ESTADOS UNIDOS

Sob grande expectativa, Trump volta à Casa Branca

Após promessas e declarações polêmicas, como deportação de imigrantes ilegais e anexação do Canadá e da Groenlândia, republicano se torna hoje o 47º presidente

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Quatro anos após deixar a Casa Branca, Donald John Trump retorna hoje para o segundo mandato como 47º presidente dos Estados Unidos. Ao tomar posse nesta segunda-feira (20/1), o magnata republicano, de 78 anos, será o político mais velho a assumir o comando da superpotência ocidental, superando o recorde do democrata Joe Biden, que desistiu da corrida eleitoral para dar lugar a sua vice, Kamala Harris, derrotada por Trump no pleito de novembro passado.

Sua volta ao poder é cercada por grande expectativa, por causa de suas promessas de campanha e dos últimos pronunciamentos, que vão desde a deportação em massa de imigrantes ilegais até a anexação do Canadá e da Groenlândia aos EUA, passando pela taxação de produtos importantes, o que preocupa diretamente o Brasil.



Para vencer os democratas, Trump apostou na radicalização e convidou o ex-senador por Ohio, James David Vance – popularmente conhecido como J.D Vance – para ser o seu vice, o terceiro mais jovem a ocupar o cargo. Na época, a escolha foi recebida com estranheza por analistas, porque o número dois da chapa não agregava um eleitorado diferente dos conservadores que já apoiavam o empresário.



Trump superou uma marca que não era alcançada por um republicano desde George W. Bush, em 2004: vencer no voto popular. O presidente foi eleito com 312 votos no colégio eleitoral, contra 226 de Kamala Harris, vencendo, inclusive, em todos os nove “estados-pêndulo”. Em votos totais, o republicano conquistou o apoio de 77,3 milhões de americanos, contra 75 milhões para a candidata do Democratas.



Trump já adiantou que a sua volta à Casa Branca representa uma “nova era de ouro” para os EUA, vitória política que o país “nunca viu antes”. “Espero que um dia vocês olhem para trás e digam que este foi um dos votos mais importantes da minha vida quando votei nesse grupo de grandes pessoas, além do presidente. A América nos deu um mandato sem precedentes e poderoso”, discursou o magnata na noite da eleição, citando ainda a maioria republicana no Senado.


DISCURSO



Em seu último discurso antes da posse, Trump disse ontem, a uma multidão de 20 mil pessoas numa arena de Washington, que vai acabar com a “invasão” de estrangeiros. “Vamos recuperar nosso país. Amanhã, as cortinas se fecham para o declínio e começamos com prosperidade e força.“Autorizamos milhões de pessoas a entrar, sem controle. Muitos são assassinos”, declarou.



Trump alegou que governos de países sul-americanos e outros abriram as prisões para deixar que criminosos viajem para os EUA. “Estamos expulsando eles do país. Vamos recuperar soberania sobre nosso território e retirar as gangues selvagens”, garantiu.



Em entrevista à NBC News. Trump afirmou que terá um primeiro dia intenso, com um número recorde de decretos sendo assinados para desfazer políticas de Joe Biden e promover guinada ultraconservadora. Perguntado se ultrapassaria 100 decretos, disse: “Pelo menos nessa categoria”. Entre eles está  o início de sua promessa de deportação em massa. Antes do discurso de Trump, Steven Miller, o principal conselheiro de Trump, confirmou que uma das primeiras ordens executivas será para fechar as fronteiras e expulsar imigrantes que estejam de forma irregular nos EUA.



SECRETÁRIO DE ESTADO



Logo em novembro, após as eleições, o presidente eleito já havia completado seu primeiro escalão. Entre os cargos fundamentais, apenas aliados de primeira hora. Trump escolheu o senador da Flórida Marco Rubio como secretário de Estado, cargo responsável por administrar as relações diplomáticas com outros países e liderar esforços em áreas como segurança internacional e direitos humanos.



