O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia prometido limitar o déficit anual em R$ 100 bilhões -  (crédito: Diogo Zacarias/Divulgação - 1/9/23)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad

crédito: Diogo Zacarias/Divulgação - 1/9/23

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse nesta sexta-feira (22) que as cobranças do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por uma redução da taxa básica de juros não significam uma crítica à autonomia do Banco Central ou ao comando da instituição.

 

Segundo ele, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, também cumpre seu papel quando dá recados na linha de que o governo precisa cuidar da trajetória das contas públicas.

 

 

"Quando a gente discute um tema econômico, não estamos fazendo críticas mútuas. Quando ele [Campos Neto] fala 'o fiscal tem que melhorar', ele não está criticando a mim", disse Haddad em café da manhã com jornalistas.

 

"Até porque ele é um voto ali em nove [no Copom, o Comitê de Política Monetária]. Ele faz o papel dele, eu faço o meu. Nós sabemos das limitações individuais. Não tem salvador", afirmou.

 

"Eu defendi que o corte [de juros] começasse um pouco antes. Nós temos que parar de entender isso como uma crítica à autonomia, como uma crítica ao presidente. Não tem nada a ver", acrescentou.

 

A declaração de Haddad foi dada em um contexto de aproximação entre Campos Neto, indicado ao posto ainda no governo Jair Bolsonaro (PL), e a gestão Lula, após um início conturbado. Ao criticar os juros, o petista já chamou o presidente do BC diversas vezes de "esse cidadão".

 

Na noite desta quinta-feira (22), o presidente do BC participou do churrasco de confraternização promovido pelo chefe do Executivo na Granja do Torto.

 

"O presidente do Banco Central estava ontem comendo churrasco com a gente. Foi ótimo. Ele foi convidado pelo presidente. Não é a primeira vez. Ele já foi lá no Palácio do Planalto. Foi convidado para ir no [Palácio da] Alvorada [residência oficial do presidente da República] quando ele quisesse", afirmou.

 

Desde o início da atual gestão, o presidente do BC se tornou um alvo preferencial de críticas por causa da condução de política monetária, mas tem conseguido amenizar os atritos ao longo dos últimos meses, especialmente após os cortes na taxa básica de juros (Selic).

 

A aproximação começou a ser pavimentada pelo próprio ministro da Fazenda, que promoveu um primeiro encontro durante o atual governo entre Campos Neto e Lula no fim de setembro.

 

Apesar dos gestos recentes, Haddad mantém sua visão de que os juros precisam cair mais para ajudar a impulsionar a economia.

 

"O consumo está aumentando, a confiança está aumentando, as exportações estão aumentando. Qual é a variável chave? O investimento privado. Foi a única variável que caiu ao longo do ano. Isso obviamente tem a ver com a política monetária, que quis trazer a inflação para dentro da banda rapidamente. Só que, a partir de um determinado ponto, o remédio vira veneno", disse.

 

Na avaliação do ministro, restringir a oferta da economia por meio da compressão dos investimentos privados pode criar um ambiente propício à aceleração da inflação novamente no futuro.

 

"Você não vai ter oferta para atender a demanda. Então você vai ter problemas de equilíbrio. Agora, o caminho está traçado. A redução está programada pelo próprio Banco Central. Todos os comunicados recentes têm dito 'vamos manter o ciclo de cortes da Selic'. Agora, o remédio para continuar combatendo a inflação é reduzir os juros. Por incrível que isso possa parecer", acrescentou.