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Siga noA coleção fala por si só: é fácil identificar a estética japonesa, as Pleats Please iconizadas por Issey Miyake, verdadeiras arquiteturas em tecidos pelas quais Luciana Nacif é apaixonada. A modelagem assimétrica, desabada, enrugada faz parte de um trabalho que prima por peças surpreendentes elaboradas com exclusividade pelo Atelier MU, nova marca que ela lança, agora, em sociedade com Alessandra Gonçalves.
Versátil e curiosa, Luciana sempre esteve com o pé na moda enquanto a cabeça, pensante, alça voos maiores em busca de conhecimentos, um flerte constante com a academia, um fascínio pela filosofia e seus desdobramentos. A imagem e todos os seus conteúdos semióticos são alvo de estudo para essa mineira, que começou sua história fashion como modelo, estudou publicidade e bateu ponto em importantes agências da cidade como diretora de arte e de criação, além de ter tido seu próprio negócio no setor.
Ela fez parte de um time afinado de moças que eram a “cara” da moda belo-horizontina, na década de 1990. Os rostos dessas meninas estavam nas campanhas, nos catálogos, nos outdoors, nos desfiles que marcaram o imaginário da época. Nessa nova aventura com a MU, ela tem como sócia Alessandra, companheira dos tempos das passarelas, que retornou à capital mineira depois de anos morando em São Paulo.
Luciana explica o que está por detrás do nome escolhido para a marca. MU é um termo zen que pode ser interpretado como o “não ser original” do qual o ser é produzido. Uma palavra que está além do conceito. Profundo, não é? Mas, para simplificar, basta saber que o objetivo do Atelier é tentar manter a moda, a beleza e o corpo em aberto, não fixados em conceitos pré-estabelecidos.
O trabalho é dirigido para mulheres antenadas, que apreciam a estética oriental, sabem valorizar todas as etapas que envolvem o fazer das roupas. Nem bem a primeira coleção foi lançada e já era objeto de desejo.
Entre uma atividade e outra, a multifacetada Luciana nunca perdeu de vista a oportunidade de criar algo diferente para essas mulheres. Na casa dos 20 anos, teve uma loja, a Kim, na Savassi. “Fui modelo de prova em várias marcas mineiras e sempre me intrigou o processo de construção das roupas, a sua relação com o corpo”, explica.
Pontualmente, surgiram outras investidas. Do uniforme desenvolvido para os colaboradores do Mercado Grano, particularmente as camisetas, veio a ideia de oferecer outros produtos na área de vestuário, além das t-shirts. “Tive um escritório de publicidade, o Oficina 161, junto com duas sócias, a Maria Carmem Renaut e a Carol Penido, e lançamos a O161 com essa intenção. Fizemos três ou quatro coleções, uma experiência muito divertida, mas que estava tomando muito tempo, já que nosso foco era a comunicação.”
Há cerca de três anos, ela partiu para novo empreendimento com a Nologo, um misto de crítica ao mercado e, ao mesmo tempo, oportunidade de testar, mais uma vez, matérias, formas e modelagens. E, como sempre, o movimento se repetiu: como as peças têm edição limitada, esgotam-se rapidamente, deixando um desejo de quero mais entre as clientes assíduas. O que promete acontecer, novamente, com o Atelier MU.
Academia
O motivo dessas interrupções, na maior parte das vezes, são os compromissos de Luciana com cursos no exterior. Essa jornada começou em 2012 com a passagem de Pascale Mussardi - uma das herdeiras da Hermés - por Belo Horizonte, durante a Bienal de Design, como representante do L’Institute Français de La Mode (IFM Paris).
O network permitiu que ela fosse para Paris fazer um MBA em Gestão de Criação de Moda e Design na escola. O alinhamento da instituição com o The Fashion Institute of Technology (FIT- NYC) permitiu intercâmbios em outras universidades de prestígio, tanto em Nova York quanto em Hong Kong.
Faz parte também do seu currículo uma bolsa sanduíche, em Paris, entre novembro de 2021 e junho de 2022. Agora, ela comemora o ingresso no doutorado na faculdade de filosofia da UFMG, sob a orientação do professor Rodrigo Duarte, na linha de estética. “Realmente, encontrei o lugar onde queria estar”, ela diz, pronta para defender a tese “O aparelho na moda. Magia, automação, subversão”.
Paralelamente, o foco de atenção será o Atelier MU que, inevitavelmente, reflete suas preferências no vestir, o flerte com o minimalismo, a admiração pelos origamis japoneses, a admiração por Issey Miyake. Confira nas fotos: tecidos como seda, shantung e linho renovam suas superfícies, ganham volumes ornamentais, plissados, enrugados bem ao gosto da fashion designer, que pode ser definida pelo verbo experimentar.