Exame laboratorial confirmou que Nathan estava com dengue -  (crédito: Arquivo pessoal/família)

Exame laboratorial confirmou que Nathan estava com dengue

crédito: Arquivo pessoal/família

Entre idas e vindas à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), um bebê de seis meses morreu em Formiga, no Centro-Oeste de Minas, com dengue, no dia 11 de março. Embora a Secretaria Municipal de Saúde do município ainda trate o caso como suspeito, exame laboratorial confirmou a doença. A família denuncia negligência médica.

 

De acordo com a certidão de óbito, Nathan Costa morreu de parada respiratória, dengue grave, choque grave refratário e plaquetopenia, que é o número baixo de plaquetas no sangue.

 

O menino começou a passar mal no dia 27 de fevereiro. Dois dias depois, apresentou quadro febril. A família, então, decidiu levá-lo à UPA. Lá, não houve um diagnóstico conclusivo.

 

“O médico falou que era virose, passou antialérgico, lavagem nasal e disse que se não passasse em três dias para voltar”, relembra a mãe, Larissa Aparecida Costa.

Como a febre não passou, os pais retornaram com Nathan para a UPA. Ao todo, a família esteve na unidade por seis vezes. Em uma delas, um clínico geral chegou a receitar azitromicina, isso antes mesmo de ser realizado o teste de dengue no bebê.

 

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Sem solução, a família decidiu, no dia 8 de março, procurar atendimento particular na Santa Casa. O médico, também clínico geral, pediu alguns exames, dentre eles o de COVID-19. Como deu negativo, ele recomendou que Nathan fosse internado para que investigassem a causa da febre.

 

A internação custaria à família cerca de R$ 3,5 mil. Sem dinheiro, os pais decidiram retornar com o filho para a UPA. No mesmo dia, a pediatra da unidade resolveu pedir o exame de dengue para “descartar o óbvio”, segundo a mãe. Contudo, o exame deu reagente para a doença.

 

Mesmo com o bebê debilitado, a médica passou orientações para a mãe e orientou que voltassem para casa já que as plaquetas não estavam muito alteradas. Contudo, o quadro se agravou dois dias depois.

 

De volta à UPA, a família enfrentou o verdadeiro descaso. Foram cinco horas entre a chegada e o devido atendimento. Inicialmente, o médico pediu para que o bebê fosse colocado apenas no soro.

Transferência



O menino, conforme a mãe, só foi transferido para a Sala Vermelha por insistência das enfermeiras para que o médico providenciasse. “Ele estava hepático, já não estava respirando direito, o coraçãozinho estava batendo mais devagar”, relembra a mãe. Ela disse ter ido atrás do médico várias vezes.

 

“Ele ficou todo gelado, o pezinho roxo, a mãozinha roxa, a boquinha roxa, ficamos esperando, esperando o médico e ele não vinha”, conta Larissa.

 

Quando, finalmente, houve a transferência pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da UPA para a Sala Vermelha da Santa Casa – uma unidade funciona em frente à outra – o bebê não resistiu.

 

“A minha opinião é de que antes de arrumar papel, era medicar o menino, depois ia tentar a vaga. Por que para eu pagar R$ 3,5 mil tinha vaga e para o SUS não? Ela estaria disponível apenas para pagar? Eles esperaram tudo acontecer, chegar no extremo. Quero justiça, sim, eu deixei bem claro que eu ia atrás de justiça lá na Santa Casa”, desabafou Larissa.

 

O que diz a prefeitura

Em nota, a diretoria da Unidade de Pronto Atendimento (UPA Formiga) lamentou o ocorrido e disse que estão sendo realizadas as investigações de todos os procedimentos feitos na unidade.


“Ressalta-se que os médicos que atenderam o paciente são profissionais com experiência em urgência e emergência, incluindo pediatra. No entanto, infelizmente, a evolução foi insidiosa, tanto pela avaliação clínica quanto pelos exames laboratoriais, que mostraram alteração abrupta dos dias 7 e 8, quando foi atendido, para o dia 10 de março, quando retornaram à UPA”, consta na nota.


Nesse dia, o paciente apresentou valores de risco, tendo piora clínica importante na parte da noite, sendo internado e transferido pelo contato via Samu para a Sala Vermelha da Santa Casa de Formiga.

 

“Ressaltamos que estamos vivendo um momento de calamidade no contexto de um surto de uma doença que, infelizmente, não possui tratamento específico e tem uma evolução inesperada”.



A assessoria da prefeitura disse ainda que apenas a Secretaria de Estado de Saúde (SES) pode confirmar ou descartar se o óbito será registrado como dengue. Oficialmente, o município diz não ter mortes pela doença.