Irmãos mortos por policial foram velados na manhã desta terça-feira (12/3) -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Irmãos mortos por policial foram velados na manhã desta terça-feira (12/3)

crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press

Eram 11h da manhã desta terça-feira (12/3) quando os corpos dos irmãos Branio e Rafael desceram aos túmulos, lado a lado, no pequeno cemitério da Comunidade de São José, na zona rural de Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Eles foram mortos por policiais militares na noite de domingo, ao final de uma tradicional cavalgada na localidade.

A comoção era geral. Toda a comunidade esteve presente no velório, realizado durante a manhã, na Praça São Vicente, a única da comunidade. Antes mesmo do amanhecer, as pessoas já se aglomeravam na praça.

A revolta da comunidade com os assassinatos dos irmão Branio e Rafael era grande e notada por cartazes afixados na praça: "Pra quem ligar quando a polícia mata?", dizia um deles. Outro tinha os dizeres: "Polícia assassina".

Irmãos mortos por policial foram velados na manhã desta terça-feira (12/3)

Comunidade se manifestou contra violência policial

Leandro Couri/EM/D.A Press

Amigos se mostraram revoltados. "Eles não eram de briga. Nunca foram. Não se sabe de uma confusão sequer com eles, em toda a vida", disse um amigo que, por medo da polícia, não quis se identificar.

Outro amigo, J. F. S., denuncia que os irmãos foram assassinados covardemente. "Rafael estava em cima de um burro e foi arrancado de cima dele. Eles foram mortos quando estavam no chão, colocados pela polícia. Levaram tiros pelas costas."

Dor e lembranças

José, o pai dos irmãos mortos, chegou ao cemitério amparado por sobrinhos. Vai para junto dos túmulos, onde estão as noras, Paloma, de Branio, e Gabriela, de Rafael. A mãe, Silvana, prefere ficar mais distante, com Irlanda Ferreira, sogra de Branio. E próximo delas, a avó dos irmãos, Juvenil, de 80 anos.

Os corpos descem aos túmulos, com palavras proferidas pelo pastor Walis de Abreu.

Branio e Rafael têm outro irmão, Bruno, que fala da união dos dois. "Eles sempre estavam juntos. Desde pequenos. E morreram juntos, foram assassinados juntos".

Um amigo dos irmãos, José Francisco Enéas, o Zé da Vera, conta que, no domingo pela manhã, ligou para Branio. "Eu os chamei para irmos ao rodeio, mas ele disse que já tinha compromisso com a cavalgada. Se tivesse ido ao rodeio, com certeza estariam vivos.

Rafael deixa dois filhos, Diogo Gabriel, de 6 anos, e José Henrique, de 2. Branio tem um filho, Isaías, de 1.

 

Entenda o caso

Nesse domingo (10/3), o clima era de festa na Comunidade São José, em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em razão da tradicional cavalgada. No entanto, a festa que começou pela manhã e foi até a noite, terminou em uma tragédia. Os irmãos  Rafael Francisco Vieira da Silva, de 27 anos, e Branio José Vieira da Silva, de 29 anos, foram mortos, segundo testemunhas, por policiais militares. Tudo teria começado em função de uma briga entre participantes da cavalgada.

 

Ainda segundo testemunhas, os irmãos estavam separando a briga, quando os policiais militares chegaram ao local, acionados por participantes da cavalgada, para tentar apartar a briga. Foi quando os irmãos, com canivetes, agrediram os militares.

 

Um dos policiais foi atingido no pescoço, e então houve os disparos de arma de fogo, feitos por um dos militares, que atingiram os dois irmãos. E foram os militares que tentaram socorrer Rafael e Branio, que foram levados, ainda com vida, para o Hospital Municipal 25 de Maio, onde morreram.

 

Nota da Polícia Militar

"A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), por meio da 2ª Região de Polícia Militar (2a RPM), informa que durante policiamento em evento de cavalgada no povoado de São José, cidade de Esmeraldas, na noite desse domingo (10/3), precisou intervir em um princípio de tumulto envolvendo participantes do evento, sendo um dos militares atingido com um golpe de faca na região do pescoço por um indivíduo.

 

Diante a agressão, houve a necessidade de uso de técnicas de imobilização e de força, momento no qual outros transeuntes ali presentes investiram com violência contra os militares, levando-os ao solo, tentando retirar a arma da cintura de um dos militares.

 

Em virtude das agressões e dos riscos decorrentes da possível subtração da arma de fogo e para resguardar a vida dos policiais militares e demais cidadãos ali presentes, para repelir a injusta agressão foi necessário o uso de força progressiva. Dois autores foram alvejados e, imediatamente, socorridos ao hospital de Esmeraldas, onde foram a óbito.

 

A PMMG informa, ainda, que todas as medidas de Polícia Judiciária Militar foram adotadas e que a instituição acompanha o caso."