Jornalista formada pela UFMG. Escreve para a editoria Gerais desde maio de 2024. Estagiou nas editorias de Diversidade e Política entre 2021 e 2023. Atuou na equipe de Redes Sociais entre 2023 e 2024 e como repórter de fact-checking em colaboração com o
Polícia Civil de Minas Gerais reforça ações de enfrentamento à violência contra a mulher durante o Agosto Lilás crédito: Reprodução/Pexels
Apenas nos últimos 30 dias, 245 pessoas foram presas por praticar violência contra a mulher em Minas Gerais. O dado faz parte dos resultados do Agosto Lilás, campanha que promove conscientização e enfrentamento à violência contra as mulheres, apresentados pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), nesta sexta-feira (29/08).
“Quebre o ciclo da violência contra mulher” foi o tema escolhido pela PCMG para o Agosto Lilás 2025. Durante este período, a corporação, em especial a Diretoria Estadual das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, intensifica as ações contra este tipo de crime em todo o estado.
A campanha acontece em comemoração à Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), decretada no dia 7 de agosto de 2006, que completa 19 anos em 2025. Segundo o Ministério das Mulheres, a legislação é reconhecida internacionalmente como uma das mais avançadas sobre o assunto, sobretudo para garantir a segurança e a dignidade das vítimas.
Dados de agosto da PCMG:
6.520 inquéritos policiais instaurados
5.286 procedimentos concluídos
4.893 medidas protetivas solicitadas
181 operações policiais para cumprimento de mandado de prisão e busca e apreensão foram realizadas
245 mandados de prisão por crimes contra mulheres foram cumpridos
Legenda (da esquerda para a direita): delegada Danubia Quadros (chefe Defam), delegado Julio Wilke (chefe da Superintendência de Polícia Judiciária) e delegada Larissa Maia (Diretoria das Deam's) Divulgação/PCMG
Outras ações
A Diretora Estadual das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, delegada Larissa Maia Falles, destacou que a criação da diretoria em agosto do ano passado foi um grande avanço no combate à violência contra a mulher. “Todas as ações foram criadas e intensificadas com a criação da diretoria”, disse Falles.
Ela ainda falou sobre a Operação Amparo, que marcou o começo do Agosto Lilás. Em seu primeiro dia efetuou 47 prisões, cumpriu 88 mandados de busca e apreensão e fez quase 600 visitas tranquilizadoras.
Além disso, também foram realizadas quase 500 ações educativas como palestras em ambientes, panfletagem e blitze educativas. Também foi lançada uma cartilha do programa Dialogar, que trabalha grupos reflexivos com os agressores.
A chefe do Departamento Estadual de Investigação, Orientação e Proteção à Família, delegada Danúbia Soares Quadros explica que quando um homem recebe uma medida restritiva, ele é obrigado a participar do programa. Caso não cumpra a determinação, o autor pode, inclusive, ser preso em flagrante.
“A gente tá, cada vez mais, tendo esse olhar para os homens, para que eles entendam que violência psicológica é crime, que violência moral é crime e para que possamos prevenir todo e qualquer tipo de violência cada vez mais”, afirmou Quadros.
Quebrando o ciclo de violência
O Mapa da Violência de Gênero, do Senado Federal, mostra ainda que 61% das mulheres que sofreram algum tipo de violência não registraram ocorrência. Além disso, sete em cada 10 não buscaram medidas protetivas, mesmo sofrendo agressões.
Durante a divulgação dos resultados do Agosto Lilás o delegado-Geral Júlio Wilke, Superintendente de Investigação e Polícia Judiciária, explicou que a expectativa é que aumente o número de registros de violência contra a mulher nos próximos meses. Isso acontece porque, com a campanha, mais mulheres tenham coragem para denunciar seus parceiros.
“Quando a gente fala da redução do crime contra a mulher é sempre complexo, porque a gente trabalha, infelizmente, com a “cifra negra”. Às vezes tem um aumento, mas isso é positivo, porque as mulheres estão denunciando mais. A gente acredita que com o fim do Agosto Lilás e todos as políticas desenvolvidas, que aumente um pouco os registros”, declarou Wilke.
O termo “Cifra Negra” se refere a todos os crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades. Isso pode ocorrer por diversos motivos como: medo em ser revitimizada pela polícia, medo de ser punida pelo parceiro ou, até mesmo, desconhecimento das leis.
“Infelizmente é muito comum. A grande maioria das mulheres que nos procuram já estão no ciclo de violência há mais tempo e, normalmente, quando acontece a violência física ou uma tentativa de feminicídio. Por isso a importância de todos entenderem que violência moral e psicológica é crime, e todas essas violências devem ser notificadas desde o primeiro cometimento”, afirma a delegada Danúbia Quadros.
Violência de gênero em Minas
Ainda segundo o Mapa da Violência de Gênero, entre janeiro e junho deste ano, foram cometidos 60 feminicídios e 2.285 estupros em Minas Gerais. No Brasil, 481.218 mulheres foram vítimas de algum tipo de violência em 2025.
Na terça-feira (26/08), o Estado de Minas noticiou a morte de uma mulher em Coronel Fabriciano (MG), no Vale do Rio Doce. Ela foi degolada com um espelho pelo companheiro em plena luz do dia. Preso, o suspeito afirmou que cometeu o crime depois de “se cansar” com várias traições e disse que, agora, nem ele nem a mulher sofreriam mais.
No dia 16 de agosto, duas mulheres, de 43 e 46 anos, foram mortas em um intervalo de horas em Belo Horizonte (MG) e Uberlândia (MG), na Região do Triângulo. Nos dois casos, os principais suspeitos do crime são os companheiros das vítimas, que eram policiais penais.
O caso de BH aconteceu no bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste da capital mineira. Priscila Azevedo Mundim, de 46 anos, foi asfixiada e esfaqueada no apartamento em que o namorado morava. O suspeito é o policial penal Rodrigo Caldas, de 45 anos, que estava afastado do cargo por “problemas psiquiátricos”.
No Triângulo Mineiro, uma policial penal de 43 anos foi morta a tiros pelo companheiro, também policial penal, no apartamento em que moravam em Uberlândia. O suspeito, de 25 anos, tentou se matar após o ataque, foi socorrido e morreu no hospital.
Como denunciar?
Polícia Militar (Emergência) Telefone: 190
Delegacia de Polícia Civil – Procure a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) ou a Delegacia Especializada de Investigação à Violência Sexual
Disque 180 – Central de Atendimento à Mulher , com funcionamento 24 horas
Disque 100 – Denúncias de violações de direitos humanos, incluindo violência sexual
Hospitais e Serviços de Saúde - Procure o setor de emergência de hospitais públicos e centros de referência para atendimento médico e coleta de provas
Registro da ocorrência on-line, por meio da delegacia virtual ou pelo aplicativo 'MG Mulher'