SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As altas temperaturas do verão podem agravar um dos sintomas mais conhecidos da menopausa: os fogachos, ondas súbitas de calor acompanhadas de suor intenso e mal-estar. Segundo especialistas, o fenômeno não é uma percepção individual e está relacionado a questões hormonais. A combinação entre o calor externo e a queda do estrogênio, hormônio que participa do controle da temperatura corporal, torna o organismo ainda mais vulnerável a esses episódios.
"O sistema de termorregulação já está mais sensível por causa da diminuição do estrogênio. Quando a temperatura ambiente sobe, o cérebro interpreta esse estímulo como excesso de calor e responde com vasodilatação intensa e suor", afirma a ginecologista Beatriz Tupinambá, especialista em menopausa. O resultado, diz ela, é o aumento do desconforto em um corpo que já está desregulado pelo climatério e pela menopausa.
A endocrinologista Karen de Marca, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), detalha o mecanismo. Com a queda hormonal, ocorre uma hiperestimulação do centro termorregulador localizado no hipotálamo, deixando as mulheres mais sensíveis para a sensação de calor. "É como se a mulher sentisse calor mais facilmente. No verão, quando todos já estão mais aquecidos, essa tolerância diminui ainda mais", afirma.
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Os fogachos, no entanto, não vêm sozinhos. Esse aumento da temperatura corporal afeta o sono, o humor e a disposição ao longo do dia. "As alterações de temperatura durante a noite fragmentam o sono, que deixa de ser reparador. A mulher acorda mais cansada, o que aumenta a irritabilidade, prejudica a memória e reduz a energia", diz Tupinambá.
Mulheres com obesidade tendem a sentir mais fortemente os efeitos, afirmam as médicas. O tecido adiposo (gordura) funciona como isolante térmico e está associado a processos inflamatórios que reduzem a ação hormonal, acrescenta Tupinambá. Sedentarismo, baixa ingestão de água, dieta rica em alimentos ultraprocessados, consumo de álcool e tabagismo também contribuem para a intensificação dos sintomas.
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O calor intenso também pode aumentar o risco de desidratação, tontura e queda de pressão, sobretudo em mulheres com doenças crônicas. Para as especialistas, é fundamental procurar ajuda médica sempre que os fogachos forem frequentes, intensos ou passarem a interferir no sono, no trabalho e nas atividades diárias. "Fogacho não é apenas calor. Ele envolve alterações metabólicas e precisa ser tratado. Nenhuma mulher precisa sofrer na menopausa", afirma Beatriz Tupinambá.
Dicas para evitar maior desconforto com fogachos no verão:
- Hidratação reforçada: ingerir entre 2 e 3 litros de água por dia ajuda a compensar a perda de líquidos provocada pelo suor excessivo durante os fogachos;
- Roupas leves e respiráveis: o ideal é priorizar tecidos naturais e claros, que facilitam a troca de calor e reduzem o desconforto térmico;
- Ambientes ventilados ou climatizados: manter quarto e local de trabalho mais frescos, especialmente à noite, contribui para um sono mais reparador;
- Controle da alimentação: evite álcool, café, chocolate e comidas apimentadas, muito condimentadas ou ultraprocessadas, que aumentam a vasodilatação e podem deflagrar fogachos;
- Dieta anti-inflamatória: dê preferência a alimentos naturais e antioxidantes, proteínas de boa qualidade, frutas, legumes e fontes de magnésio;
- Atividade física regular: praticar exercícios ajuda no controle dos sintomas, com atenção à intensidade -atividades moderadas tendem a ser mais bem toleradas no calor;
- Sono como prioridade: manter horários regulares e ambiente fresco e evitar estímulos antes de dormir ajudam a reduzir a fragmentação do sono;
- Redução do estresse: práticas como ioga e meditação, bem como técnicas de relaxamento, auxiliam no equilíbrio hormonal e emocional;
- Acompanhamento médico: ajustes na terapia hormonal ou não hormonal devem ser feitos apenas quando os sintomas comprometem a qualidade de vida, sempre com orientação profissional.
