Na foto, é possível ver o córrego Calhauzinho em seu deságue no Rio Araçuaí -  (crédito: Arquivo Pessoal/Sérgio Vasconcelos)

Córrego Calhauzinho deságua no Rio Araçuaí, importante bacia que atende a 23 cidades da região

crédito: Arquivo Pessoal/Sérgio Vasconcelos

Além de sofrer com o calor intenso, moradores de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, denunciam o despejo de esgoto no córrego Calhauzinho, local usado frequentemente pela população da região para banhos. Há pelo menos três semanas, a água, que estava límpida, se transformou em um aspecto esverdeado, com uma crosta em sua superfície. 

Segundo moradores, o problema no córrego Calhauzinho teria começado após uma obra feita pela Companhia de Abastecimento de Minas Gerais (Copasa). O córrego é afluente do Rio Araçuaí, cuja bacia atende a 23 municípios, segundo dados do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).

“Isso é um absurdo. Até quando vamos passar por isso? Cobram pelo tratamento de esgoto que não está executando, está jogando no rio a céu aberto. Isso é uma injustiça, um absurdo. Uma situação dessas não pode existir”, afirma Ataíde Silva, morador da região e também proprietário de um bar à beira do córrego.

Ele relata que o mau cheiro gerado pelo despejo do esgoto no córrego afeta diretamente o funcionamento normal do seu estabelecimento comercial. Outro morador que reclamou do odor é Helder Souza, que vive há mais de 10 anos na região.

“O mau cheiro é insuportável e vem desde que a Copasa realizou uma obra na caixa coletora. Eles [Copasa] falam que é um problema na bomba. Eles resolvem, mas volta de novo”, disse.

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Em meio a essa indefinição de onde está a origem do problema, alguns moradores relatam haver um entupimento da rede por onde passam os dejetos. Outros afirmam que, em contato com a Copasa, a empresa deu o retorno dizendo que os próprios moradores não estavam se conectando à rede de esgoto.

Em 2018, o córrego Calhauzinho também foi atingido por um derramamento de esgoto doméstico. Na época, moradores relataram que o acidente ambiental causou, além do mau cheiro, a mortandade de peixes.

O vazamento de esgoto teria ocorrido em uma estação elevatória da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Copasa em Araçuaí. Na ocasião, a empresa estatal informou que o vazamento foi ocasionado pela falta de energia elétrica na captação e na estação elevatória de esgoto e que o problema foi corrigido um dia depois.

Lazer prejudicado

Araçuaí ganhou destaque nacional em 19 de novembro, quando registrou a temperatura mais alta da história do país, com os termômetros marcando 44,8ºC. Os moradores contam que a poluição das águas do córrego Calhauzinho também prejudica momentos de lazer como o banho para se refrescar das altas temperaturas e a pescaria e até mesmo a utilização do recurso hídrico para plantação e uso diário de populações que vivem próximas às margens do curso d’água.

Imagem de um córrego em uma cidade do interior de Minas Gerais

Em geral, o córrego é utilizado para momentos de lazer da população do entorno e também ajuda na agricultura de subsistência

Arquivo Pessoal/Sérgio Vasconcelos

Questões ambientais

Questionada sobre o despejo do esgoto nas águas do córrego Calhauzinho, a secretaria municipal de Meio Ambiente de Araçuaí, Alba Luiz afirma que uma vistoria foi pedida e também foi enviado um ofício à Copasa pedindo “esclarecimento e solução dos problemas”.

O que diz a Copasa

Apesar das denúncias dos moradores e das imagens indicarem o despejo dos resíduos no córrego Calhauzinho, questionada pela reportagem, a Copasa informou que “não faz o lançamento clandestino de esgoto nos mananciais de Araçuaí”.

A empresa ainda esclareceu que “somente após passar por um rigoroso processo na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da cidade é que os efluentes são devolvidos à natureza, sem causar danos a mesma”.

Por fim, a Copasa ressaltou que “todas as etapas de tratamento da referida unidade são monitoradas por empregados treinados, onde são feitas análises na casa de controle da própria ETE, pelo Laboratório Regional Nordeste (LRNE), em Teófilo Otoni e, pelo Laboratório Regional Vale do Aço, em Coronel Fabriciano, acreditados pela ISO 17.025”.