Homem impediu a própria mulher de sair de casa com puxões e agressão -  (crédito:  Reprodução/Redes sociais)

Homem impediu a própria mulher de sair de casa com puxões e agressão

crédito: Reprodução/Redes sociais

 

Uma mulher de 27 anos foi agredida fisicamente pelo próprio marido na porta de casa, gritando por socorro e em plena luz do dia, na última quinta-feira (11/4). Ela teria descoberto que o homem marcava um programa com uma prostituta e isso seria o motivo alegado por ele para cometer o crime, que foi gravado e teve as imagens divulgadas na internet. O caso ocorreu em Uberlândia, no Triângulo Mineiro.


A vítima relatou à Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) que a violência começou quando ela mencionou ao marido que iria pedir separação e decidiu ir para casa da mãe após descobrir que o homem, com quem estava junto há 12 anos, estava trocando mensagens com uma prostituta para marcar um programa.

 


Para impedir a mulher de sair de casa, o marido a agrediu e a arrastou pelos cabelos para o lado de dentro do portão, em plena calçada da residência onde moram. Ela chegou a cair no chão ao ser puxada com força e continuou resistindo.

 

 


Enquanto a mulher dizia, em tom de súplica, “pelo amor de Deus, eu não quero ficar aqui”, o homem pedia “me ajuda aqui” para pessoas que testemunhavam a cena. Um dos espectadores gravou o acontecido. No vídeo, é possível ouvir uma voz falando “solta ela”, mas ninguém intervém fisicamente e a gravação termina com a vítima no chão do lado de dentro da casa e com o agressor fechando o portão.


A reportagem entrou em contato com a vítima, mas ela preferiu não falar sobre o caso por estar abalada. Ela tem receio da repercussão que o acontecido teve no município.


Após a agressão, a Polícia Militar foi acionada e se dirigiu ao local, mas o homem havia fugido. No boletim de ocorrência, é relatado que a vítima foi orientada a ir até a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher de Uberlândia.


Em Minas, ataques são recorrentes 

 

O caso reflete a realidade de muitas mulheres por todo o estado. Apenas nos dois primeiros meses do ano, Minas Gerais registrou uma média diária de 411 casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, totalizando 24.676, segundo relatório da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Nos últimos três anos, no período de janeiro a fevereiro, os casos também ultrapassaram 20 mil. Os números, porém, podem ser ainda piores, uma vez que muitas vítimas deixam de denunciar as agressões.


Procurada para esclarecer quais medidas podem ser tomadas após a agressão, a Sejusp informou que a vítima deve se dirigir ao local para solicitar medida protetiva contra o agressor. Na delegacia do município no Triângulo Mineiro, um pedido como esse é frequente. Em 10 dias, a unidade recebeu 42 solicitações de medidas protetivas. Além disso, registra, em média, 6 a 7 casos de violência por dia.


Diante do caso que repercutiu e chocou internautas, Patrícia Habkouk, promotora de Justiça e coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (CAOVD) do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), declara que ataques como esse, recorrentes no estado, não acontecem de um dia para o outro, “vêm numa escalada, normalmente uma agressão verbal, depois uma violência psicológica, é um tapa, é um empurrão, é uma desqualificação, até que vem um episódio de violência física.”


Não são raros os casos de agressões contra mulheres que escalam ainda mais, resultando na morte das vítimas. Em Minas, dados de janeiro e parciais de fevereiro revelam que neste ano foram registrados 58 feminicídios (15 consumados e 43 tentados).


Por isso, a coordenadora do CAOVD ressalta a importância das delegacias das mulheres e outros recursos ligados ao tema. “O que a gente precisa fazer é seguir firme na lógica de fazer campanhas educativas, informativas, melhorar o acesso das mulheres ao sistema de proteção”, avalia.


Centro de apoio às vítimas em BH

 

A trágica realidade para mulheres no estado foi uma das motivações para o Ministério Público de Minas Gerais criar o Centro Estadual de Apoio às Vítimas, em agosto de 2023. Nomeado de Casa Lilian, cujo nome remete a um espaço de acolhimento e homenageia Lilian Hermógenes da Silva, servidora do MPMG assassinada a mando do ex-marido em agosto de 2016, o centro será um ponto de atendimento psicossocial para vítimas de todo o estado de Minas. “Um apoio para que o processo de Justiça não seja um fardo tão pesado como o crime”, descreve a promotora de Justiça Ana Tereza Ribeiro, coordenadora do centro, cuja previsão para inauguração é maio deste ano.


O local vai atender de forma humanizada vítimas diretas e indiretas de crimes dolosos contra a vida, violência sexual e crimes de ódio e racismo.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Rocha