EQUIPE DA PREFEITURA DE SABARÁ TRABALHA NA RECUPERAÇÃO DO CALÇAMENTO da Região central -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A. Press)

EQUIPE DA PREFEITURA DE SABARÁ TRABALHA NA RECUPERAÇÃO DO CALÇAMENTO da Região central

crédito: Leandro Couri/EM/D.A. Press

 

Os altares das igrejas estão cobertos de roxo. Fiéis participam de retiros espirituais e muitas comunidades já percorrem vias-sacras. Farta em tradições, a quaresma é um período também de preparação para a Semana Santa (neste ano, de 24 a 31 de março), que, em Minas, atrai milhares de pessoas em busca de procissões, missas solenes, ofícios em latim e atividades culturais. De olho no turismo religioso, cidades mineiras estão se adequando para receber os visitantes e garantir conforto aos moradores, enquanto empreendedores apostam no crescimento de público para aquecer a ocupação em hotéis e pousadas, e o movimento em restaurante e lojas.


“Um mês antes da Semana Santa, já estávamos com 40% de reservas em hotéis no Centro Histórico de Ouro Preto. Sem dúvida, é nosso melhor feriado no ano”, diz William Adeodato, diretor-executivo do Ouro Preto e Circuito do Ouro Convention & Visitors Bureau, organização de marketing e turismo que congrega associações comerciais, empresários e outros.


O turismo movimenta uma grande roda na economia, levando visitantes aos hotéis, restaurantes, bares museus, feiras, lojas de artesanato e muitos outros serviços, diz William Adeodato. “Este é um feriado de mais tranquilidade, com novos públicos, e que lota os estabelecimentos. Ouro Preto, cidade que é patrimônio mundial, tem todo esse cenário de cultura e história.”


Primeira vila, cidade, capital e diocese de Minas, Mariana, vizinha de Outro Preto na Região Central, terá, depois de uma década, encenações da Paixão de Cristo diante da Igreja São Francisco, na Praça Minas Gerais, afirma, em forma de convite, o secretário municipal de Cultura, Patrimônio Histórico, Cultura e Lazer, Gustavo Leite. O templo foi totalmente restaurado e entregue à comunidade em 28 de setembro de 2023, da mesma forma que a Casa do Conde de Assumar, sede do Museu da Cidade de Mariana.


DE BRAÇOS ABERTOS

Assim como Ouro Preto e Mariana, outras cidades “arrumam a casa” para receber os visitantes. Com cerimônias religiosas que remontam ao século 18, tanto na sede do município como em distritos e bairros, a tricentenária Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, iniciou a recuperação de partes do calçamento de pedra do Centro Histórico – nas ruas por onde passam as procissões e nos espaços usados para solenidades da Paixão de Cristo. Segundo a prefeitura local, foi feito um mapeamento das áreas com problemas para posterior execução dos serviços.


O trabalho começou na manhã de quinta-feira, na Praça Getúlio Vargas, no Bairro Siderúrgica, que abriga a Matriz Nossa Senhora da Conceição, templo dedicado à padroeira do município e considerado um dos primeiros de Minas. Onde encontrou buracos, a equipe das secretarias municipais de Obras e de Meio Ambiente preencheu com pedras, as do tipo “pé de moleque”, e fez o nivelamento.


Ao ver a movimentação, a dona de uma padaria localizada na praça, Simone de Cássia da Silva Reis, falou sobre a importância da intervenção: “Tudo isso faz parte da nossa história e deve ser conservado. Na festa de Corpus Christi (em junho), a comunidade faz tapetes aqui e, assim, o piso já fica arrumado”.


Promovidas pelas paróquias Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Rosário, vinculadas à Arquidiocese de BH, as solenidades da Semana Santa em Sabará têm apoio e participação da prefeitura local, também responsável pelo sistema de sonorização na Praça Melo Viana, palco e ainda limpeza das vias públicas.


DO TRANSPORTE GRATUITO
À COBRANÇA DE MAIS APOIO


No vizinho município de Caeté (RMBH), em plena comemoração dos 300 anos de criação da Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso, as solenidades guardam tradições do tempo da Vila Nova da Rainha, uma das primeiras vilas do ouro de Minas Gerais. Neste ano, quem for à cidade terá uma bela e grata surpresa. De forma a acolher melhor os visitantes, a prefeitura local vai disponibilizar transporte gratuito, durante a Semana Santa, em direção à Serra da Piedade, distante 14 quilômetros do Centro.


Segundo a assessoria da prefeitura de Caeté, que cuida dos últimos detalhes do transporte gratuito (ligando o Centro da cidade à Serra da Piedade), serão divulgados, em breve, horários, locais de partida e como será o acesso ao topo do maciço, santuário da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, além de outras informações úteis aos interessados no passeio.


Também com programação religiosa referente à Paixão de Cristo, Raposos (RMBH), onde se encontra uma das primeiras igrejas de Minas, a Matriz Nossa Senhora da Conceição, também vem se preparando para recepcionar os visitantes e atender às necessidades da população. Segundo a prefeitura local, foram feitas várias intervenções, com destaque para a requalificação da Praça da Matriz, em comemoração ao tricentenário, no último dia 16, de criação da Paróquia Nossa Senhora da Conceição.


CRÍTICA À FALTA DE AJUDA

A exemplo das cidades vizinhas, Santa Luzia, na Grande BH, programa procissões, cerimônias, ofícios e muita participação popular, tanto no Santuário Arquidiocesano Santa Luzia e na Igreja do Rosário quanto nas capelas das comunidades de fé, destaca o reitor do santuário, padre Felipe Lemos de Queirós.


Desde a Quarta-feira de Cinzas, fiéis comparecem ao retiro espiritual quaresmal, às confissões e missas penitenciais e à via-sacra. “Tudo é feito pelo santuário, a prefeitura não ajuda em nada, a não ser disponibilizando a Guarda Municipal, nem divulga em suas redes sociais ou coloca no calendário de festas da cidade”, queixa-se padre Felipe.


Para o líder religioso, já passou da hora de as cerimônias luzienses da Paixão de Cristo serem reconhecidas pelo município como patrimônio imaterial. “Mas não há interesse”, resume. Sobre a falta de colaboração, o reitor afirma que a cidade recebe muitos turistas nessa época, mas afirma que, se a prefeitura não apoiar nem der suporte, sobretudo nos âmbitos de estrutura física e divulgação, a tradição corre o sério risco de acabar.


Na Procissão do Depósito de Nosso Senhor, no segundo dia da Semana Santa do ano passado, fiéis relataram que nem o lixo foi recolhido nas ruas. “Um absurdo! A procissão passando e os sacos de lixo empilhados na calçada, o mato crescendo nos passeios”, critica um morador. “É muito triste ver essa situação, pois temos cerimônias de grande devoção e beleza. Não há qualquer colaboração do poder público municipal. Já falei com os gestores, mas não adiantou”, lamenta padre Felipe, também coordenador do Conselho Arquidiocesano de Reitores dos Santuários da Arquidiocese de BH.


A Prefeitura de Santa Luzia, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e do Turismo, afirma que contribui no fomento dessas iniciativas e mantém os serviços essenciais, mas acrescenta que, quanto à colaboração, é necessário “um planejamento anual”. “Nesse sentido, a Mitra Arquidiocesana é membro do Conselho Municipal de Políticas Culturais e do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, instâncias que subsidiam a política cultural e patrimonial do município”.