a avenida bernardo vasconcelos, parte da área crítica, foi tomada pela água em 2022

 -  (crédito: Adriana Regina/Divulgação - 7/12/2022)

a avenida bernardo vasconcelos, parte da área crítica, foi tomada pela água em 2022

crédito: Adriana Regina/Divulgação - 7/12/2022

Depois das ondas de calor recorde que castigaram as áreas centrais do Brasil, os estragos das chuvas ensaiam outro efeito das mudanças climáticas que ameaça a segurança dos brasileiros: as inundações provocadas por tempestades de menor duração, mas de volumes concentrados cada vez maiores, como a que surpreendeu moradores e autoridades da Grande BH na última semana, e na capital castigou especialmente as regiões Centro-Sul, Oeste, Pampulha e Venda Nova.

Efeitos já presentes, que o prefeito da capital, Fuad Noman (PSD) classificou como “novo normal”, e que, segundo modelagens climáticas, tendem a piorar já a curto e médio prazos.

Buscando se preparar para essa previsão, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) mapeou a vulnerabilidade a inundações da capital mineira até 2030.

Com base nesse estudo, o Estado de Minas mostra quais bairros são mais ameaçados em um prazo de seis anos (veja mapa na página ao lado). De todas as áreas conhecidas por sofrer com enxurradas que arrastaram pessoas, alagamentos que levam veículos e inundações que tomam moradias, as regiões que tendem a sofrer agravamento mais crítico desses desastres seriam as regionais Nordeste, Pampulha e Centro-Sul. Mas as ameaças são para toda a cidade.

Pelo mapeamento, a área que até 2030 está sujeita a eventos mais frequentes e severos de inundações fica no encontro das regionais Nordeste e Pampulha, coincidindo com a conjunção do Córrego Cachoeirinha com os ribeirões Pampulha e do Onça, somando-se a vários outros afluentes menores.

A mancha de áreas mais vulneráveis abrange os bairros Maria Virgínia, Suzana, Vila Suzana, Minaslândia, Primeiro de Maio, São Bernardo, Vila Aeroporto, São Tomáz, Vila São Tomáz, Ipiranga, Palmares e União.

Temporal e caos no fim de tarde

Uma amostra do potencial de estragos desse complexo de encontro de corpos hídricos sob tempestades foi sentida em 7 de dezembro de 2022, em pleno horário de pico de uma quarta-feira, entre 17h30 e 20h30.

Com a Avenida Cristiano Machado e a Estação de Integração com Metrô do BRT Move São Gabriel já lotadas, bem como as vias do entorno, a exemplo da Avenida Bernardo Vasconcelos, uma chuva de 136,6 milímetros (40,3% do esperado para todo o mês) fez transbordarem ao mesmo tempo o Córrego Cachoeirinha e os ribeirões Pampulha e Onça. Foi o bastante para que o caos se instaurasse. Carros ficaram ilhados.

Ocupantes abandonaram veículos que flutuavam e eram arrastados, batendo uns contra os outros. Outros buscaram abrigo sobre o teto dos automóveis que estavam afundando.

Uma criança de 9 anos foi arrastada pela enxurrada que chegava a formar ondas de água escura na altura da Vila Suzana, e se perdeu dos familiares, que ficaram desesperados. Ela conseguiu se agarrar e foi salva por militares do Corpo de Bombeiros. No Bairro União, uma mulher dentro de um Fiat Pálio estava quase submersa quando o cabo Lana, da Polícia Militar, abandonou seu veículo e nadou até a vítima para salvá-la.

Ela teve uma das pernas feridas e estava em estado de choque, o que não a permitiu sair do carro por si só em meio à inundação.


Na Avenida Bernardo Vasconcelos, no Bairro Ipiranga, a fúria das águas do Córrego Cachoeirinha não poupou as áreas mais vulneráveis. Vários veículos foram arrastados, móveis de lojas e até uma banca de jornais e um freezer foram levados pela correnteza.

A enxurrada invadiu garagens de prédios, lojas e pontos de comércio, espalhando prejuízos. No dia seguinte, o rastro de destruição mostrava asfalto de várias vias esburacado e lama, lixo e veículos enguiçados espalhados por toda parte. Aos moradores e trabalhadores, restou a limpeza e o lamento.

Esforço para prevenção

Essa é também a área onde a PBH mais investe em sistemas de drenagem no momento. São quase R$ 250 milhões em ampliação de canais e criação de bacias para contenção e amortecimento da força das águas das chuvas.

“São áreas que, em função da ocupação adotada pela cidade, se encontram extremamente vulneráveis a inundações. Belo Horizonte cresceu instalando largas avenidas sanitárias sobre e ao longo dos cursos d'água.

Ocorreu um processo de impermeabilização das bacias, quase não se tem áreas verdes que possam servir para recarga. Assim, nos eventos de chuvas intensas, a água escorre rapidamente para os leitos dos cursos d’água, que não comportam esse volume extra e transbordam”, explica o professor Antoniel Fernandes, dos departamentos de Geografia e Biologia da PUC Minas.

“É um grande problema, porque é uma região densamente povoada e com grande volume de passageiros, pois liga a Região Norte com a região central de Belo Horizonte. Tem, sim, muita urgência em receber ações que possam reduzir esses danos e prevenir muitos deles”, completa o especialista.