IA generativa está mudando o mercado de trabalho no Brasil
Saiba como profissionais estão usando e sentindo medo de ferramentas como ChatGPT e outras plataformas de inteligência artificial
compartilhe
Siga noFerramentas como ChatGPT, Gemini e Copilot deixaram de ser apenas curiosidades tecnológicas e se tornaram parte do dia a dia de milhares de profissionais brasileiros. Em escritórios, agências e departamentos administrativos, a inteligência artificial generativa está sendo usada para acelerar tarefas, produzir conteúdo, revisar textos, gerar códigos e até criar apresentações.
Essa transformação silenciosa começa a redesenhar as exigências do mercado de trabalho e a influenciar o comportamento de trabalhadores de diversas áreas.
Mas junto com o entusiasmo pela produtividade, vem o receio. A mesma tecnologia que ajuda a entregar tarefas em menos tempo também é percebida como ameaça para milhares de pessoas, especialmente aquelas que atuam em funções repetitivas ou criativas. A ascensão da IA generativa no Brasil provoca um paradoxo cada vez mais evidente: ela empodera o profissional, ao mesmo tempo que o coloca em alerta.
Leia também:
O impacto direto nas rotinas de trabalho
Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral, realizada com profissionais de diversos setores, aponta que 73% dos entrevistados já utilizam ferramentas de IA generativa no trabalho. Os usos mais comuns são na redação de e-mails, organização de agendas, preparação de relatórios, apoio em apresentações e geração de ideias. Além disso, muitos gestores afirmam que o uso da IA reduziu em até 40% o tempo médio para finalização de algumas tarefas operacionais.
Esse ganho de eficiência tem sido comemorado por empresas que enfrentam pressão constante por agilidade. A IA permite que profissionais se concentrem em decisões estratégicas, enquanto delegam tarefas mecânicas a sistemas treinados para isso. Contudo, essa mesma eficiência acende um alerta entre trabalhadores que temem que seus cargos sejam substituídos por algoritmos.
As áreas mais afetadas pela Gen-AI
O avanço da IA generativa não afeta todos os setores de maneira igual. Algumas áreas estão na linha de frente dessa transformação. Entre as mais impactadas:
-
Marketing e publicidade: criação de textos publicitários, slogans e campanhas com apoio de IA;
-
Design e audiovisual: geração de imagens e vídeos por meio de IA está mudando o trabalho de designers gráficos e editores;
-
Programação e TI: assistentes de código como o GitHub Copilot automatizam partes significativas do desenvolvimento de software;
-
Serviços administrativos: tarefas como elaboração de relatórios, criação de planilhas e escrita de e-mails estão sendo delegadas a sistemas de IA.
Em todos esses casos, a produtividade aumenta, mas a presença humana passa a ser exigida mais como supervisora e curadora do que como executora de ponta a ponta.
A percepção dos profissionais brasileiros
O estudo da Fundação Dom Cabral também revelou um dado relevante: 59% dos profissionais têm medo de perder seus empregos nos próximos cinco anos devido ao avanço da IA. Entre os mais preocupados estão os jovens recém-formados, que ainda buscam espaço no mercado, e os trabalhadores de meia-idade, com funções mais operacionais.
O medo, no entanto, não é unânime. Cerca de 30% dos entrevistados se sentem entusiasmados com a possibilidade de trabalhar lado a lado com a IA, desde que recebam treinamento adequado. A maioria acredita que a inteligência artificial pode ser uma aliada, desde que seu uso seja transparente, ético e equilibrado.
Esse sentimento misto de esperança e receio tem moldado o comportamento das equipes. Em vez de resistir à tecnologia, muitos estão buscando aprender a usá-la. Cursos de prompt engineering, ética em IA e produtividade com inteligência artificial estão entre os mais procurados por quem deseja se manter relevante no mercado.

As novas habilidades mais valorizadas
Com a entrada definitiva da IA nas rotinas profissionais, algumas habilidades passam a ser mais valorizadas pelas empresas. Entre elas:
-
Pensamento crítico: para avaliar as respostas da IA e evitar erros ou vieses;
-
Criatividade: a IA é boa em combinar o que já existe, mas a criação de algo genuinamente novo ainda é humana;
-
Comunicação clara: para saber dialogar com sistemas baseados em texto e transformar comandos em resultados;
-
Conhecimento técnico: mesmo quem não é da área de tecnologia precisa entender o básico sobre funcionamento, limitações e riscos da IA;
-
Gestão de tempo e prioridades: com mais tarefas automatizadas, sobra tempo e saber o que fazer com ele é essencial.
A era da IA exige mais do que aprender a usar ferramentas: exige uma reinvenção do papel humano nas cadeias produtivas.
O desafio da desigualdade digital
Se para alguns a IA é uma aliada, para outros ela representa um novo obstáculo. Profissionais que não têm acesso a dispositivos atualizados, internet rápida ou formação continuada correm o risco de ficar para trás. Isso escancara um problema antigo do mercado de trabalho brasileiro: a desigualdade de oportunidades.
Muitos trabalhadores, especialmente em regiões afastadas dos grandes centros urbanos, ainda não tiveram contato com ferramentas de IA. E mesmo entre os que têm acesso, há uma lacuna no entendimento sobre como usá-las com eficiência e segurança. Esse abismo tende a se aprofundar se empresas e governos não investirem em capacitação digital acessível.
A IA pode acelerar o crescimento da economia, mas também pode ampliar as distâncias sociais se o acesso ao seu uso for restrito a uma parcela privilegiada da população. Inclusão digital e capacitação em novas tecnologias devem ser encaradas como prioridade para garantir um mercado de trabalho mais justo e competitivo.
O papel das empresas diante da transformação
Diante desse cenário, empresas que querem manter a competitividade precisam repensar seus modelos de trabalho. Adotar a IA sem preparar suas equipes é uma estratégia de curto prazo com alto risco de insatisfação e rotatividade. As organizações que se destacam são aquelas que combinam inovação com investimento em pessoas.
Algumas companhias brasileiras já estão criando programas internos de capacitação em IA, organizando semanas temáticas, workshops práticos e até programas de incentivo ao uso de ferramentas generativas. O objetivo não é substituir o profissional, mas ampliá-lo, permitindo que ele atue com mais foco, criatividade e estratégia.
Outro ponto importante é o cuidado com a ética. A implantação da IA nos fluxos de trabalho deve seguir normas claras de transparência, respeito à privacidade e controle de viés algorítmico. Um uso responsável da tecnologia começa com políticas bem definidas e monitoramento constante.
A inteligência artificial generativa não é apenas uma inovação tecnológica. É um divisor de águas para o mundo do trabalho. Cabe às empresas, governos e trabalhadores decidirem se esse avanço será um motor de inclusão ou de exclusão.
O futuro do trabalho no Brasil já está sendo moldado por linhas de código e aprendizado de máquina. O desafio agora é garantir que ninguém fique para trás nessa revolução.