Caso Alice: suspeitos afirmaram que vítima 'se jogou no chão'
Dois garçons do bar Rei do Pastel, de 20 e 27 anos, foram indiciados pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e devem responder por feminicídio
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Os dois garçons do bar Rei do Pastel, de 20 e 27 anos, suspeitos de perseguir e espancar Alice Martins Alves em outubro deste ano negaram terem agredido a vítima. Eles foram indiciados pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e ouvidos logo após a instauração do inquérito, em 10 de novembro. As informações foram confirmadas na tarde desta quinta-feira (4/12) em coletiva de imprensa da PC para apresentas a conclusão das investigações.
Conforme dito pela delegada Iara França, responsável pelo caso, durante os depoimentos, os autores reconheceram as vozes deles nos áudios que foram captados nas proximidades do local do crime e também se colocaram na cena do crime. No entanto, eles afirmaram à polícia que Alice teria se jogado no chão e tentado chutá-los.
Ainda conforme a França, os suspeitos afirmaram que não são transfóbicos e que o estabelecimento é frequentado em 80% pelo público LGBT+. "Mas nos próprios áudios captados no ambiente, um deles, o que comandou as agressões, se refere a Alice em mais de três ocasiões como um homem. Chamando a Alice por alguns xingamentos, algumas injúrias como, safado, ladrão", afirmou.
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A versão foi desmentida pelas investigações, já que nenhum dos dois tinha algum tipo de lesão. Além disso, segundo a delegada, ambos estavam "numa situação de superioridade não só numérica, mas de porte físico também".
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Segundo ela, Alice também estava o tempo todo muito amedrontada. "Ela havia feito uso de bebida alcoólica, não conseguia compreender muito bem o que estava ocorrendo. Ela estava com uma bolsa, onde claramente aparecia o celular e a carteira, e esses dois garçons em momento nenhum pegaram esses R$ 22 na carteira, o interesse deles era realmente punir a Alice pela questão da identidade de gênero dela", reforçou Iara, referindo-se à motivação do crime - uma gorjeta de R$ 2,20, de uma conta de R$ 22 não paga pela vítima, e à transfobia.
O que se sabe sobre o crime?
- Alice esteve na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, na noite de 22 de outubro
- A mulher trans esteve em uma unidade do Bar Rei do Pastel e, por volta de 23 horas foi para outra unidade, a poucos metros de distância
- No segundo bar, ela consumiu bebidas alcoólicas e foi embora, depois de 00h, sem pagar a conta de R$ 22
- Assim que saiu, em direção a Avenida Getúlio Vargas, Alice foi perseguida por dois funcionários do bar
- Eles a encurralaram na mesma avenida, próximo a esquina com a Rua Sergipe, e a cobraram a conta
- Uma câmera de segurança gravou o momento que a mulher afirma que quitou o débito, mas é desacreditada pelos garçons
- O equipamento de segurança flagrou o momento que a vítima começou a gritar por socorro, enquanto é ameaçada e agredida pelos homens
- Alice pediu socorro 12 vezes
- As agressões continuam por mais de 10 minutos e só param depois que um motoboy interveio ao crime
- A Polícia Militar e o Samu chegam ao local e levam Alice até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Centro-Sul
- Na unidade de saúde ela é medicada e liberada
- Em 2 de novembro, Alice é novamente levada a um pronto atendimento onde constatam fraturas nas costelas, cortes no nariz e desvio de septo
- Em 8 de novembro, em nova internação, Alice é diagnosticada com perfuração no intestino
- Em 9 de novembro, ela é submetida a uma cirurgia de emergência e morre por infecção generalizada