O 2026 de Flávio Bolsonaro terá dois inícios: um em 1º de janeiro, como todos, e um em 5 de abril. A segunda data marca o dia seguinte ao fim do prazo para que atuais mandatários, como Tarcísio de Freitas, renunciem aos cargos que ocupam para disputarem a eleição do próximo ano. Tarcísio só deixará o governo de São Paulo se obtiver apoio de Jair Bolsonaro para entrar na corrida presidencial contra Lula. Hoje, esse apoio está com Flávio.

Até abril, o senador buscará consolidar sua candidatura buscando atrair a simpatia (quase amor) que o establishment nutre pelo governador paulista. O primogênito do clã Bolsonaro iniciou nas últimas semanas um périplo pela Faria Lima e se encontrou com figuras de peso do mercado para mostrar a que vem e o que pensa. Nos encontros, tentou desconstruir impressões de que sua candidatura seja mero balão de ensaio e causou boas impressões — para o momento, contudo, não roubou os afetos de Tarcísio de Freitas.

Outro desafio será reduzir a resistência do Centrão, cujos líderes também são entusiastas do projeto Tarcísio-2026 e que, sem ele no páreo, indicam manter candidaturas de nomes como Ratinho Júnior, governador do Paraná, do PSD, e Ronaldo Caiado, governador de Goiás, do União Brasil.

Apesar de torcerem o nariz para a ideia de Flávio como presidenciável, líderes do Centrão reconhecem que se ele, de fato, for às urnas, inevitavelmente será competitivo em razão do eleitorado bolsonarista, e teria altas chances de chegar ao segundo turno contra Lula. O problema, efetivamente, começaria aí, na visão desses políticos: a alta rejeição ao senador poderia jogar a reeleição no colo do petista.

Se o apoio de Bolsonaro se mantiver e a candidatura de Flávio Bolsonaro se consolidar, a partir de abril o principal desafio passa a atender pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva, incumbente e páreo duríssimo para qualquer adversário. Dali em diante, a busca por apoios políticos vai se intensificar em meio aos interesses do Centrão.

Como costumam dizer líderes do grupo ao minimizarem as chances de uma vitória de Flávio, ele inevitavelmente verá os seus fantasmas voltarem à praça pública em uma dura campanha presidencial: rachadinha na Alerj, andanças com Fabrício Queiroz, relações com o miliciano e bicheiro Adriano da Nóbrega, compras de imóveis com dinheiro vivo, a loja de chocolates Kopenhagen, a mansão de R$ 6 milhões em Brasília quitada em três anos, e as atividades como advogado.

O caso da rachadinha, que envolve Queiroz, o uso de dinheiro vivo e lavagem de dinheiro na loja de chocolates, foi encerrado pela Justiça.

As assombrações de um passado recente se somarão a outras dificuldades e desafios a Flávio Bolsonaro em 2026, como a rejeição ao sobrenome que carrega, o peso da prisão do pai por tentativa de golpe, a eloquência da cena da tornozeleira eletrônica violada e a atuação desastrada do irmão Eduardo contra o Brasil nos Estados Unidos — que se revelou sem propósito depois que caiu por terra o grande triunfo do ex-deputado até então, Alexandre de Moraes sancionado pela Lei Magnitsky.

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Munido de pesquisas que mostraram um desempenho semelhante ao de Tarcísio no primeiro turno e até superior ao dele no segundo turno contra Lula, Flávio Bolsonaro chegará ao seu primeiro Ano Novo em 2026 com um quadro levemente favorável. A questão é se ele chegará ao “Ano Novo de abril” e como seguirá daí em diante.

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