Belo Horizonte teve as duas primeiras mortes por dengue confirmadas. Os dados são do boletim epidemiológico, publicado nesta quinta-feira (1º/2) pela prefeitura da capital. Até o momento, já são 1.414 contaminações pela doença. Outros 7.647 exames estão pendentes de resultado. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, não há nenhuma morte sendo apurada relacionada ao contágio da chikungunya e zika.

Leia: Dengue em BH: 'Nas próximas semanas, entraremos num caso de epidemia', diz secretário

A Regional do Barreiro é a que mais possui casos confirmados de dengue em Belo Horizonte. Até a tarde desta quinta-feira, foram registradas 322 contaminações. Devido à alta dos casos, os agentes da administração municipal intensificaram a fiscalização nas casas em todas regiões da cidade. O objetivo foi orientar a população e encontrar possíveis focos da doença. Logo pela manhã, os agentes foram em residências no Bairro Betânia, Região Oeste de BH. Maria Aparecida Silva Costa teve sua casa vistoriada e destacou a importância da fiscalização.



“É muito importante se todo mundo cuidasse do seu pedacinho. Assim, não haveria tantas doenças. A gente vê a UPA lotada e as pessoas reclamando da demora, mas, muitas vezes, a culpa é nossa. Então, não podemos jogar a culpa nos outros”, destaca.

A moradora foi aconselhada a ficar de olho na calha, um costume que nunca teve, pois é um lugar propício para o abrigo das larvas do mosquito da dengue, caso não seja feita a limpeza. Além disso, a moradora aponta outros cuidados que já tinha para evitar criadouros.

As ações também aconteceram no Bairro Renascença, na regional Nordeste, onde agentes da Prefeitura de Belo Horizonte e Guarda Municipal estão presentes para fiscalizar a situação de cerca de 45 lotes vagos, além de borracharias e ferro-velho, como possíveis abrigos para a dengue.

Maior perigo está em casa

Para evitar que focos de dengue se propaguem pela a cidade, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) realiza campanhas de mutirões de limpeza durante todo o ano. Em 2024, conforme a pasta, já foram feitas 14 ações, que resultaram no recolhimento de mais de 17 toneladas de resíduos em cerca de 3.200 imóveis. Para mobilizar a população, dias antes do mutirão os agentes percorrem as ruas onde será realizada a ação, informando à população a data e horário.

Apesar de termos em mente a informação de que lixo e entulho acumulado são os locais mais comuns de se encontrar larvas do Aedes Aegypti, cerca de 80% dos focos estão dentro de casa. De acordo com o último Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), realizado em outubro de 2023, 86,9% dos focos estão nas casas. Os criadouros predominantes em cada área são: 33,1% em pratinhos de plantas, 21% em inservíveis (embalagens de algum produto) e 8,9% em recipientes domésticos.

“A imensa maioria dos focos está no peridomicílio e, por isso, é tão importante a conscientização da população em relação ao seu quintal, a sua caixa d'água, a limpeza do seu lote. O peridomicílio é a região ao redor da casa, o quintal ou a caixa d'água do vizinho que está destampada, por exemplo, e não uma região de mata. Assim, o risco de contaminação para a doença seria maior pela proximidade com o foco, com alta proliferação do mosquito, a chance de se infectar é maior”, explica a médica infectologista do Serviço de Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (SCIRAS) e Referência do Núcleo de Epidemiologia da Santa Casa BH.

Estado de emergência

No sábado (29/1), Minas Gerais entrou em estado de emergência de saúde pública causada pelos aumentos de casos de dengue e chikungunya. A medida foi publicada no Diário Oficial do Estado e será válida pelos próximos seis meses. No decreto, o governador Romeu Zema (Novo) também determina a criação do Centro de Operações de Emergências de Arboviroses (COE-MinasArboviroses) para o acompanhamento dos casos. Na última semana foi registrada a primeira morte do ano por dengue em solo mineiro, ocorrida em Monte Belo, no Sul do estado.

A publicação justifica o decreto de situação de emergência a partir dos números apresentados na última atualização do boletim epidemiológico de arboviroses, divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) na sexta-feira (26/1). Só em 2024, Minas já teve 21.573 casos de dengue confirmados e 5.867 de chikungunya. Há mais de 67 mil casos suspeitos das duas doenças sob investigação, cada uma delas já causou a morte de uma pessoa neste ano. Há 34 óbitos sendo investigados sob suspeita de dengue e 2 de chikungunya.

O decreto faz uso da Lei Federal 14.133/2021 para permitir que, diante do estado de urgência, a contratação de serviços e compra de insumos e equipamentos médicos possam acontecer sem a necessidade prévia de licitação.

“Fica autorizada, em razão da situação de emergência, a adoção de todas as medidas administrativas e assistenciais necessárias à contenção do aumento da incidência de casos de Arboviroses, em especial a aquisição pública de insumos e materiais, doação e cessão de equipamentos e bens e a contratação de serviços estritamente necessários ao atendimento da situação emergencial [...] A dispensa de licitação levada a efeito com base na situação emergencial somente será permitida enquanto esta perdurar, respeitada a vigência deste decreto, com o objetivo de evitar o perecimento do interesse público, devendo a Administração Pública estadual, nesse interregno, providenciar o regular processo de licitação”, diz trecho da publicação.

Vacinação

Diante do cenário de aumento de casos de dengue em todo o Brasil, o Ministério da Saúde divulgou, na última quinta-feira (25/1), as cidades que receberão doses do imunizante contra a doença a partir de fevereiro. Em Minas, 22 municípios entraram na lista, são eles: Antônio Dias, Belo Horizonte, Belo Vale, Caeté, Coronel Fabriciano, Córrego Novo, Dionísio, Jaboticatubas, Jaguaraçu, Marliéria, Moeda, Nova Lima, Nova União, Pingo d’Água, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Sabará, Santa Luzia, Santa Maria de Itabira, Taquaraçu de Minas e Timóteo.

O governo federal espera receber mais de 6 milhões de doses do imunizante Qdenga (TAK-003), fabricada pelo laboratório Takeda Pharma, no Japão. A vacina foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março do ano passado e são necessárias duas aplicações com intervalo de três meses entre elas para a imunização completa.

Segundo determinação do Ministério da Saúde, serão vacinadas crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária em que há maior casos de internação por dengue depois de idosos, grupo que não teve a aplicação autorizada pela Anvisa. O imunizante japonês contém vírus atenuados da arbovirose e oferece respostas imunológicas contra os quatro sorotipos da doença.

A previsão da pasta é que os imunizantes sejam distribuídos na segunda semana de fevereiro. No entanto, o prazo depende da tradução da bula, conforme exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Ainda não iniciamos essa distribuição porque há uma exigência e ela tem que ser cumprida pelo laboratório produtor. É uma exigência regulatória da Anvisa que a bula esteja em português. Estamos finalizando esse processo. A partir do momento em que seja solucionada essa questão, essa é a nossa previsão. Não haverá por que ter mais delongas”, explicou a ministra da Saúde Nísia Trindade.

 

compartilhe