Avenida de Shenzhen, com ônibus elétricos entre os carros -  (crédito: Jo./Flickr)

Avenida de Shenzhen, com ônibus elétricos entre os carros

crédito: Jo./Flickr

Shenzhen, a grande cidade tecnológica do sul da China, tem 18 milhões de habitantes e uma rede de ônibus públicos 100% elétricos, um verdadeiro laboratório da transição energética.

Passageiros viajam em um ônibus elétrico em Shenzhen, província de Guangdong, no Sul da China

Passageiros viajam em um ônibus elétrico em Shenzhen, província de Guangdong, no Sul da China

Hector Retamal/AFP

Shenzhen foi a primeira grande cidade do mundo a optar, em 2017, por ônibus totalmente elétricos, que transportam os passageiros de forma silenciosa e sem emitir CO2.

A cidade, na fronteira com Hong Kong e sede de várias empresas do setor de tecnologia, também eletrificou a maioria de seus táxis.

A China é o maior emissor mundial de gases do efeito estufa e continua muito dependente do carvão para a produção de energia elétrica. Mas também é o país que mais investe em energias renováveis.

Seguindo a política de Shenzhen, outras cidades chinesas anunciaram o objetivo de adotar sistemas de transportes limpos até 2025.

A um mês do início da COP28 de Dubai, o caso desta cidade demonstra que é possível eletrificar rapidamente o transporte público, o que contrasta com a lentidão registrada nos países ocidentais.

Os ônibus contribuem menos para o aquecimento global que os carros e os caminhões. A Agência Internacional de Energia (AIE) calcula em 5% a redução potencial das emissões provocadas pelos ônibus, em um cenário de neutralidade de carbono até 2050.

Além disso, os ônibus elétricos melhoram imediatamente a qualidade do ar para os moradores de uma cidade.

A China é atualmente uma exceção no setor. O país representa mais de 90% dos ônibus e caminhões elétricos do mundo, segundo dados de 2021 do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT, na sigla em inglês). 

A transformação "não aconteceu de um dia para o outro. Exige muitos anos de planejamento e grandes obras de infraestruturas", disse à AFP Elliot Richards, especialista em veículos elétricos.

Richards destaca as limitações existentes no restante do mundo para reproduzir a experiência chinesa, incluindo as limitações de gastos públicos, assim como os obstáculos à construção das instalações apropriadas em cidades antigas e saturadas.

"Fáceis de utilizar"

Em um estacionamento de ônibus de Shenzhen, o motorista Ou Zhenjian afirma que sentiu uma "grande diferença" com a mudança para o veículo elétrico.

O trabalhador com 18 anos de experiência disse que os ônibus são "realmente confortáveis (...) fáceis de utilizar e respeitam o meio ambiente. Não fazem barulho e é ótimo dirigir assim".

"Hoje podemos dizer que nossos ônibus elétricos têm o mesmo rendimento que os ônibus a diesel", declarou à AFP o vice-diretor da rede de ônibus de Shenzhen, Ethan Ma.

Com rendimento similar, as emissões de um ônibus elétrico em sua vida útil (que inclui sua fabricação e a de sua bateria) são 52% inferiores às de um ônibus a diesel, segundo estudo específico do Banco Mundial sobre o caso de Shenzhen.

Esta pegada de carbono leva em consideração que metade da energia elétrica em Shenzhen é gerada com carvão. No total, os ônibus elétricos da cidade permitem poupar 194.000 toneladas de CO2 por ano.

Uma aposta política

No estudo, o Banco Mundial observa que a mudança "não depende apenas da tecnologia, mas também da vontade política".

O país investiu em larga escala no setor, o que permitiu a criação de grandes empresas de veículos elétricos, como a montadora BYD, líder mundial no segmento e que tem sede em Shenzhen.

Uma situação à qual a União Europeia reagiu com a abertura de uma investigação por supostas ajudas estatais ilegais, que permitiriam aos fabricantes chineses manter preços artificialmente baixos para ganhar uma parcela de mercado.

Em Guangdong, a província da qual Shenzhen faz parte, várias cidades já optaram por ônibus 100% elétricos. A capital, Pequim, e Xangai também iniciaram o processo.

A produção de energia elétrica na China ainda depende, no entanto, em 60% do carvão. Mas, como demonstra o caso de Shenzhen, mesmo o uso de ônibus movidos com energia gerada integralmente por carvão registra emissões inferiores às dos veículos a diesel, insiste David Fishman, consultor do Lantau Group.