SAÚDE MENTAL

Depressão e ansiedade em crianças e jovens exigem atenção de pais e escola

Especialista alerta para sinais precoces e reforça a importância do apoio familiar e da intervenção profissional

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Nos últimos anos, a saúde mental de crianças e adolescentes tem se tornado um tema cada vez mais presente nas conversas entre famílias, escolas e profissionais de saúde. A pressão por desempenho escolar, o impacto das redes sociais, situações de violência e mudanças próprias dessa fase da vida podem contribuir para o surgimento de transtornos emocionais. Entre os mais comuns, estão a depressão e a ansiedade, que muitas vezes passam despercebidas ou são confundidas com fases da adolescência.

Identificar os sinais de alerta e buscar ajuda no momento certo pode fazer toda a diferença no processo de recuperação. Segundo a médica psiquiatra da infância e adolescência Jaqueline Bifano, os sinais variam conforme a idade e a forma como cada jovem expressa suas emoções.

“Na depressão, observamos tristeza persistente, irritabilidade, desânimo, queda no rendimento escolar, perda de interesse em atividades antes prazerosas, alterações no sono e no apetite, além de queixas físicas frequentes, como dores de cabeça e de estômago. Já na ansiedade, os sintomas incluem preocupação excessiva, medos desproporcionais, dificuldade de concentração, inquietação, insônia e sintomas físicos como palpitações e sudorese. Muitas vezes, o que aparece primeiro não são palavras de sofrimento, mas mudanças no comportamento”, explica.

A dificuldade, segundo a especialista, está em diferenciar os limites entre as oscilações normais da adolescência e os sinais de um transtorno. “O que diferencia as mudanças normativas de um possível transtorno é a intensidade, a persistência e o impacto na vida do jovem. Se a tristeza, a irritabilidade ou a ansiedade ultrapassam semanas, prejudicam a rotina escolar, a convivência familiar ou social e geram sofrimento evidente, é um sinal de alerta”, destaca Jaqueline.

O olhar da família

A psicopedagoga Iraci Luísa do Carmo Fonseca, de 56 anos, viveu essa experiência ao perceber mudanças significativas no comportamento da filha, Thaís Senra Sade Fonseca, hoje com 18 anos. “Os principais sintomas que percebi foram tristeza, choro, pensamentos negativos, desânimo, irritabilidade, além de ficar muito quieta, deitada e angustiada. Ela sempre gostou de estudar, mas estava desmotivada e dizia não estar vendo sentido na vida”, conta.

Ao buscar ajuda, Iraci encontrou resistência dentro do próprio círculo familiar. “A maior dificuldade foi o meio familiar mais amplo, para além de mim e do meu marido, pois muitos achavam que isso iria passar, que era só uma fase da adolescência. Quando ouvimos isso, duvidamos das nossas percepções e até mesmo da nossa intuição, o que pode prejudicar a busca por auxílio e o tratamento”, relata.

A mãe destaca que o apoio da escola e de amigos próximos foi fundamental para enfrentar o período mais delicado. “Conversei com a coordenadora, que foi muito acolhedora, assim como os professores. Já entre os colegas, alguns foram receptivos, mas outros se afastaram, revelando a dificuldade que muitos ainda têm em lidar com as diferenças no ambiente escolar”, afirma.

Fatores de risco e impactos

De acordo com Jaqueline Bifano, a depressão e a ansiedade podem surgir a partir da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. “Entre os fatores de risco estão a predisposição genética, histórico familiar de transtornos mentais, experiências de violência ou abuso, bullying, isolamento social, pressões acadêmicas excessivas e ambientes familiares conflituosos. Além disso, situações como luto, separação dos pais e doenças crônicas também podem funcionar como gatilhos”, aponta.

O impacto, segundo a médica, é significativo. “Esses transtornos podem comprometer a capacidade de concentração, memória e aprendizagem, levando a queda do rendimento escolar. Nas relações sociais, o jovem pode se isolar, ter dificuldades em manter amizades e apresentar conflitos familiares. A longo prazo, podem afetar a autoestima, a construção da identidade e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, essenciais para a vida adulta.”

A importância do tratamento precoce

Para Iraci, a decisão de procurar atendimento especializado foi determinante para a recuperação da filha. “Fiquei receosa no início, pois minha filha não gosta muito de ir ao médico, ainda mais a uma psiquiatra, mas encontramos uma excelente profissional, com quem ela teve boa conexão. Felizmente, conseguiu se abrir e isso facilitou até mesmo o início da medicação, que era uma barreira para ela. Hoje, com o acompanhamento médico e psicológico, está mais tranquila, participa de clube de leitura e sai com amigos. Mas sigo atenta a qualquer mudança de comportamento”, relata.

A médica reforça que não é necessário esperar o agravamento dos sintomas para buscar ajuda. “Sempre que houver persistência de sintomas emocionais ou comportamentais que prejudiquem a rotina e causem sofrimento, é hora de procurar avaliação especializada. A intervenção precoce aumenta muito as chances de recuperação”, orienta Jaqueline.

O tratamento, explica a especialista, envolve diferentes estratégias. “O mais eficaz costuma combinar psicoterapia — em especial a terapia cognitivo-comportamental — e, em alguns casos, o uso de medicação. A participação da família é peça-chave: oferecer escuta, apoio afetivo, manter uma rotina estruturada e reduzir estigmas em torno da saúde mental favorece a adesão ao tratamento e acelera a recuperação.”

Quebrar tabus

Para Iraci, falar sobre saúde mental dos jovens é urgente. “Depressão e ansiedade são doenças reais, e não uma fase ou frescura. Precisamos quebrar tabus e incentivar a escuta ativa, o acolhimento e a busca por ajuda profissional. Os jovens vivem sob enorme pressão — nas escolas, nas redes sociais, nas expectativas irreais impostas a eles. Cabe a nós, adultos, sermos um porto seguro, e não mais uma fonte de julgamento”, afirma.

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