Minas Gerais é palco de ensaio fotográfico que financia causa ambiental
Patrimônios culturais de Diamantina e Ouro Preto são fotografados para levantar fundos do projeto socioambiental ‘Água Vida’
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Preservação da natureza, educação ambiental e resgate da cidadania são alguns dos objetivos do projeto ‘Água Vida’, criado pelo fotógrafo e ativista Mário Barila. A organização vem apoiando ações, sobretudo socioambientais, a partir de recursos arrecadados com a venda de fotografias e doações.
Em Minas Gerais, as cidades de Brumadinho e Mariana foram alvo do projeto que, após o rompimento das barragens de rejeitos, financiou a plantação de mudas de árvores em cada município. Agora, o ativista está na fase final de revitalização do centro histórico de Tiradentes.
A fotografia é uma paixão antiga de Barila. Natural de São Paulo, contou ao Estado de Minas que admira a arte desde a adolescência, mas conseguiu se dedicar depois da aposentadoria. Ele se especializou na área a partir de um workshop feito pelo renomado fotógrafo Araquém Alcântara, precursor da fotografia de natureza no Brasil.
Neste ano, o paulistano foi um dos convidados do “Seminário 180 Anos da Chegada da Fotografia a Minas Gerais”, evento que reuniu pesquisadores, estudantes e o público para refletir sobre fotografias e os contextos sociais e políticos do século XIX no estado. As cidades históricas Diamantina e Ouro Preto foram palco do evento - e também de um ensaio fotográfico inédito de Barila. As fotografias feitas nos municípios serão comercializadas a fim de levantar fundos para o seu projeto socioambiental.
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Projeto Água Vida
Sensibilizado com questões ambientais, Barila fundou o projeto Água Vida em 2014. O ativista transformou sua paixão pela fotografia em uma ferramenta para conseguir financiar ações de preservação socioambiental. O projeto já conseguiu participar de uma série de ações em estados brasileiros, mas também de maneira internacional, como em Portugal e no Nepal.
Em Minas Gerais, Mariana foi o primeiro destino do fotógrafo. Ele estava na primeira ação do projeto em Ilha Bela, no litoral norte do estado de São Paulo, realizando o plantio de árvores em uma área degradada. Naquele momento, pensou em repetir a ação na cidade mineira, que tinha acabado de passar pelo rompimento da barragem. Em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, levou 500 mudas de plantas típicas da Mata Atlântica ao município.
A cidade de Brumadinho também foi um destino do projeto. Em julho de 2019, o ativista doou a mesma quantidade de mudas, com o intuito de promover uma reparação ambiental no município após o rompimento da barragem em janeiro daquele ano.
Agora, o projeto está trabalhando ativamente na restauração das obras paisagísticas de Burle Marx, localizadas no centro histórico de Tiradentes, participando de plantio e doação de mudas.
“Ele [Burle Marx] fez o paisagismo das principais praças e largos lá de Tiradentes. Essas árvores morreram, caíram, tiveram que ser podadas, né? Ao contrário do que se pensa, a árvore não dura para sempre. Ela tem uma vida útil, um ciclo. Nós já refizemos paisagismo em vários lugares da cidade e o lugar mais difícil que está em fase final de ser recuperado é o Largo do Rosário”, contou.
Todas as ações do Água Vida seguem o mesmo modus operandi: o ativista realiza parcerias nas cidades que busca atuar, fotografa o local e comercializa as imagens para conseguir levantar recursos para realizar as ações.
Ensaio fotográfico em cidades históricas de MG
Diamantina e Ouro Preto, duas das cidades mineiras tombadas pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade, se tornaram palco para o novo ensaio fotográfico por Barila. Com o convite para participar do evento dedicado à chegada da fotografia em Minas, realizado em junho, Barila expôs sua fotografia nos dois municípios históricos e, aproveitando a passagem pelo estado, decidiu fazer um novo ensaio fotográfico.
A série fotográfica de Minas Gerais expõe a beleza de alguns cartões postais das cidades. Um dos cenários escolhidos em Diamantina foi o centro histórico, em destaque a Casa da Glória, edifício que foi construído entre os séculos XVIII e XIX. Já em Ouro Preto, o cenário foi a Casa de Santos Dumont, que pertencia à família do pai de aviação.
A presença de bailarinas locais no ensaio fotográfico pode ser considerado o maior destaque. Ao EM, Barila explicou que vem fotografando bailarinas desde um ensaio que realizou há alguns anos. Em parceria com a Universidade Federal do Amazonas, o ativista foi ao estado fotografar macacos da espécie sauim-de-coleira, que estava em risco de extinção.
“Eu fiquei lá durante uns quatro dias, acordando às quatro horas da manhã, em busca de fotografar o macaco. Mas ele [macaco] não aparecia”, contou. Com a dificuldade, ele chegou a prometer a si mesmo que o próximo ensaio fotográfico que fizesse seria com bailarinas - e ele cumpriu sua promessa.
Em Minas Gerais, Barila decidiu não ser óbvio nas imagens. “Quando cheguei em Diamantina e Ouro Preto, falei que não iria ficar tirando foto da janela e da fechadura da porta dos casarões, sabe? Aquelas fotos que todo mundo faz”, contou. Assim, foi em busca de escolas de balés nos municípios.
O ensaio fotográfico pode ser considerado uma crítica ao descaso com as cidades que estão correndo o risco de perder o título de Patrimônio Histórico. O Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), organização associada à Unesco, emitiu um alerta à prefeitura de Diamantina sobre a pavimentação de ruas do centro histórico. Ouro Preto também pode perder o título por causa de projetos de mineração.
“Nesses dois ensaios, tive o objetivo de chamar atenção para a necessidade de preservar as cidades históricas de Minas. A ideia era essa, com graça, com beleza, com o balé que acho muito bonito, muito fotogênico”, destacou.
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A sua estadia em Minas Gerais não foi somente dedicada à fotografia. Barila destacou ações que foram realizadas nos municípios. “A gente plantou algumas mudas em Diamantina, em uma praça onde era um antigo lixão que foi removido e está sendo recuperado, se tornando uma praça para a comunidade local. Também quis plantar em Ouro Preto e na cidade fizemos um pequeno bosque de ipês no terreno de um restaurante", contou o ativista.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice