Restaurante nortista em BH denuncia xenofobia
Flor de Jambu, no Centro da capital, denuncia ataques xenofóbicos online e questiona preconceito contra a culinária e a cultura nortista
compartilhe
SIGA
O restaurante paraense Flor de Jambu, localizado no Centro de Belo Horizonte, denunciou na tarde desta terça-feira (2/12) que vem sofrendo ataques xenofóbicos nas redes sociais. Segundo o estabelecimento, a publicação expõe a situação e provoca debate sobre o preconceito persistente contra a culinária e a cultura nortista.
Na postagem, o restaurante destaca que não é apenas um espaço gastronômico, mas um ambiente dedicado à cultura alimentar paraense. Por isso, diz considerar necessário trazer o tema à tona sempre que episódios de preconceito ocorrerem. Em seguida, o texto questiona por que esses discursos ofensivos continuam a ser tratados como aceitáveis pelas pessoas e como usuários se sentem à vontade para reproduzi-los, mesmo atrás de telas.
Leia Mais
"Sabemos que nossa cultura amazônica, nortista, paraense, sempre sofreu xenofobia, inclusive foi um dos motivos do nascimento da Flor de Jambu. Estamos há seis anos na capital mineira como resistência a esse comportamento preconceituoso que passamos ao sair do nosso território de origem", destaca a proprietária Fernanda Souza.
Com a abertura da loja física, Fernanda conta que os ataques foram aumetando. "Desde o início, sempre houve vários tipos de ataques, mas isso começou mais forte quando abrimos o espaço físico, porque teve uma notoriedade muito maior. As pessoas falam coisas ridículas para a gente no privado e não compartilhamos, e agora estamos expondo essas situações, para promover uma conversa franca sobre a raiz do problema, compreender diferentes perspectivas e refletir sobre o que leva as pessoas a reagir dessa forma."
A publicação também cita episódios recentes ligados à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (PA). "Pudemos observar o quanto ainda o preconceito contra nós existe, disfarçado de 'opnião', tivemos até um político do Sul criando uma nova classificação como 'nordestistas' como nosso humorista paraense Jóa Pedro mostrou no seu vídeo."
Entre os ataques sofridos, o estabelecimento publicou alguns prints que motram os comentários de ódio, como "nojo" de pratos tradicionais, ataques à culinária amazônica como "cara, a comida deles é muito estranha" e frases sugerindo que nortistas “voltem para sua terra”. Para rebater os discursos, o restaurante lembra que diversos produtos usados no cotidiano brasileiro — inclusive na indústria farmacêutica e de beleza — dependem de ingredientes descobertos por povos amazônicos.
A reflexão se estende ainda para a tendência de “gourmetização” de pratos regionais. O Flor de Jambu questiona se o repúdio à comida amazônica seria substituído por elogios, caso ela fosse adaptada ao padrão estético dominante. "Será que se a gente se gourmetizar tudo a palavra 'nojo' ou 'feia' vão sair do vocabulário?."
A publicação termina com perguntas que buscam provocar debate: “Por que incomodamos tanto? Por que nossa comida incomoda? Por que nossa cultura alimentar incomoda?”.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Fernanda conta que essas reações revelam algo que vai além do paladar e expõem preconceitos que precisam ser discutidos. "Por isso, criamos esses espaços de reflexão, para questionar por que isso acontece, delimitar claramente o que não aceitamos e contribuir para a redução de discursos ofensivos. Porque são questões que vão além do não gostar. Esse post é uma reflexão é muito importante para que a gente possa acabar com esse tipo de discursos e que não vamos mais aceitar esse tipo de coisa", conclui.
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.