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Estado de Minas

Iogurte com cara de chupe-chupe ganha espaço na Grande BH

Vendedores do produto no saquinho descobrem novo nicho. Sabores estão caindo no gosto dos clientes


postado em 13/09/2011 06:00 / atualizado em 13/09/2011 08:17

Maria Magali e parte de sua equipe: o que parecia uma fórmula mágica se transformou em boa oportunidade(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Maria Magali e parte de sua equipe: o que parecia uma fórmula mágica se transformou em boa oportunidade (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)


Parecia mais uma furada. Andando pelas ruas do bairro, a aposentada Maria Magali das Dores foi abordada por um desconhecido que lhe apresentou a fórmula mágica de ganhar dinheiro sem precisar investir alto: vender chupe-chupe. À primeira vista, o sonho parecia bem longe da realidade, mas, como procurava uma ocupação para a monótona vida de dona de casa, topou o desafio: “Gostei do produto, o preço era bom e fácil de ser aceito no mercado”. Em menos de um mês, ela comprovou o que o estranho lhe disse. A venda do Icegurt – um saquinho de iogurte congelado oferecido em sete sabores – é febre em bairros de classes C, D e E. Há apenas quatro meses em Minas, o produto dominou o mercado da Região Metropolitana de Belo Horizonte. A previsão é que sejam criados 100 pontos de revenda do produto fabricado em São Paulo e no Paraná, só na capital mineira e cidades do entorno.

Para abrir o negócio, Maria Magali investiu R$ 4 mil em mercadorias e outros R$ 2 mil para reformar o quintal de casa, no Bairro Mantiqueira, em Venda Nova. O restante – freezers e uniformes – a empresa responsável pela marca Icegurt forneceu. A partir daí, bastou movimentar os conhecidos do bairro para o investimento ser recuperado. O pequeno negócio foi inaugurado em 17 de julho. Em 30 dias a nova empresária do ramo arrecadou mais de R$ 15 mil, vendendo 350 mil unidades do produto. A cada Icegurt ela recebe R$ 0,043. “Mas é preciso descontar o café, o suco e o pão que a gente fornece para os meninos (vendedores) e também a limpeza dos uniformes”, reitera Magali. O outro gasto também é com a conta de luz, mas ainda assim o investimento é baixo.

Em pouco mais de um mês, são 54 “funcionários” – nenhum deles tem vínculo empregatício –, divididos em dois turnos, andando pelas ruas dos bairros próximos empurrando o carrinho com o produto. “Quem compra uma vez não para”, afirma Magali.

Mas não é só a investidora quem fatura alto com o iogurte congelado no saquinho. Patrick Jorge, de 16 anos, vendia churrasquinho na porta de uma padaria para ajudar nos ganhos de casa. Ele recebia R$ 5 por dia, totalizando menos da metade de um salário mínimo a cada mês. Mas, há cerca de 30 dias ele passou a vender o Icegurt e sua renda mensal já é quase igual ao que recebia por um ano de trabalho. Vendendo mais de 600 chup-chups de iogurte por dia, ele lucra R$ 65. São R$ 0,10 por unidade mais R$ 5 de bônus para ajudar no lanche. Além disso, se trabalhar 20 dias num mês, recebe uma cesta-básica. “É a melhor coisa que aconteceu na minha vida”, afirma o jovem, que trabalha de meio-dia às 18h, depois que sai da escola. Com o dinheiro, ele ajuda a mãe a pagar as contas de luz e água e as parcelas do IPTU e ainda sobra dinheiro para comprar tênis e roupa.

