. Os preços vão de R$ 20 a R$ 55 e as peças já foram exportadas para Portugal e Espanha. Evangélica, Stela não esconde a admiração por São Francisco de Assis. “Cada cliente tem um jeito próprio de interpretar o santo, que é admirado pela sua simpatia”, afirma.


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