Com a chegada do fim do ano, é comum que sentimentos de balanço e reflexão se intensifiquem. No entanto, esse período também traz um efeito colateral silencioso: o aumento da comparação social, impulsionado pelas redes sociais. Viagens perfeitas, corpos idealizados, conquistas profissionais e famílias aparentemente sempre felizes passam a dominar os feeds, alimentando a sensação de inadequação em quem observa essas imagens do outro lado da tela.
Segundo a juíza federal e especialista em gestão emocional e carreiras, Alessandra Belfort, esse fenômeno se repete todos os anos e tende a se intensificar no mês de dezembro. “O fim do ano ativa um senso coletivo de prestação de contas. As pessoas passam a comparar o que viveram, conquistaram ou deixaram de conquistar com recortes idealizados da vida alheia, o que gera frustração e autocrítica excessiva”, explica.
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Redes sociais e o cérebro: por que a comparação dói tanto?
Do ponto de vista neuroemocional, a comparação constante não é inofensiva. O cérebro interpreta esse processo como uma ameaça à autoestima e ao senso de pertencimento. “Quando nos comparamos de forma negativa, ativamos áreas cerebrais relacionadas ao estresse, como a amígdala, aumentando a liberação de cortisol. Isso pode gerar ansiedade, tristeza e até sintomas físicos, como fadiga e irritabilidade”, afirma Alessandra.
Além disso, as redes sociais estimulam o sistema de recompensa do cérebro. Curtidas, comentários e visualizações ativam a dopamina, criando um ciclo de validação externa. “O problema é que, quando essa validação não vem, ou quando vemos o outro aparentemente mais bem-sucedido, o efeito é inverso: surge a sensação de fracasso e desvalorização pessoal”, completa a especialista.
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A ilusão da vida perfeita nas redes
Outro ponto de alerta é a falsa ideia de completude transmitida nas plataformas digitais. Fotos e vídeos raramente mostram os bastidores, as dificuldades ou os processos reais por trás das conquistas. “Comparar o seu dia a dia real com o melhor momento editado do outro é uma comparação injusta e emocionalmente perigosa”, ressalta Alessandra Belfort.
Esse tipo de comparação pode afetar a sensação de felicidade impactar decisões profissionais, relações pessoais e até a forma como a pessoa enxerga a própria trajetória. “Muitas pessoas entram no novo ano acreditando que estão atrasadas na vida, quando, na verdade, estão apenas em um ritmo diferente”, observa.
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Como fugir da comparação e preservar a saúde emocional
Para atravessar o fim do ano com mais equilíbrio emocional, a especialista sugere algumas estratégias práticas:
- Curadoria digital consciente: reduzir o tempo de exposição às redes sociais ou silenciar perfis que despertam comparação negativa
- Troca de foco: substituir o hábito de se comparar pelo exercício da autoavaliação realista, observando o próprio crescimento
- Prática de gratidão concreta: listar conquistas pessoais, mesmo as pequenas, ajuda o cérebro a reconhecer progresso e segurança
- Metas internas, não performáticas: estabelecer objetivos alinhados aos próprios valores, e não à aprovação externa
“Respeitar o próprio tempo é um ato de maturidade emocional. Cada pessoa tem contextos, desafios e oportunidades diferentes, e isso precisa ser levado em conta”, reforça a especialista.
Um novo olhar para o fechamento do ano
Em vez de encarar o fim do ano como uma linha de chegada, Alessandra propõe um olhar mais compassivo sobre a própria trajetória. “A vida não funciona em ciclos fechados de 12 meses. O desenvolvimento humano é contínuo. Quando entendemos isso, diminuímos a comparação e fortalecemos a autoestima”, conclui.
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Em um período marcado por excessos, inclusive de informação e exposição, escolher desacelerar, olhar para dentro e respeitar o próprio ritmo pode ser uma das decisões mais saudáveis para encerrar o ano e iniciar o próximo com mais equilíbrio emocional.