Mudança repentina também ocorreu com a auxiliar de serviços gerais, Maria Aparecida Santos, de 53. Desempregada por cinco meses, ela acompanhou o sucesso de vendas do produto já no primeiro mês e decidiu inscrever-se para vender Icegurt numa tentativa de ganhar uns trocados para pagar as contas atrasadas. Em apenas 15 dias de trabalho, ela deixou de procurar emprego. Até março, ela ganhava um salário mínimo (R$ 545), mas os descontos baixavam a receita para aproximadamente R$ 450. Com os saquinhos de sacolé, geladinho ou qualquer uma das inúmeras variações dadas ao iogurte ou sorvete no saquinho, ela fatura de R$ 40 a R$ 50 por dia – o antigo salário foi triplicado. “O que sai mais é o de morango”, atesta a vendedora, que, de uniforme, fica trançando entre o comércio na Avenida Vilarinho e a Estação BHBus de Venda Nova.

Periferia na mira

Cidades da Região Metropolitana de BH estão no centro da mira da Icegurt. O produto já é vendido em Vespasiano, Sarzedo, Contagem e Betim, onde duas franquias garantem que os saquinhos de iogurte sejam facilmente encontrados no município. Uma está localizada na Região Central e a outra no Bairro Teresópolis, onde há cerca de 30 mil consumidores em potencial. Nas ruas, o produto já caiu nas graças do público que, na maioria dos casos, opta por ele devido ao preço acessível. “Todo mundo tem R$0,50 no bolso e nunca dá para deixar de comprar”, diz o balconista Reubiney Gaia, de 17 anos. Para a contadora Maria Inês Ângelo, de 57, consumidora assídua dos iogurtes, o segmento deve investir na diversificação dos produtos com uma linha light. “Sempre tenho os iogurtes no trabalho e em casa e consumo todos os dias porque é realmente um produto diferenciado”, conta.

Segundo a proprietária da loja Icegurt do Centro de Betim, Jaminy Lara, de 26 anos, o sucesso do iogurte no saquinho está atribuído a diversas estratégias administrativas, de distribuição e comercialização adotadas pela empresa. A empresária também destaca as facilidades que obteve ao abrir o seu negócio. Ela precisou fazer uma compra inicial de R$ 4 mil e investir no aluguel de um espaço e nas instalações elétricas. Hoje, um mês depois da inauguração da loja, ela comemora a venda de 7 mil unidades por dia. Cerca de 25 vendedores são responsáveis pela revenda. Cada um vende, em média, 250 unidades diariamente.

Além do acompanhamento e apoio às atividades administrativas, para garantir o lucro dos franqueados, a Icegurt faz um tipo de mapeamento para que todos os lojistas consigam vender sem enfrentar concorrência. De acordo com Jaminy, que deixou a área de psicologia para atuar no setor alimentício, a loja de Betim foi a primeira negociada para Minas Gerais, mas junto com ela outras quatro unidades foram inauguradas em Belo Horizonte e uma em Contagem. “É tudo muito novo e agora, com um mês de funcionamento, as pessoas estão vendo que é uma empresa que dá lucro. Mas é importante saber que sem dedicação este é um negócio que não vai para frente”, destaca. (PRF e CM)

Memória / A onda da laranjinha


Na segunda metade da década de 1990, tal como hoje fazem os carrinhos do iogurte congelado, eram laranjas gigantes que dominavam o cenário nas periferias e sinais de trânsito. Redondos e alaranjados – à imitação da fruta –, os carrinhos dos ambulantes já anunciavam de longe o produto que mantinham gelado em seu interior. Refresco de laranja se vendia, literalmente, como água. Rapidamente, as laranjinhas se espalharam pelos bairros e corredores de trânsito de toda a Grande BH. O produto, no entanto, tinha várias origens. Diante da excelente aceitação, fabriquetas de refresco se multiplicaram tão rápido quanto as laranjinhas de rodas. A fiscalização não conseguia cobrir todas as instalações e chegava com frequência a estabelecimentos onde a preparação do produto não cumpria as mínimas exigências sanitárias. O poder público foi implacável e proibiu a venda do refresco por ambulantes, deixando os cruzamentos da Região Metropolitana menos coloridos e mais saudáveis. Agora, o iogurte congelado – fabricado fora do estado – veio perpetrar a vingança da laranjinha, condenada pelo desleixo de seus produtores.


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