Início precoce pode ser indicado, mas procura também pode ser exagero -  (crédito: Freepik)

Início precoce pode ser indicado, mas procura também pode ser exagero

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Ninguém mais questiona os benefícios da toxina botulínica desde que ficou claro que a paralisação dos músculos é um meio importante para prevenir o envelhecimento e a demarcação de rugas, principalmente na testa e ao redor dos olhos. No entanto, incentivados pelas mídias digitais, jovens estão experimentando o primeiro ‘botox’ assim que entram na maioridade.

“Os pacientes mais jovens costumam aprender sobre a toxina botulínica no TikTok, onde as informações variam em qualidade. O conceito da aplicação antecipada da toxina botulínica é o de tratar os músculos faciais que você usa com mais frequência, a fim de evitar a formação de rugas. A remoção dos movimentos musculares da face resulta em uma redução das linhas de expressão e impede que uma ruga dinâmica se torne uma ruga estática. Mas a orientação médica é realmente fundamental, pois a indicação da toxina botulínica depende do diagnóstico da pele do paciente e não da sua idade”, explica a dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Paola Pomerantzeff.

“Os riscos de iniciar esse tratamento muito cedo não são claros, mas estudos menores mostraram que há chances de produção de anticorpos, fazendo com que esse paciente não responda à toxina botulínica no futuro. Além, é claro, do desperdício de dinheiro, de tempo e uma aparência congelada”, acrescenta a médica.

De acordo com dados de 2023 da empresa de pesquisa de mercado CivicScience, 15% das pessoas com idades entre 18 e 24 anos experimentaram tratamentos cosméticos não invasivos, como injeções de botox, preenchimentos dérmicos ou peelings enzimáticos. Outros 12% nesta faixa etária disseram que pretendem experimentar.

A toxina botulínica é um dos tratamentos estéticos mais conhecidos. “A substância promove um bloqueio neuromuscular, impedindo que as sinapses nervosas cheguem ao músculo e se concentrem no local”, explica a médica. “A partir do momento que essas rugas já estão instaladas, o tratamento torna-se mais difícil. Podemos, sim, amenizar, mas uma fratura dérmica já foi estabelecida”, diz a médica.

Ainda há o benefício da melhora do aspecto da pele, que fica mais iluminada. No entanto, segundo a especialista, no geral a indicação da toxina botulínica com aplicação preventiva é feita a partir dos 25 anos. “Antes disso, é mais raro, mas temos que avaliar a necessidade individual do paciente”.

Com essa onda de informações sobre prevenção nas mídias sociais, alguns podem tentar iniciar o botox mais cedo, porque o veem como um tratamento preventivo. “Assim, os pacientes pensam que a partir dos 20 anos o procedimento serviria para prevenir ainda mais rugas, o que pode não se confirmar se esse paciente não tiver realmente uma indicação para isso. Vale lembrar que temos outros fatores a considerar na prevenção e manejo do envelhecimento, incluindo diminuição dos compartimentos de gordura e queda na produção de colágeno”, explica.

E para quem é indicado, enfim, o botox preventivo? “Na consulta, devemos observar os pacientes, toda sua mímica, se são menos ou mais expressivos. Então, assim que essa força muscular aumenta e as rugas dinâmicas são muito frequentes, já é possível indicar a toxina botulínica, independentemente da idade”, argumenta a médica.

Um grupo que, geralmente, pode ter indicação para o tratamento, de acordo com a dermatologista, é formado pelas pessoas de olhos claros, pois elas costumam, naturalmente, fazer contração na presença da luz. “O paciente acaba fazendo o movimento involuntário de contrair a sua pupila, o que faz com que o músculo ao redor dos olhos se contraia também e comece a formar, por conta disso, as rugas. Então, em alguns casos - quando nós temos essas características - existe sim a indicação”, destaca Paola Pomerantzeff.

O problema de iniciar cedo é interromper o tratamento, o que não resulta em impactos adversos à saúde, mas os efeitos eventualmente desaparecem sem retoques. “Essencialmente, a toxina botulínica funciona ‘congelando’ os músculos que fazem as expressões, evitando que as rugas fiquem gravadas no rosto, mas os efeitos duram no geral de quatro meses a seis meses”, afirma a médica. “O benefício é que nesse tempo, o músculo ficou relaxado e não demarcou a ruga. Mas se o retoque não acontecer, essa ruga poderá se formar”, acrescenta.

No entanto, ela alerta: “Como o tratamento com a toxina botulínica é muito conhecido, é comum que pacientes acreditem que ela resolverá todos os problemas relacionados ao envelhecimento. Há casos em que o paciente necessita de um maior estímulo de colágeno, o que pode ser conseguido com ultrassom microfocado, radiofrequência microagulhada ou lasers. Por isso, um dermatologista deve ser consultado. Como tudo na medicina, é preciso examinar o paciente, fazer um diagnóstico correto e só então decidir qual o tratamento mais indicado”, recomenda.