Para secretário de Defesa, o presidente dos Estados Unidos escolheu Pete Hegseth, comentarista político da Fox News e ex-militar. Em dezembro, Trump chegou a cogitar mudar a escolha pelo governador da Flórida, Ron DeSantis, avaliando que Hegseth teria dificuldade em ser aprovado no Senado. Contudo, a escolha para o comando do Pentágono foi mantida.



Em outros cargos importantes, Trump escolheu a ex-presidente da WWE (uma liga de luta livre) Linda MacMahon, para chefiar o Departamento de Educação. Na saúde, o escolhido foi Robert Kennedy Jr,sobrinho do ex-presidente democrata John Kennedy, ativista ambiental e defensor de direitos humanos, mas conhecido por seus posicionamentos contra vacinas. O responsável para liderar a possível guerra comercial com a China será o banqueiro Howard Lutnick. O empresário  comandará o Departamento de Comércio, responsável por políticas comerciais e tarifárias do governo americano.



HERANÇA



Ao deixar a cadeira de presidente nesta segunda-feira, Joe Biden sai de cena com a menor aprovação do seu governo - 36% de acordo com pesquisa da rede CNN. Ao assumir o cargo, em 2021, o democrata pegou um país assolado pelos picos da pandemia de COVID-19 e numa crise econômica que levou a uma inflação de 9,1%, a mais alta dos últimos 40 anos.



Contudo, após arrumar a casa, o governo Biden-Harris vai deixar um índice de preços controlado para a nova gestão de Donald Trump. Dados divulgados pelo Departamento do Trabalho na quarta-feira (15/1) mostram uma inflação de 2,9% em 2024, pouco acima da meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve, o Banco Central dos EUA. O departamento também mostra que a taxa de desemprego em dezembro se manteve estável em 4,1%, situação próxima de pleno emprego para os americanos.



INFLAÇÃO



Para o cientista político Leonardo Neves Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor no Departamento de Relações Internacionais da Faculdade Ibmec, Biden deixa a casa arrumada para que Trump implante sua agenda.



“Eu diria que Biden está dando um país muito redondo nas mãos do Trump, e ele vai capitalizar nisso. Imagino os próximos dois anos da economia americana de baixíssimo desemprego, juros controlados, inflação caindo. Então, acho que  Biden não deixa desafios, mas benefícios que não estão claros hoje”, disse. Ele observa ainda que a dificuldade econômica no início do governo vitimou Biden e Kamala Harris na campanha e na aprovação.



“Trump vai capitalizar e pegar um país forte, mais forte que seus vizinhos europeus e mais forte do que a China, além de uma Rússia debilitada. Obviamente, ele vai tentar mostrar que tudo isso é em função dele, quando, na minha opinião, ele recebeu um país muito arrumado para tocar sua agenda”, avalia.



TAXAÇÃO DE IMPORTADOS



Entre as promessas de campanha que estão na agenda do magnata está a taxação de produtos importados. O presidente eleito já afirmou que aplicará uma tarifa de 25% sobre produtos do Canadá e do México caso não seja resolvida a entrada de imigrantes ilegais nos EUA e interrompida a entrada de drogas. Trump também pretende impor tarifas de até 60% sobre todos os produtos chineses, além de ter prometido em campanha tarifas gerais de 10% a 20% sobre todos os produtos que entrarem nos EUA.



Trump também tem como uma das principais bandeiras de campanha o endurecimento da política de imigração. O presidente já prometeu o maior plano de deportação em massa dos Estados Unidos, que tem uma estimativa de cerca de 12 milhões de estrangeiros em situação irregular. Ainda existe a expectativa de que as medidas também possam resvalar em imigrantes que estão com a documentação em dia.



