Irene emoldurou matéria publicada em 2018 que a inspirou a seguir com a ideia do presépio -  (crédito: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)

Irene emoldurou matéria publicada em 2018 que a inspirou a seguir com a ideia do presépio

crédito: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS

As lembranças da infância se misturam às tradições mineiras, se aquecem na fé, ganham o brilho da criatividade e se modelam com técnica para celebrar o nascimento do Menino Jesus. Mão na massa e cabeça cheia de ideias, a professora de artes Maria Irene Alves da Rocha, de 65 anos, tem um presente muito especial para ela mesma, a família, os amigos e quem admira seu trabalho. Para este Natal, a moradora do Bairro Jardim Vitória, na Região Nordeste de Belo Horizonte, confeccionou um presépio em papel machê, o primeiro que faz nesse material. “Estou satisfeita, pois sempre quis fazer um assim. Comecei a em março, numa espera de seis anos.”

Nascida na comunidade de Engenheiro Dolabela, em Bocaiúva, na Região Norte de Minas, e residente em BH desde os 13, a professora aposentada demonstra fascínio pela arte, ainda mais quando há uma união com a natureza e a reciclagem de materiais. “Aprendi muito com minha mãe, Durvalina, a Du, e, com o tempo e os estudos, fui conhecendo e aprimorando a técnica”, revela Irene.

Foi em 1982, ao lecionar arte numa escola que funcionava num sítio, na Região Nordeste da capital, que a então jovem professora deu mais asas à imaginação. “Era um ambiente escolar com muitas possibilidades, no qual me via criando trabalhos artísticos com materiais recicláveis, então considerados, por muitos, pouco práticos”, conta Irene, que é casada, tem quatro filhos e sete netos.

Sempre com a luz da inventividade acesa, a mineira dirigia seu olhar para muito além dos produtos convencionais, como tinta guache, papel ofício, lápis e massinhas industrializadas. “Comecei a produzir, com os alunos, tintas com a pigmentação de terra, desenhos das folhas das árvores, massinhas de farinha de trigo com pigmentos de frutas e de cascas de legumes, massas elaboradas com restante de papel e grude e até uma cola feita com de pão velho e farinha.”

NOVAS TÉCNICAS

Procurando no próprio sítio-escola os materiais para usar, a exemplo de argila, Irene, sempre alerta a novas ideias, começou a se encantar pelo papel machê. E das suas mãos saiu um dinossauro, cachorros, baleias, jacarés e o que mais a imaginação permitisse. Há 10 anos, já aposentada, resolveu investir em pinturas de artes sacras, em gesso, produzindo e pintando presépios. “Fui fazendo e vendendo, como uma forma de ocupar o tempo. Desde então, a vontade de fazer meu presépio em papel machê foi crescendo.”

Para a realização do sonho, Irene passou a contar com a ajuda das pessoas conhecidas para coletar jornais, embora sem sucesso. “Até que um amigo me enviou uma remessa de muitos exemplares. E encontrei, no caderno Feminino, do Estado de Minas, na edição de dezembro de 2018, o texto “Onde habitava Jesus”, escrito por dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte. “Na publicação, havia ainda vários poemas de Alberto Caeiro (heterônimo do poeta português Fernando Pessoa), indicando o ‘sim’ para dar início ao nascimento do presépio estilizado em papel machê”, informa. n