Um dito popular muito conhecido entre as mulheres afirma que quando uma mãe perde um filho, todas as outras perdem também e choram essa dor. Nos últimos tempos, ele pode perfeitamente ser estendido aos sentimentos das mulheres em relação aos casos de feminicídio que assolam o Brasil, uma verdadeira epidemia.
Foram em média quatro mulheres mortas por dia em 2024, totalizando 1.492 casos, o maior registro desde que o crime de feminicídio entrou no Código Penal, em 2015, a maioria deles em contexto de violência doméstica e familiar.
Somente em Minas Gerais, de janeiro a outubro deste ano, foram 156 feminicídios e outras 139 tentativas, o que representa uma morte a cada dois dias. Basta dar uma olhada rápida na cobertura jornalística para se deparar, cotidianamente, com algum caso de violência contra a mulher, muitos com requintes de crueldade, como aconteceu, recentemente, com Tainara de Souza Santos, 31, que faleceu depois de 25 dias de internação, após ser atropelada e arrastada de carro pelo ex-namorado, durante cerca de 1 km na Marginal Tietê, capital paulista.
Tainara, que teve parte das roupas arrancadas durante o arrasto, ao perceber que estava seminua, mesmo sangrando e gravemente ferida – ela teve que amputar as duas pernas – instintivamente se cobriu, um reflexo que diz muito sobre o medo que as mulheres carregam cotidianamente simplesmente por serem mulheres, em uma sociedade em que a roupa e o comportamento são desculpas para a violência de gênero.
Ela foi enterrada ontem, deixando dois filhos, e uma onda de indignação entre as mulheres, com mais essa brutalidade, registrada por câmeras de segurança.
O caso de Tainara, e de outros que se seguiram na esteira desse crime brutal, levou às mulheres às ruas de todo o país e reacendeu o debate sobre o endurecimento da legislação como forma de combate à violência contra a mulher.
Mas como diria nosso maior poeta, o mineiro Carlos Drummond, “as leis não bastam, os lírios não nascem das leis”. Mesmo que o Congresso Nacional aprove os 398 projetos em tramitação endurecendo penas para casos de feminicídios e assegurando direitos para as vítimas, incluindo os filhos, nada vai adiantar se não houver um engajamento da sociedade.
É preciso desde cedo, e sempre, combater os discursos de ódio contra as mulheres, educar os meninos para que não se tornem homens violentos, conscientizar as meninas sobre seus direitos, assegurar casas de apoio e acolhimento para vítimas de violência doméstica, garantir trabalho devidamente remunerado e sem descriminação de gênero, creche, saúde, educação, divisão das tarefas domésticas e de cuidado.
Não é uma tarefa fácil, mas é um compromisso que tem que ser assumido por cada brasileiro e cada brasileiro na busca pelo combate ao machismo em todas as suas formas, para que possamos ter um Brasil mais justo para as mulheres, onde elas possam viver sem medo, onde não precisem, mesmo que mesmo gravemente feridas, se preocupar com a exposição de seu corpo.
Tainara, presente!
Em Minas
A icônica modelo britânica, Naomi Campbell, uma das primeiras mulheres negras a estampar capas de revistas de moda, passou o Natal em Ouro Preto, a joia barroca mineira, cidade patrimônio mundial da humanidade. Naomi foi flagrada toda compenetrada assistindo a missa solene de Natal, na Basílica de Nossa Senhora do Pilar, construída por volta de 1712. Ela estava acompanhada da estilista Érika Mares Guia, filha do ex-ministro do turismo e ex-vice-governador de Minas Gerais, Walfrido Mares Guia. A família tem uma propriedade rural em Ouro Preto.
Freio nas festas milionárias
Projeto de lei que começou a tramitar neste fim de ano na Câmara dos Deputados tenta colocar freio nas contratações milionárias de shows feitas pelas prefeituras Brasil afora. De autoria do deputado Capitão Augusto (PL-RJ), o projeto estabelece o Cadastro Nacional de Valores de Referência para a Contratação Artística com Recursos Públicos, a ser gerido pelo Ministério da Cultura. Segundo a proposição, a inclusão de preços de shows nesse cadastro será voluntária e terá duração de um ano. Além de adesão espontânea, o cadastro não vincula os artistas aos valores informados, servindo apenas como referência para o mercado, evitando discrepâncias milionárias nos valores das contratações.
Milhões torrados em shows
Reportagem exclusiva do Estado de Minas revelou, em outubro deste ano, que 91 prefeituras mineiras gastaram, desde 2023, R$ 34,9 milhões com atrações musicais pagas com emendas Pix. Devido ao valor elevado dos shows, alguns foram pagos de maneira parcelada. Mais de um terço desses municípios não têm ao menos um hospital, enquanto torram milhões com shows milionários. Esse gasto em escala nacional, pode chegar na casa de bilhões já que não há controle sobre os valores pagos e nem referência para a contratação de artistas. O acesso à cultura é um direito do cidadão e eventos dessa natureza devem ser patrocinados pelos municípios, mas é preciso regras, para que o dinheiro não escoe pelo ralo, já que as cidades brasileiras, no geral, ainda carecem de muitos serviços básicos.
Desempenho tímido
O governador Romeu Zema (Novo) segue com desempenho tímido nas simulações para a corrida presidencial de 2026. Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, divulgado ontem, aponta o mineiro nas últimas posições entre os principais nomes testados, variando de 1,6% a 3,9% das intenções de voto, a depender do cenário estimulado, bem atrás de Lula (PT) e de outros nomes do campo bolsonarista. Além disso, sem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa de 2026, em razão da inelegibilidade e da prisão por tentativa de golpe de Estado, Zema é a opção de apenas 2,8% dos eleitores. O desempenho do governador reforça as dificuldades de projeção do mineiro no cenário nacional.
Suspensão mantida
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A Justiça mineira manteve a decisão do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) que suspendeu as nove escolas cívico-militares no estado e proibiu que a Secretaria de Estado da Educação siga com o projeto de implantação do modelo em outras instituições de ensino. O governo de Minas, por meio da Advocacia-Geral do Estado (AGE), entrou com um pedido de tutela antecipada tentando sustar os efeitos da decisão, mas teve se pedido negado pela vara plantonista do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). O estado alegou risco em face da iminência do início do ano letivo, no entanto, o pedido foi negado pela juíza Lilian Bastos de Paula, sob argumento de que decisão do TCE-MG, sequer foi publicada. No último dia 17, a Corte de Contas suspendeu as escolas cívico-militares sob alegação de que não há legislação estadual e nem previsão orçamentária para a implantação desse modelo de educação no estado. Alegou também o desvio de militares para atuar como professores dessas instituições, também sem a devida previsão legal.
