Deborah Carvalho Malta é professora no Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
       -  (crédito:  UFMG/Divulgação)

Deborah Carvalho Malta é professora no Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

crédito: UFMG/Divulgação

Deborah Carvalho Malta é professora no Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e foi classificada em primeiro lugar na segunda edição do ranking anual online das Melhores Mulheres Cientistas do Brasil. Eleita pela plataforma internacional de pesquisa acadêmica Research.com, ela relata que a rede de apoio de mulheres com que contou ao longo de sua formação foi crucial para que ela conseguisse chegar a esta posição de destaque.

Na escala mundial, a professora ocupa a colocação 885, somando 770 publicações e mais de 97 mil citações. Quando começou a se dedicar à pesquisa, no início do mestrado, Deborah se deparou com um desafio que atinge muitas mulheres: a tripla jornada de trabalho. Além dos estudos, a pesquisadora tinha de sustentar a função de mãe de bebês e trabalhar.

“Quando comecei meu mestrado, foi quando senti mais essas adversidades, porque meus meninos eram muito pequenos: um de 2 anos, e o outro, de 4, então era muito desafiador trabalhar, estudar e criar os filhos, e na época não consegui liberação do trabalho”, lembra Deborah.

A pesquisadora conta que chegou até mesmo a ter lesão por esforço repetitivo (LER), que, como ela enfatiza, “é uma doença profissional que tem tudo a ver com essa coisa do estresse, de pressão mesmo, a tripla jornada: trabalhar, estudar e ser mãe de bebês. Então foi muito estressante, muito difícil”, relata.

A LER se tornou um empecilho na hora de digitar, então o apoio da mãe foi fundamental, tanto para ajudar a cuidar das crianças quanto na hora de escrever a tese do mestrado. “Digitar, para mim, era um sofrimento. Às vezes, eu contava com o apoio, inclusive, da minha mãe. Ditava para ela alguns trechos da tese, gravava, e ela me ajudava muito”, diz Deborah.

Para a professora, estar cercada de mulheres na UFMG também foi um aspecto positivo durante sua trajetória: “Falo que sou muito privilegiada, porque estou em uma universidade pública, que apoia a pesquisa e que também tem muitas mulheres, em posições importantes e estratégicas. Estou numa faculdade de muitas companheiras”, conta.

Em comparação com a própria trajetória, destaca como a rede de solidariedade dentro de seu local de trabalho abraça mulheres, principalmente mães. “Quando uma mulher, por exemplo, sai de licença de gestação no nosso departamento, a gente, de alguma forma, também se mobiliza. Quando ela retorna, é a inserimos no grupo, nas pesquisas, nas análises, nos artigos, porque a mulher pausa sua carreira quando tem filhos. Então, acho que é muito importante a rede de solidariedade”, salienta.

Para ela, o ranking é especialmente importante porque, além de servir para dar reconhecimento ao trabalho das mulheres na ciência, incentiva a trazer mais mulheres para esse meio.

“Tenho algumas amigas que falam: ‘Quando uma abre a porta, abre aquele caminho, e outras vêm atrás’. Então acho que esse é o sentido do ranking: abrir as portas para que próximas mulheres entrem, abram e alarguem esse portal”, avalia Deborah.

Trajetória profissional da pesquisadora

Os trabalhos mais citados de Deborah Malta são as pesquisas “A pandemia da COVID-19 e as mudanças no estilo de vida dos brasileiros adultos: um estudo transversal, 2020”, com 134 citações, e “Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19”, com 85 citações. Antes disso, ela chegou a integrar a equipe do Ministério da Saúde, de 2004 a 2015.

Na UFMG, já foi coordenadora geral na área de saúde e diretora de vigilância de doenças transmissíveis e promoção da saúde. “Com isso, tive a oportunidade de liderar e coordenar grandes inquéritos nacionais”, conta.

Dentre os seus feitos, destaca a pesquisa nacional de saúde dos escolares, que coordenou em 2009, 2012, 2013 e 2015. O trabalho foi uma parceria do Ministério da Saúde com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, Deborah lembra com carinho especial da implantação do sistema de notificações de violência no Sistema Único de Saúde (SUS).

“A partir de 2011, nós instituímos, também, a obrigatoriedade de todo profissional de saúde que atende um caso de violência notificar ao sistema de saúde”, afirma. Além de combater a violência, a prática fornecia dados para pesquisas, que geraram grandes inquéritos nacionais.

* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata