
Humberto Werneck: 'BH melhorou depois que eu saí'
Escritor mineiro radicado em SP fala sobre o trabalho na biografia de Drummond, a forma que BH aparece em suas lembranças e elege palavra favorita
compartilhe
Siga noAutor de “O desatino da rapaziada” fala sobre o trabalho na biografia de Carlos Drummond de Andrade, a forma que Belo Horizonte aparece em suas lembranças e elege sua palavra favorita.
-
08/02/2025 - 04:00 A lembrança de uma vaia consagradora em BH -
08/02/2025 - 04:00 Humberto Werneck, domador de palavras, completa 80 anos -
08/02/2025 - 04:00 Leia crônicas de Humberto Werneck
Qual é a Belo Horizonte que guarda na memória?
Tenho várias, superpostas. Gostaria de ter conhecido a cidade que tinha 47 anos no dia em que nasci. Só não gosto daquela, sufocante, que deixei em maio de 1970. Licença para reprisar uma graçola a sério: Belo Horizonte melhorou depois que eu saí.
Qual o maior desatino que cometeu na juventude?
Foram vários, a maioria no Colégio Estadual, onde em 1956 inaugurei o campus do Oscar Niemeyer. Um desatino entre muitos: pressentindo expulsão, reconheci aos berros o meu erro e me apliquei suspensão por 15 dias (punição que cumpri integralmente, à beira da piscina do Minas Tênis, ali ao lado.) Desconfio que a audácia me salvou.
E como tem sido o trabalho de biografar Drummond?
Uma canseira braba contrabalançada por epifanias aqui e ali. Achava que conhecia a vida de Drummond. Me sinto aquele navegante que saiu de Lisboa para comprar noz moscada na Índia e deu de cara com um Brasil.
Uma vida dedicada à arte de reunir palavras (as suas e a dos outros). O que ainda é possível fazer com elas, as palavras, e com a vida?
Tanta coisa melhor ali na estante e eu aqui escrevendo – mas fazer o quê? Não vejo alternativa que não seja combinar palavras, como um barman eternamente em busca de um drinque novo. Continuo achando que o modo de dizer uma coisa pode ser tão ou mais fascinante do que a própria coisa.
E qual a sua palavra preferida?
Tenho algumas, e elas se revezam no topo do pódio. No momento, a favorita é aquela que o biógrafo não vê a hora de escrever: “fim”.