Economia

Funcionários do Nubank publicam carta-manifesto contra mudança no home office

Documento pede a reversão da política de retorno ao escritório -anunciada em 6 de novembro- e a recontratação de 14 profissionais demitidos por justa causa

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Funcionários do Nubank divulgaram uma carta-manifesto contra o fim do modelo de trabalho remoto e as demissões. O texto foi lido na noite desta quarta-feira (12) durante plenária virtual organizada pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, que reuniu cerca de 300 trabalhadores do grupo. 

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O manifesto, apoiado pelo sindicato, pede a reversão da política de retorno ao escritório -anunciada em 6 de novembro- e a recontratação de 14 profissionais demitidos por justa causa. Os 12 primeiros por se manifestarem contrariamente à medida em uma reunião com o CEO, David Vélez, e os dois últimos por supostamente planejarem sabotar sistemas internos. 

Em nota, o Nubank diz que mantém um diálogo "aberto e transparente com todas as entidades representativas apropriadas". 

O novo modelo do Nubank prevê dois dias de trabalho presencial por semana a partir de julho de 2026 e três dias a partir de janeiro de 2027. A regra valerá para cerca de 70% dos funcionários, substituindo o formato atual, que exige apenas uma semana presencial por trimestre. 

Algumas funções serão exceções e permanecerão remotas. Também será possível solicitar uma exceção pessoal, analisada caso a caso, com base em critérios como senioridade, desempenho e distância do escritório. Empregados elegíveis também vão poder se inscrever para o programa de auxílio-realocação, para o suporte em mudanças, quando necessário. 

Trabalhadores relatam que muitos aceitaram o emprego no banco digital pela possibilidade de atuar remotamente e que a mudança pode causar prejuízos financeiros e familiares -especialmente a quem vive em cidades sem escritório da empresa ou tem responsabilidades com filhos e parentes dependentes. O banco não possui agências físicas. 

Participantes da plenária afirmaram que o Nubank não apresentou justificativas baseadas em dados para o novo regime e que a decisão não foi negociada com o sindicato. Segundo os relatos, a empresa teria sinalizado que os empregados que não aceitarem o aditivo contratual com as novas regras poderão ser desligados. 

Para a presidente do sindicato, Neiva Ribeiro, as demissões têm caráter retaliatório. "O sindicato não aceitará punições por manifestações de descontentamento com o fim do modelo 100% remoto. É uma mudança grave, que precisa de diálogo. Esperamos que o Nubank esteja disposto a ouvir as reivindicações que serão apresentadas nas mesas de negociação", afirmou.

 

A entidade sindical informou que pretende realizar novas plenárias e tem uma reunião com a direção do Nubank para o 19. "As prioridades são duas: discutir o regime de home office e reverter as demissões. Queremos diálogo", disse o dirigente Marcelo Gonçalves. 

A secretária-geral Lucimara Malaquias afirmou que os canais do sindicato são o espaço seguro para denúncias e mobilização. "Muito cuidado com grupos no Telegram ou WhatsApp. O canal oficial garante anonimato e sigilo para os trabalhadores." 

Durante o anúncio, um grupo havia sido formado no Telegram para discutir algum tipo de organização após a restrição do trabalho remoto. Foi esse mesmo grupo que escreveu e publicou a carta aberta. 

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A seguir, leia a íntegra da carta aberta, publicada pelo sindicato: 

"Os trabalhadores organizados de todas as entidades legais do Nubank (Nu Asset, Nu Commerce, Nu Crypto, Nu Financeira, Nu Invest, Nu Pagamentos, Nu Pay, Nu Signals, Nu Tech e Olivia) e de todos os países atuantes (Brasil, Colômbia e México) vêm através desta carta manifestar seu repúdio: 

- ao fim unilateral do modelo remoto e a imposição do trabalho presencial a partir de 2026; 

- e às advertências e demissões retaliatórias de funcionários do Nubank que manifestaram seu legítimo descontentamento frente a uma decisão que impôs a todos uma drástica mudança em sua realidade de trabalho sem qualquer negociação prévia. 

Em total contraste com o discurso de valorização de feedbacks, diversidade e autonomia, o Nubank reagiu com punição aos trabalhadores e trabalhadoras que se opuseram ao novo regime de trabalho. Oficialmente, 14 demissões por justa causa -um número inédito e alarmante- somadas a diversas advertências diante de reivindicações legítimas, a gestão escolheu a punição em vez do diálogo com os trabalhadores. 

Em poucos anos, o Nubank cresceu de 25 milhões para mais de 100 milhões de clientes, superando US$ 20 bilhões de lucro líquido [na verdade, em 2024, a fintech registrou US$ 2 bilhões em lucro líquido anual], consolidando-se como uma das maiores histórias globais de sucesso e como o maior banco da América Latina. 

Esse resultado é fruto do trabalho de equipes remotas, diversas e comprometidas, que entregaram crescimento, inovação e eficiência à distância em um modelo de trabalho que já contempla períodos presenciais de uma semana a cada três meses e impulsiona a cultura, colaboração e o fortalecimento das equipes. Essas equipes têm orgulho da empresa que construíram, dos resultados que entregaram, de dia após dia construir a marca mais valiosa do Brasil e um dos melhores bancos do mundo, segundo a Forbes. 

Por isso, é inaceitável que tamanha mudança seja imposta sem diálogo e sem apresentar qualquer dado, evidência ou justificativa objetiva, ignorando a opinião de mais de 90% da empresa segundo a própria Chief People Officer. O que se vê é uma decisão arbitrária, insensível e sem base empírica, que ameaça o nosso bem-estar, a diversidade e confiança que sustentam nossa cultura e afeta profundamente nossas vidas, famílias e estabilidade financeira. 

Não nos concentraremos aqui no fato que o trabalho remoto não reduz a produtividade. As evidências são claras e o próprio Nubank admitiu. Cabe mencionar que políticas de RTO [Return to Office, ou retorno ao escritório, em inglês] reduzem a satisfação média dos trabalhadores e provoca saída em massa de profissionais qualificados, sobrecarregando os que ficam. Cuidadores familiares (especialmente mulheres), pessoas com deficiência e neurodivergentes são ainda mais afetadas por essas mudanças, causando impacto desmesurado no seu desempenho profissional e qualidade de vida. Por fim, deslocar trabalhadores para grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro implica em uma perda de renda real e no decréscimo da qualidade de vida dos trabalhadores. 

Portanto, com nossos direitos constitucionais a manifestação e a livre organização, viemos exigir: 

- A REVERSÃO DO RTO, com abertura de negociação entre a empresa, seus trabalhadores e a representação sindical. 

- Fim da PUNIÇÃO e RECONTRATAÇÃO IMEDIATA de todos os demitidos por expressarem de forma justa a sua indignação por tamanho impacto nas nossas vidas e nosso trabalho. 

Convocamos todes funcionários do Nubank a se somarem nessa luta."

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