O presépio e a paisagem feita por autor desconhecido, que remete ao povoado de cuiabá e é mostrada somente no período natalino: obra foi encontrada em armário atrás de um altar há 20 anos

 -  (crédito: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

O presépio e a paisagem feita por autor desconhecido, que remete ao povoado de cuiabá e é mostrada somente no período natalino: obra foi encontrada em armário atrás de um altar há 20 anos

crédito: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS

Espaços sagrados da fé, as igrejas barrocas de Minas são também guardiãs de histórias, arte e até alguns segredos. Em muitas delas, há peças centenárias só vistas na época do Natal, como ocorre com um painel do presépio da Igreja Nossa Senhora do Carmo, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Em plena comemoração dos seus 260 anos, o templo, que tem obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), apresenta particularidades que valorizam ainda mais o patrimônio da cidade tricentenária.


Com 3 metros de comprimento e um metro de largura, o painel do final do século 19, feito em tecido rústico, compõe a gruta do nascimento do Menino Jesus. “Foi uma senhora aqui de Sabará, dona Dária Vieira, falecida com mais de 100 anos, que nos contou sobre a peça. Disse que era usada apenas no tempo do Natal, no presépio”, revela o pesquisador da história local, José Bouzas, chefe do Departamento de Patrimônio da Ordem Terceira do Carmo de Sabará.


Um dos responsáveis por montar o presépio, juntamente com Érico Luis Gomes Carmo e Welerson Costa Siqueira, colaboradores paroquiais, Bouzas explica sobre a origem da peça em policromia: “Há cerca de 20 anos, nós a encontramos, enrolada, debaixo de um armário, atrás do altar do Santíssimo Sacramento, aqui na Igreja do Carmo. Ficamos surpresos com a descoberta, pois ninguém da irmandade conhecia a peça. Então, fomos pesquisar e ouvimos os esclarecimentos de dona Dária.”


PAISAGEM MINEIRA

Na paisagem rural mostrada no painel de autoria desconhecida, há algumas casas que podem ser, segundo Bouzas, do antigo povoado de Cuiabá, no caminho para Caeté (RMBH). “Esse lugar dos tempos coloniais, com três séculos, não existe mais. A área pertence, hoje, a uma mineradora. Acreditamos que a pintura possa ser obra de um antigo morador de Cuiabá.”


O quadro mostra um lugar bem mineiro, com montanhas e plantas. Já o presépio tem os panos tradicionais usados na recriação dos montes, feitos com esmeril – “pedra de minério moída”, ensina José Bouzas, como se fosse uma serra que brilha sob a luz do Sol. Érico Luís, que aprendeu a fazer presépio com os pais, seguindo a tradição de família católica, diz que todo ano a experiência é única: “Cada figura, cada oração... cada pedra, um caminho. No presépio, não existe ovelha perdida, pois todos estão ligados ao Pai.”


COMEMORAÇÃO

Quem visita a Igreja do Carmo, no Centro Histórico de Sabará, pode ver um dos templos barrocos mais importantes de Minas. Portanto, antes de seguir viagem, é bom conhecer um pouco da história. Conforme o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo tombamento em 1938, deve-se à Ordem Terceira do Carmo a iniciativa da construção da igreja, cujas obras, iniciadas em 1763, foram contratadas com o mestre Tiago Moreira, autor do risco. Quatro anos depois, houve a entronização da imagem de Nossa Senhora do Carmo, mas em 1768 a ordem decidiu modificar o projeto original do frontispício.


Assim, as obras compreenderam o período de 1771-1774 e contaram com a participação de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, a quem se atribui a autoria dos trabalhos de escultura que ornamentam o frontispício, especialmente a portada. Aleijadinho e seus oficiais foram responsáveis ainda pelos trabalhos de escultura dos púlpitos, coro e balaustradas, conforme documentos datados de 1779 e 1781, sendo igualmente de sua autoria as imagens de São João da Cruz e São Simão Stock, concluídas em 1779.


Segundo o Iphan, todos os trabalhos ornamentais em pedra-sabão executados são atribuídos ao Aleijadinho e seus oficiais, verificando-se que os ornatos da cimalha e das sobrevergas das janelas não apresentam o mesmo apuro técnico conferido à portada. Os anjos laterais e o querubim central dão excepcional realce à composição central.

Diz um documento do Iphan: “Supõe-se ter Aleijadinho executado pessoalmente a portada, cabendo-lhe apenas a autoria do risco nos demais elementos ornamentais. Internamente, tanto a nave como a capela-mor apresentam piso em campas e forros curvos, de tabuado liso, com pintura decorativa. Essas são separadas por grades de madeira torneada, de desenho modulado, que se repetem na balaustrada do coro, de autoria de Aleijadinho, em concepção arrojada, cujas linhas moduladas acentuam o efeito de profundidade e monumentalidade. É guarnecido por bela balaustrada em madeira torneada, com colunas e ornatos dos suportes de gosto rococó.”


ATLANTES

Destacam-se, lateralmente, duas expressivas esculturas de atlantes. Também de autoria do Aleijadinho, os púlpitos apresentam enquadramento das portas e suportes em pedra trabalhada e tambores em madeira com superfícies onduladas, com esculturas em baixo-relevo reproduzindo cenas do Novo Testamento nas faces centrais.


Dos três altares existentes, os dois do arco-cruzeiro se caracterizam pela boa qualidade da talha e decoração de gosto rococó. As pinturas principais são de autoria de Joaquim Gonçalves da Rocha, existindo, porém, indícios de acréscimos e repinturas. No conjunto de imagens, destacam-se as de São João da Cruz e de São Simão Stock, alojadas nos altares do arco-cruzeiro, esculpidas pelo Aleijadinho. n

Serviço

Igreja Nossa Senhora do Carmo

Rua do Carmo, s/nº, Centro Histórico de Sabará

Aberta de segunda-feira a domingo, das 9h às 11h e das 13h às 17h

Entrada: R$ 5