A chegada do Drex é mais um passo do Banco Central de olho na modernidade financeira. Em 2022, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já havia falado sobre a mudança, e destacou o fim do cartão de crédito.  -  (crédito: Marcelo Camargo/Ag. Brasil)

A chegada do Drex é mais um passo do Banco Central de olho na modernidade financeira. Em 2022, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já havia falado sobre a mudança, e destacou o fim do cartão de crédito.

crédito: Marcelo Camargo/Ag. Brasil

SÃO PAULO, SP - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (8/5) reduzir a taxa básica de juros  (Selic). O índice teve redução de 0,25 ponto percentual, passando de 10,75% ao ano para 10,5%. A decisão não foi unânime. 

 

 

O presidente do BC, Roberto de Oliveira Campos Neto, e outros quatro diretores votaram pelo corte menor. Os quatro indicados pelo governo Lula votaram por uma redução de 0,5 ponto. Entre eles, o diretor Gabriel Galípolo, cotado para ser o próximo presidente da instituição.

 

Apesar da divisão na votação, o Copom diz que, de forma unânime, avalia que o cenário global incerto, o cenário doméstico marcado por uma atividade econômica mais forte que a esperada e as expectativas de inflação acima da meta demandam maior cautela.

 

 

Sobre os próximos passos, o Copom diz que "a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".

 

Segundo o BC, a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de queda da inflação, mas também "a ancoragem das expectativas em torno de suas metas".

 

 

Após a decisão, o EWZ, principal ETF (fundo de índice) que replica ações brasileiras em Nova York, recuava cerca de 1,60% nas negociações pós-mercado.

 

Na última reunião do comitê, em 20 de março, o colegiado sinalizou que poderia haver mais um corte da mesma intensidade. Houve, no entanto, mudança no discurso de vários integrantes do BC nas últimas semanas.

 

Um fator determinante foi a piora no cenário internacional, com o banco central dos EUA, o Federal Reserve, sinalizando que os juros vão demorar mais a cair por lá.

 

No comunicado da decisão, o BC diz que o ambiente externo se tornou mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente em relação ao início da queda da taxa de juros nos Estados Unidos.

 

No cenário doméstico, o comitê afirma que os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho têm apresentado maior dinamismo do que o esperado.

 

"O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional devem se manter mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária", diz o Copom.

 

Por aqui, a inflação passada melhorou, mas as expectativas para o futuro pioraram. O mercado de trabalho continuou forte, e o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou a meta fiscal de 2025, sinalizando mais gastos.

 

Sobre a mudança promovida pelo governo na meta fiscal, o BC reafirmou que "uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida" contribui para a queda dos juros.

 

No texto o BC diz que a estratégia é trazer a inflação para 3% no "horizonte relevante para a política monetária", que a partir dessa reunião passa a ser o ano de 2025. A inflação está em 3,93% nos 12 meses encerrados em março.

 

As projeções de inflação do Copom subiram de 3,5% para 3,8% em 2024 e de 3,2% para 3,3% em 2025.

 

"A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação desancoradas e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária", disse o BC.

 

Perspectivas futuras

 

Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, afirma que a reação do mercado à decisão dividida provavelmente será ruim, impactando os juros de médio e longo prazo.

 

Segundo ele, uma decisão mais conservadora estava no preço. O fato marcante foi a divisão "certinha" entre os indicados por Jair Bolsonaro (PL) e os escolhidos por Lula.

 

Esses últimos serão maioria a partir do ano que vem. Portanto, a expectativa é de um Copom menos ativo contra a inflação em 2025, segundo Leal, que espera novos cortes de 0,25 ponto a cada reunião até o final do ano, com a Selic fechando 2024 a 9,25%.

 

Alguns analistas avaliam que o Copom pode terminar o ciclo de cortes de juros na próxima reunião se não ocorrer melhora nas expectativas para a inflação.

 

Além disso, a calamidade no Rio Grande do Sul, e seus prováveis efeitos sobre a inflação local, pode levar o Copom a ser ainda mais defensivo à frente, afirma Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

 

 

 

Para Hudson Bessa, especialista em mercado financeiro da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), os sinais de que as taxas de juros americanas permanecerão altas por mais tempo do que o estimado elevam o piso até o qual a taxa brasileira pode cair.

 

O ciclo de flexibilização da Selic teve início em agosto do ano passado e, desde então, foram seis reduções seguidas de mesma intensidade (0,5 ponto percentual). O novo corte, agora de 0,25 ponto, levou a taxa básica ao menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava fixada em 9,25% ao ano.

 

A meta de inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) e perseguida pelo BC neste e nos próximos anos é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

 

O último boletim Focus divulgado pelo BC mostra que a projeção de inflação para 2025 -que hoje tem maior peso na determinação do nível da Selic por causa da defasagem dos efeitos da política monetária na economia- voltou a subir, passando a 3,64%.

 

O Copom volta a se reunir nos dias 18 e 19 de junho para recalibrar o patamar da taxa básica de juros.