PF diz que vereador de BH nunca morou em endereço informado para a eleição
Lucas Ganem é alvo de inquérito por suposta fraude eleitoral. Moradora do endereço declarado à Justiça Eleitoral disse à polícia que não conhece o político
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A Polícia Federal (PF) abriu um inquérito para investigar o vereador de Belo Horizonte Lucas Ganem (Podemos) por suspeita de fraude eleitoral. A investigação apura se o parlamentar, que é natural de São Paulo, usou um endereço falso na capital mineira para conseguir registrar sua candidatura e disputar a eleição.
O inquérito foi aberto oficialmente em 1º de outubro de 2025, após uma denúncia anônima recebida em 30 de maio. A denúncia levantou dúvidas sobre a real residência de Ganem, apontando que seus vínculos pessoais e funcionais seriam, na verdade, com o estado de São Paulo.
Lucas Ganem transferiu seu título de eleitor de São Paulo para Belo Horizonte em 19 de fevereiro de 2024, pouco antes do prazo limite para concorrer no pleito municipal. Ao registrar sua candidatura em agosto de 2024, Ganem informou à Justiça Eleitoral que residia na Rua Toronto, no bairro Trevo. No entanto, quando a Polícia Federal foi ao local para checar a informação, encontrou uma versão diferente.
Os policiais foram recebidos por uma mulher identificada como Fernanda Fraga. Ela informou que mora no imóvel há mais de 10 anos com o marido, que desconhece quem seja Lucas e garantiu que "ele não reside e nem residiu no local".
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"Ao ser questionada sobre o morador de nome LUCAS, ela disse desconhecer quem seja LUCAS e que
ele não reside e nem residiu no local; explicou ainda que lá reside durante todos este tempo com seu marido de nome Grijalva", diz trecho do documento da PF.
A investigação descobriu ainda que o dono da casa é Grijalva de Carvalho, empresário do grupo a que Lucas pertencia, que atualmente é Secretário Municipal Adjunto de Administração na Prefeitura de Contagem.
"Portanto, pelo apurado em diligências veladas, de fato LUCAS transferiu seu domicílio de São Paulo para Belo Horizonte - Rua Toronto, Bairro Trevo, no início de 2024; como consta na denúncia e corroborado por FERNANDA, moradora entrevistada no local - que tal imóvel encontrava-se e encontra-se habitado também por seu marido GRIJALVA, sem que LUCAS não tenha nunca nele residido", diz outro trecho.
A polícia também verificou as contas de luz do vereador. Os registros da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) mostram uma primeira ativação em nome de Lucas apenas em novembro de 2024, meses após o registro da candidatura, em um endereço no bairro Jardim Guanabara. Essa conta foi desativada em fevereiro de 2025, quando uma segunda foi aberta em outro local, no bairro Nova Granada. Nenhum desses endereços bate com o declarado à Justiça Eleitoral.
Procurado pelo Estado de Minas, o vereador enviou uma nota. "Recebo com surpresa essa ‘notícia’, até porque desconheço qualquer inquérito policial sobre o tema. A título de colaboração e esclarecimento, registro o óbvio (caso sejam reais as afirmações): é claro que não encontrariam informações sobre mim no imóvel diligenciado em agosto (deste ano), porque desde novembro do ano passado (2024) eu não tenho mais endereço lá. Qualquer ilação diferente disso não se sustenta. Fico à disposição para esclarecer o que for necessário.”
Grijalva Duarte, citado no processo também procurou o jornal. "A título de esclarecimento — e com a devida indignação pelas ilações feitas — registro que eu e minha esposa jamais fomos procurados por policiais devidamente identificados para prestar qualquer informação sobre o vereador Lucas Ganem. Esclareço, ainda, que o vereador mudou seu domicílio para minha residência antes do período eleitoral e, após a eleição, mudou-se. Qualquer sugestão em sentido diverso não é verdadeira."
São Paulo e Paraná
A PF encontrou outros indícios de que o vereador não morava em Belo Horizonte. Documentos mostram que, no mesmo ano em que registrou domicílio na capital mineira (2024), Lucas Ganem renovou sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em São Paulo, fornecendo um endereço no bairro Vila Prudente, na capital paulista.
Além disso, uma matéria da GEAP Saúde, publicada em outubro de 2024, em plena campanha eleitoral, informava que Lucas era o gerente estadual do grupo no Paraná.
Lucas Ganem é de Indaiatuba (SP), onde trabalhou como assessor comissionado até 2023. Ele adotou o sobrenome "Ganem" de seu primo, o deputado federal Bruno Ganem (Podemos-SP), para usar na urna da eleição.
A denúncia que deu origem ao inquérito aponta também que parte dos assessores nomeados por Lucas em seu gabinete na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) também veio de Indaiatuba.
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O caso já é alvo de uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) que corre na 29ª Zona Eleitoral de Belo Horizonte. O primeiro suplente de Ganem, o ex-vereador Rubão, conseguiu na Justiça autorização para acompanhar de perto o inquérito policial.
A PF solicitou ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) os dados do computador, incluindo o número de IP, que foi usado para enviar o registro da candidatura de Ganem ao sistema da Justiça Eleitoral.