Presidente da República tem feito sinalizações discretas aos religiosos. Em evento no Nordeste, ele afirmou que

Presidente da República tem feito sinalizações discretas aos religiosos. Em evento no Nordeste, ele afirmou que "Deus é a verdade"

crédito: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Ândrea Malcher

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está empenhado em conquistar espaço entre o eleitorado evangélico. A ala, dominada por pautas conservadoras, é a principal defensora do bolsonarismo. A última semana foi recheada de acenos mais diretos do chefe do Executivo — ação aconselhada por setores do governo.

No encontro promovido ontem, na Granja do Torto, com diversos setores da sociedade para tratar da "Petrobras além do petróleo", o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, afirmou que Lula tenta uma aproximação especial como ps eleitores evangélicos.

Fontes ouvidas pelo Correio comentaram sobre a possibilidade de se criar uma secretaria específica para estabelecer um diálogo direto entre o Palácio do Planalto e a ala conservadora. O projeto, debatido durante a transição de governo, no fim de 2022, e incluiria uma Secretaria de Assuntos Religiosos.

No entanto, o presidente Lula resistiu à criação da pasta e preferiu apostar em sinalizações mais discretas. Interlocutores do Planalto afirmam que o chefe do Executivo prefere não demonstrar preferência a nenhum grupo religioso.

Por outro lado, o petista colocou em campo ministros evangélicos que tentam ampliar o contato com essa fatia do eleitorado e política, como Wellington Dias, do Desenvolvimento Social; Jorge Messias, da Advocacia-Geral da União; Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência.

Iniciativa

Nas últimas semanas, após constatar baixa popularidade entre o eleitorado evangélico, o Planalto preparou a campanha publicitária Fé no Brasil. O projeto foi apresentado a executivos e às assessorias de imprensa dos ministérios pelo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, e busca mostrar de forma regionalizada os bons resultados do governo, nas visitas de Lula e seus ministros pelos estados.

O advogado-geral da União, Jorge Messias, que participou ontem da Brazil Conference, na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, minimizou a baixa aprovação do governo Lula entre evangélicos. Ele garantiu que o novo slogan veio do "trabalho que vem desde a campanha e da nossa (governo) aproximação com o segmento".

Messias, como mostrou o Correio, assumiu, junto ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a dianteira na negociação com a bancada evangélica do Congresso. Os deputados Silas Câmara (Republicanos-AM), antecessor de Eli Borges (PL-TO) no comando da bancada evangélica, e Cezinha Madureira (PSD-SP) se encontram frequentemente com o chefe da AGU.

Segundo relatos, eles se reuniram e debateram a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia as isenções tributárias das igrejas, de autoria de Marcelo Crivella (Republicanos-RJ).

A equipe do Ministério da Fazenda trabalhou junto ao relator da matéria, Fernando Maximo (União-RO), para chegar a um consenso que pudesse conquistar apoio entre os parlamentares religiosos, mas ainda não foi suficiente. Crivella está mais próximo do governo, mas o bolsonarismo ainda trava a PEC em miudezas.

"Essa PEC não será votada tão cedo, tem que ficar tudo claro antes. Não apoiei o Lula, votei no Bolsonaro, mas isso não impede de conversar com o governo. Se ele quer se aproximar dos evangélicos, terá que se esforçar mais. Pode escrever isso", disse Cezinha, após reunião com Padilha no mês passado.

Na última semana, Lula evitou citar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas foi mais direto quando, na inauguração da Estação Elevatória de Água Bruta de Ipojuca, em Pernambuco, e disse que "Deus não é mentira", ao citar sobre o perigo da desinformação.

"A gente não pode acreditar porque Deus não é mentira. Deus é a verdade. Ninguém pode utilizar o nome de Deus em vão como eles usam todo santo dia. É por isso que a gente vai ter que mudar este país", declarou.

Na ocasião, Lula citou suas três vitórias como presidente e a transposição do Rio São Francisco e chegou a perguntar aos apoiadores que acompanhavam o evento se eles acreditavam em Deus e em milagres.
Pesquisa

Enquanto o Congresso teve melhora no levantamento do Datafolha — que indicou que as Casas obtiveram a melhor avaliação em 21 anos — o presidente Lula viu sua popularidade oscilar entre os religiosos. Segundo dados da Genial/Quaest, divulgado em março, a desaprovação do atual governo entre os evangélicos é de 62%.

A queda aumentou desde outubro do ano passado, e atingiu o maior patamar desde a realização da primeira pesquisa sobre a gestão petista, em fevereiro de 2023. Desde o último levantamento, divulgado em dezembro passado, a desaprovação entre os evangélicos cresceu seis pontos percentuais, passando de 56% para 62%. A aprovação caiu seis pontos: de 41% para 35%.