A manhã deste sábado (25/10) foi marcada por práticas de bem-estar e convivência no gramado da Praça da Liberdade, na Região da Savassi, em Belo Horizonte. O espaço recebeu o piquenique coletivo do VerboGentileza, uma edição especial do projeto que integra a programação do Memorial Vale Itinerante.
Gratuito e aberto ao público, o evento começou às 9h e seguiu até o meio-dia, reunindo participantes de diferentes idades em torno de atividades que combinaram prática corporal e reflexão.
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Para Fina Nicola, membro do projeto, a ocupação da Praça da Liberdade reforça o propósito central da iniciativa. “Uma das formas de praticar a gentileza é ocupar os jardins de praças e parques. O evento promove o bem viver, traz reflexões sobre a cidade, as pessoas e o cuidado com o outro, comigo e com a comunidade.”
Fina Nicola comenta sobre a ocupação de praças e parques como prática de gentileza e convivência
Meditação guiada
A primeira parte da programação foi conduzida pela instrutora Marcela Tyb, responsável por uma aula de Yoga Flow, modalidade que trabalha o equilíbrio entre corpo e respiração por meio de movimentos contínuos. A atividade foi seguida por um momento de meditação guiada.
Entre os participantes, estava Catarina Fonseca, de 35 anos, gerente comercial, que conheceu o evento por acaso. “Tinha acabado de sair de uma prova, estava muito estressada. Meu marido estava com o nosso neném e foi convidado. Foi muita coincidência participar da aula de ioga. Foi uma forma de desacelerar e prestar mais atenção no presente”, relata.
“Durante a meditação, a instrutora nos pediu para pensar em algo pelo qual somos gratos. Pensei no nascimento do meu filho, de quatro meses, e em outros momentos. Percebi o quanto esse tipo de pausa faz diferença no dia.”
Catarina Fonseca participou do momento de meditação e reflexão no gramado da Praça da Liberdade
Reflexões sobre convívio
Às 10h30, o grupo participou da roda de conversa “Transformar com Escuta – Afetos e Acessos em Meio ao Coletivo”, com a psicóloga e psicanalista Tatiana Mundim, curadora do pilar Bem Viver no VerboGentileza. A proposta foi discutir como a escuta pode ser um instrumento de transformação nas relações sociais e comunitárias.
A especialista destacou que o encontro buscou provocar reflexões sobre o convívio e o papel da escuta na vida cotidiana. “Essa iniciativa trouxe a possibilidade de pensar o coletivo. É a oportunidade de refletir sobre o lugar do afeto e da escuta, de como podemos levar nossa experiência individual para o meio coletivo”, afirmou.
Ela explicou que o tema surgiu da percepção de um cenário de desconexão social. “Vivemos um excesso de conexão tecnológica que, paradoxalmente, nos afasta do contato humano. Desde a pandemia, esse distanciamento vem se intensificando. As pessoas estão mais isoladas, e o diálogo se tornou escasso. Queremos retomar essa escuta como gesto de vínculo e de convivência.”
Tatiana Mundim conduziu a roda de conversa 'Transformar com Escuta – Afetos e Acessos em Meio ao Coletivo'
“A roda aconteceu logo após a aula de ioga, e percebi o quanto há uma necessidade de conversas em grupo em locais abertos. O público permaneceu atento, mesmo com os ruídos da praça. Foi um momento de troca, sem julgamentos ou respostas prontas. Quando escutamos o outro, algo também se move dentro de nós”, complementa.
A psicóloga ressaltou, ainda, que a ausência de diálogo tem reflexos diretos na saúde mental. “Quando não promovemos a escuta, enfraquecemos o diálogo e o laço social. As pessoas estão cada vez mais adoecidas justamente pelo excesso de conexão com as telas e pela falta de contato humano. É um sinal de que precisamos nos reconectar.”
Durante a roda, Tatiana fez uma provocação ao grupo: perguntou quantas vezes os participantes haviam ligado para alguém apenas para saber como a pessoa estava. “Quase ninguém respondeu. Isso mostra como estamos distantes. As redes sociais nos dão uma sensação de contato, mas muitas vezes é um vínculo vazio. O tempo passa nesse lugar de distração, sem presença real.”
Práticas de bem-estar
Segundo Gabriela de Oliveira Seabra, produtora do Memorial Minas Gerais Vale, a ação tem o objetivo de aproximar o público de práticas de bem-estar e promover o uso de espaços públicos como locais de convivência. “A ideia é mostrar que essas experiências são acessíveis e podem ser incorporadas à rotina das pessoas”, afirma.
Gabriela de Oliveira fala sobre a importância de levar atividades culturais e de bem-estar para os espaços públicos
O formato do piquenique, em que cada participante leva seu lanche e sua água, reforça o caráter comunitário da iniciativa. O VerboGentileza, criado para incentivar o cuidado e a gentileza como práticas cotidianas, busca estimular hábitos de convivência e atenção coletiva em meio ao ritmo acelerado urbano.
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