O diagnóstico precoce da doença contribui significativamente para o tratamento, que é indicado de acordo com a gravidade da condição e as características individuais da paciente -  (crédito: Redes Sociais/ reprodução )

O diagnóstico precoce da doença contribui significativamente para o tratamento, que é indicado de acordo com a gravidade da condição e as características individuais da paciente

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10 anos depois dos primeiros sintomas de cólica, a atriz Isabella Santoni recebeu o diagnóstico de que a dor que perdurava tanto tempo não era normal: tratava-se da endometriose. "Sempre ouvia que era normal ter cólica e tomar remédio para dor. Tinha dias em que tomava três comprimidos para aguentar: de manhã, à tarde e à noite", relatou a atriz. E ela não está sozinha: estima-se que uma em cada 10 mulheres brasileiras sofrem com endometriose atualmente, de acordo com dados do Ministério da Saúde. No mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde, são 180 milhões de mulheres que enfrentam o problema. Não à toa a endometriose é considerada a doença da mulher moderna.

“Principal causa da infertilidade em mulheres, a endometriose ocorre quando as células do endométrio, mucosa que reveste a parede do útero, não são devidamente expelidas durante a menstruação, se espalhando pelo aparelho reprodutivo e até mesmo por outras regiões como intestino, apêndice e bexiga”, diz Rodrigo Rosa, ginecologista especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo. Mas, afinal, qual o motivo para tantas mulheres sofrerem com a condição nos dias atuais?

Uma das hipóteses está relacionada às mudanças sociais com relação à gestação, que possui um fator protetor contra a endometriose. “Antigamente, as mulheres casavam e, consequentemente, iniciavam a vida reprodutiva muito cedo. Além disso, era comum que os casais tivessem um número muito maior de filhos ao longo da vida. Dessa forma, as mulheres ficavam mais tempo sem menstruar e eram menos expostas ao estrogênio, hormônio relacionado ao desenvolvimento das células endometriais. Em contrapartida, hoje, as mulheres estão menstruando mais cedo e engravidando mais tarde, o que aumenta o risco de endometriose”, destaca o ginecologista.

Outra possível razão pela qual a endometriose está se tornando cada vez mais comum está relacionada à maior exposição a poluentes e produtos químicos nos dias atuais. “A exposição prolongada e excessiva aos poluentes e produtos químicos tem sido associada à endometriose, pois pode levar a uma desregulação endócrina, alterando a produção hormonal do organismo e assim contribuindo para o surgimento da doença”, alerta Rodrigo, que explica que esses produtos químicos podem ser encontrados no ar, na água, no solo e até mesmo em alimentos como peixes e aves.

E o especialista ainda ressalta que o número de mulheres com endometriose atualmente pode ser maior do que o relatado, pois, até hoje, os sintomas da doença são negligenciados, levando a um cenário de sub-diagnóstico. “A endometriose tem como principal sintoma dor pélvica intensa, que geralmente não recebe atenção por ser confundida com cólicas menstruais. Isso faz com que o diagnóstico da condição seja realizado muito tardiamente, quando as mulheres encontram alguma dificuldade para engravidar”, afirma Rodrigo. “Além disso, as pílulas anticoncepcionais, método contraceptivo comumente utilizado no tratamento da endometriose, também podem mascarar os sintomas da condição, o que contribui para um diagnóstico tardio e para que a doença evolua para um quadro grave sem que a mulher perceba”, diz o médico, que reforça a importância da criação de políticas públicas para aumentar a conscientização sobre a endometriose e do acompanhamento ginecológico regular.

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O diagnóstico precoce da doença contribui significativamente para o tratamento, que é indicado de acordo com a gravidade da condição e as características individuais da paciente e geralmente inclui, além da pílula anticoncepcional, analgésicos, anti-inflamatórios e intervenção cirúrgica. “O tratamento cirúrgico da endometriose é realizado por meio da laparoscopia, procedimento minimamente invasivo que visa eliminar os cistos causados pela doença”, afirma Rodrigo, que ainda reforça que, ao contrário do que muitos pensam, a gravidez, apesar de ajudar na prevenção da doença, não é capaz de curar a endometriose. “O que acontece é que as mudanças hormonais que ocorrem na gravidez podem ajudar a diminuir os sintomas e controlar a endometriose. Mas a gestação não cura a doença”, esclarece o especialista. Vale lembrar que a endometriose é uma doença crônica, então o tratamento não é definitivo, atuando apenas no alívio dos sintomas e controle da doença. Logo, os sintomas e a dificuldade de engravidar podem retornar após algum tempo. “Além disso, apenas 50% das pacientes tratadas por meio da laparoscopia possuem chances de engravidar futuramente”, alerta.

Por esses motivos, a melhor alternativa para mulheres que desejam engravidar, mas sofrem com endometriose é a busca por tratamentos de reprodução humana, como a fertilização in vitro. “O processo de fertilização in vitro em pacientes com endometriose é igual a qualquer outro, com a coleta dos óvulos após indução medicamentosa da ovulação para que sejam fecundados em laboratório e, em seguida, implantados de volta no útero. E a boa notícia é que as taxas de sucesso do procedimento em mulheres com a condição são as mesmas de quando a fertilização é realizada por outros motivos, sendo assim um excelente método para aumentar as chances da paciente de ser mãe biológica”, explica Rodrigo. “Porém, antes de optar por qualquer procedimento, é fundamental consultar um médico especialista em reprodução humana, que poderá indicar o melhor tratamento para cada caso de acordo com fatores como idade, histórico de saúde e qualidade dos óvulos”.