Mãe de uma criança autista, Vitória Ferreira (de amarelo), de 33 anos, quebrou janela aos socos para salvar a família de incêndio após caminhão-tanque tombar às margens do Anel Rodoviário, em BH -  (crédito: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press)

Mãe de uma criança autista, Vitória Ferreira (de amarelo), de 33 anos, quebrou janela aos socos para salvar a família de incêndio após caminhão-tanque tombar às margens do Anel Rodoviário, em BH

crédito: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press

Moradores das casas às margens do Anel Rodoviário, no Bairro Goiânia, Região Nordeste de Belo Horizonte, viveram momentos de desespero na madrugada desta quinta-feira (14/3) depois que um caminhão carregado com combustível tombou, pegou fogo e incendiou residências. Três pessoas foram levadas em estado grave ao Hospital João XXIII, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.

 

 

As chamas invadiram rapidamente os imóveis. Mãe de um filho autista, de seis anos, a analista comercial Vitória Ferreira, 33, precisou quebrar com a própria mão a janela de casa para salvar a família. Ela mora no local com os dois filhos, o mais velho de 13 anos. “O que dificultou para a gente é porque as janelas têm grade, e aí, por sorte, uma delas era basculante, então eu quebrei no soco. Passei pelo basculante, em seguida eu passei o meu filho mais velho”, relatou ao Estado de Minas.

 

 

Na tentativa de ajudar a filha a quebrar o vidro, Marlucia Soares saiu com o braço machucado e levou dez pontos. "Nós tentamos sair pela porta principal, mas não tinha como. O jeito era ir pelos fundos. Eu fui tentando quebrar a janela pra gente sair. A fumaça foi tomando conta, a gente foi pro banheiro, ligou o chuveiro, mas tinha que sair de alguma forma", contou à reportagem na porta do Hospital João XXIII, na Região Centro-Sul, onde foi atendida depois passar mal por ter inalado muita fumaça. 

 

Apavorado, o filho mais novo de Vitória não conseguiu passar pela janela e os vizinhos tiveram que acudir. O jeito foi abrir um buraco na parede. "Ele estava querendo ir para o lado do fogo, porque não tem maldade nenhuma. Mas, graças a Deus, nós conseguimos sair com a vida", relata Marlucia. “Tinha muito vidro. Eu tava por fora, então, comecei a gritar por socorro. O pessoal veio com uma marreta, subiram para o telhado e começaram a quebrar a janela para poder tirar a gente de lá”, completou Vitória

 

Passado o susto, Vitória cravou: “parecia cenário de guerra”. A casa da família é uma das quatro que ficaram completamente destruídas pelas chamas. “Eu não tinha percebido o que era. Quando olhei, vi o carro da empresa do meu pai pegando fogo e explodindo. Automaticamente alastrou esse fogo para dentro da minha casa”, disse. "Queimou tudo. Foi muito triste, uma sensação muito horrível. Muita gente gritando", acrescentou Marlucia.

 

O acidente

Na madrugada desta quinta, por volta das 2h25, um caminhão-tanque tombou, pegou fogo e incendiou casas e carros às margens do Anel Rodoviário, no Bairro Goiânia, Região Nordeste de Belo Horizonte. O motorista do caminhão morreu carbonizado no local do acidente. O tanque foi danificado pelo impacto da queda e a carga de combustível vazou, escorrendo e levando as chamas por três quarteirões.

 

 

Com o impacto da queda, o tanque foi danificado e a carga de combustível vazou, escorreu e criou uma ‘rua de fogo’, levando as chamas por três quarteirões. Oito residências e dez veículos foram atingidos. Famílias saíram às pressas de casa e pelo menos nove pessoas — quatro homens, três mulheres e duas crianças — tiveram lesões como queimaduras ou pequenos traumas na tentativa de se salvarem.

  

De acordo com informações preliminares, o caminhão-tanque saiu de Betim, na Grande BH, com destino a Sabará. Ele seguia na BR-381, ao virar à direita para entrar na MG-5, antiga MGC-262, o veículo tombou e pegou fogo. A tragédia pegou os moradores de surpresa, já que a maioria estava dormindo.

 

Quatro residências foram completamente queimadas. No início da tarde de quinta, a Defesa Civil interditou seis dos oito imóveis atingidos pelo incêndio — três foram totalmente interditados e, os demais, parcialmente. Quinze mil litros de água e de espuma mecânica foram usados para combater as chamas.

 

 

Ao todo, o caminhão carregava 23 mil litros de combustível, sendo 3 mil de diesel, 10 mil de gasolina e 10 mil de álcool. Acionado para a ocorrência, o Corpo de Bombeiros fez o rescaldo de combustível dentro do tanque —cerca de 30% (estimado) do combustível total.

 

O que levou o caminhão a tombar ainda será esclarecido pelas autoridades. Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que a perícia foi ao local para realizar os primeiros levantamentos que irão subsidiar a investigação. “A ocorrência ainda se encontra em andamento. Outras informações poderão ser repassadas com o avanço dos trabalhos de polícia judiciária”, diz o texto.

 

O local segue isolado e equipes do Pelotão de Operações Químicas, Biológicas, Radiológicas e Nucleares (PQBRN) do Corpo de Bombeiros aguardam o transbordo da carga pela empresa responsável. O acesso para a MG-5 está fechado.