Contudo, os planos podem ter dificuldades logísticas, uma vez que deportar um contingente de milhões de pessoas depende da colaboração entre departamentos estaduais e federais. As deportações em massa também podem ter sérios impactos econômicos, devido a diminuição massiva da força de trabalho, em especial na agricultura.



LEGITIMIDADE



O professor de Ciências Políticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes, considera a vitória eleitoral de Trump inapelável e que legitima postura ousada do republicano, cenário diferente do primeiro mandato dele. “O governo Trump 2.0 vem insuflado, com muito mais legitimidade doméstica e tendo aprendido com os erros anteriores. O que se espera é que Trump seja mais audacioso, que avance em áreas em que ele se descuidou na primeira passagem”, avalia o especialista.



Para Lopes, países vizinhos têm boas razões para estar atentos com a retórica provocadora de Donald Trump. Nas últimas semanas antes da posse, o presidente falou em anexar o Canadá, em usar a força militar para controlar a Groenlândia e o Canal do Panamá, além de mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América. “Acho isso ( reflexo) de um país que se encontra dividido e não há expectativa de unificação. A polarização é calcificada e os temas são duros e confrontacionistas, como, por exemplo, a questão da segurança pública e o combate às imigrações ilegais”, explicou.



RELAÇÃO BRASIL-EUA



Em 2024, Brasil e Estados Unidos comemoraram 200 anos de relações diplomáticas. Ao longo dos primeiros anos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e últimos anos de Biden, foram fechadas parcerias como o pacto pelos direitos dos trabalhadores. A proximidade entre o petista e o democrata fez a diplomacia brasileira quebrar a tradição de não se posicionar em eleições estrangeiras com o apoio de Lula a Kamala Harris e críticas a Donald Trump.



Leonardo Neves Paz lembra que a tradição também havia sido rompida com o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas a preocupação é que a postura do governo Lula possa gerar algum tipo de ressentimento. Contudo, o especialista da FGV observa que o governo Trump tem outras prioridades do ponto de vista de política externa e preferências mais consolidadas do que o Brasil.



“O Brasil não está nas prioridades de Donald Trump. A expectativa de uma relação entre Brasil e Estados Unidos é uma relação fria, minha aposta é em um relacionamento basicamente institucional via máquinas diplomáticas dos dois países, sem grandes iniciativas em conjunto”, disse. Ele ressalta ainda que os recentes embates entre o governo brasileiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o bilionário Elon Musk pode causar algum problema.



EFEITO MUSK



Musk, dono da rede social X e das empresas Tesla e SpaceX, será membro do governo Trump como um dos chefes do Departamento de Eficiência Governamental, responsável por desburocratizar a máquina estatal americana.

“A grande questão é entender qual será a influência do Elon Musk no governo americano. O Brasil é um grande mercado para a mídia social dele, então, em tese, ele não pode prescindir do Brasil. Mas ele também parece que vai ser um ator chave em outros países, não acho que o Brasil seja uma grande prioridade. Mas pode ter momentos em que ele possa se inclinar para influenciar algum tipo de ação do governo para defender seus próprios interesses no Brasil”, explicou o especialista.



Para Dawisson Belém Lopes, a questão imigratória pode preocupar o governo brasileiro e impactar os residentes nos Estados Unidos. Na sexta-feira (17/1), titulares da diplomacia de dez países da América Latina e Caribe, entre eles o Brasil, expressaram “grave preocupação” com a deportação maciça de imigrantes. O posicionamento não atribui a medida a nenhum país, mas é uma alusão aos anúncios de Donald Trump.



“Existem hoje cerca de dois milhões de brasileiros vivendo nos Estados Unidos. Claro que uma massa importante se encontra em bases irregulares. Essas pessoas poderão ter que se ver com processos dolorosos e, no limite, processos indignos e humilhantes de expulsão do país. Quem planejava uma viagem para os Estados Unidos poderá ter mais dificuldades. Não acho que o Brasil e os brasileiros serão favorecidos”, analisa o professor da UFMG.

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