Recorrer à comida pode representar uma forma de lidar com emoções difíceis, buscando alívio ou conforto, ainda que temporários -  (crédito: Freepik)

Recorrer à comida pode representar uma forma de lidar com emoções difíceis, buscando alívio ou conforto, ainda que temporários

crédito: Freepik

Recentemente, o tema Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA) ganhou notoriedade na mídia com a situação vivida por uma das participantes do BBB 24, Yasmin Brunet, que demonstrou sofrer com o distúrbio. Caracterizado por episódios recorrentes de ingestão excessiva de alimentos, independentemente da fome física, o diagnóstico afeta quase 5% da população do Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Eventuais exageros em celebrações ou confraternizações são normais e acontecem, porém, a perda de controle recorrente ao consumir comida deve acender um alerta.

“Nesses casos, a ação sempre vem acompanhada por sentimentos de descontrole e culpa. Alguns sinais comuns incluem vergonha, hábito de comer escondido, oscilações de humor e incapacidade de interromper a ingestão mesmo após satisfazer a fome", afirma o psicólogo comportamental-cognitivo na UBS Jardim Eledy, gerenciada pelo Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” (CEJAM) em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, Emerson Marques.

De acordo com especialistas, existem diferentes fatores que podem desencadear o TCA, como ansiedade, depressão, estresse, pressão emocional, falta de autoestima, experiências traumáticas, como abusos físicos, emocionais ou sexuais, pressões estéticas, autocrítica, perfeccionismo, entre outros. "Recorrer à comida pode representar uma forma de lidar com emoções difíceis, buscando alívio ou conforto, ainda que temporários. Em situações de estresse, a compulsão alimentar pode surgir como uma maneira de enfrentar a pressão emocional", acrescenta Emerson.

Especificamente no caso de pessoas já diagnosticadas com ansiedade, a compulsão pode existir como uma forma de distração da mente ou de busca por acalento. No contexto da depressão, ela pode ser desencadeada pela falta de motivação e prazer nas atividades cotidianas, levando à busca por esses sentimentos na comida.

Normalmente, existem padrões alimentares comuns entre pessoas que sofrem com o distúrbio. "Ao comer grandes quantidades, essas pessoas, muitas vezes, contam com pouca ou nenhuma mastigação, realizando uma mistura entre doce e salgado, buscando sempre os alimentos com maior densidade calórica, ricos em açúcares, sódio e gorduras. Há casos em que podem, até mesmo, ingerir alimentos que não estão prontos para o consumo, como comidas geladas", complementa a nutricionista na UBS Jardim Valquíria, também gerenciada pelo CEJAM em parceria com a prefeitura, Mariana Arruda.

Leia: PMMA: preenchimento com a substância não é recomendado; conheça riscos e alternativas

Dos diferentes impactos na saúde, além de toda a questão psíquica, a compulsão alimentar pode, ainda, contribuir com a obesidade, desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e hipertensão arterial, associadas ao consumo excessivo de alimentos ricos em sódio e açúcar.

Ajuda profissional é fundamental

Ao perceber qualquer sinal de desequilíbrio na hora de se alimentar, é importante buscar cuidado multidisciplinar. Nesse contexto, a terapia e a nutrição se destacam como pilares fundamentais para lidar com esse momento complexo e delicado. "O papel principal da nutrição é compreender os gatilhos que levam a essa compulsão e desenvolver estratégias individualizadas para reduzi-los, promovendo uma alimentação equilibrada, sem restrições severas”, explica Mariana.

Nesse atendimento, algumas alterações na dieta são necessárias para auxiliar o paciente no processo. Isso inclui a promoção de uma alimentação equilibrada, baseada em alimentos in natura, como frutas, verduras e legumes; o aumento do consumo de alimentos integrais e ricos em fibras, que contribuem para o controle da saciedade; a redução do consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares, sódio e gorduras; o aumento da ingestão de água; o fracionamento das refeições, para evitar longos períodos sem se alimentar; e a ênfase na importância do equilíbrio, evitando restrições excessivas.

Já no cuidado com a mente e o emocional, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) assume um papel significativo. Por meio dela, são explorados os padrões de pensamento e comportamentos. "Nessa abordagem, conseguimos trazer a psicoeducação, em que ensinamos estratégias de enfrentamento para a situação. Além disso, conseguimos trabalhar a consciência, por meio do uso de técnicas como o mindfulness (atenção plena), que ajuda na identificação dos sinais de fome e saciedade, além de possibilitar a mudança nos padrões de pensamentos distorcidos", finaliza Emerson.

Contar com ajuda profissional é crucial para a recuperação e bem-estar. Esse apoio pode ser recebido através da unidade básica de saúde pública mais próxima, que oferece gratuitamente o atendimento de especialistas capacitados em diversas áreas.