Músicos e programas de TV deram destque à cultura drag a partir dos anos 2020 -  (crédito: Pabllo Vittar)

Músicos e programas de TV deram destque à cultura drag a partir dos anos 2020

crédito: Pabllo Vittar
Pabllo Vittar com o cabelo pintado com duas cores diferentes sentada no banco de trás de carro
Pabllo Vittar
Músicos e programas de TV deram destque à cultura drag a partir dos anos 2020

Nos últimos anos, o drag se tornou uma parte fundamental do mundo da moda.

Hoje em dia, artistas drag aparecem em capas de revista, estrelam campanhas para marcas de moda e ocupam posições de destaque nas passarelas das semanas de moda em todo o mundo.

Para a atual geração de fashionistas, as ligações entre moda e drag são óbvias. Ambos visam encontrar autoexpressão, criatividade e liberdade nas roupas, dizem os especialistas.

Mas nem sempre foi assim. A moda e o drag eram vistos como mundos separados.

"Antes, você não podia tocar em uma drag queen porque perderia negócios", diz o designer Brad Callahan, que criou looks para ícones pop como Lady Gaga e Miley Cyrus — assim como para muitos participantes do reality show de drag RuPaul’s Drag Race.

Agora, porém, trabalhar com artistas drag não é apenas aceitável, mas celebrado, diz ele.

Da influência da moda das celebridades à maquiagem que compramos na internet e nas ruas, o que mudou para tornar o drag na moda? A BBC Three conversou com um estilista, um historiador da moda e uma drag queen para descobrir.

A artista drag Tayce posando para foto
BBC / WORLD OF WONDER
A artista drag Tayce estrelou uma campanha de Jean Paul Gaultier depois de aparecer no RuPaul's Drag Race UK

Em 2020, as drag queens quebraram uma grande barreira da moda quando as performers Pabllo Vittar e Gloria Groove se tornaram as primeiras rainhas a aparecerem na capa da Vogue Brasil.

"A Vogue é uma das revistas mais icônicas da história", diz a drag performer e cantora Pabllo, que tem mais de 20 milhões de seguidores no TikTok e no Instagram.

"Então foi uma honra ser a primeira drag queen na capa. Essa foi uma das coisas que sonhei enquanto crescia — e se tornou realidade."

"Drag é sobre se expressar como artista — e não podemos fazer isso sem moda."

Na mesma época da capa da Vogue, Bimini, estrela da RuPaul’s Drag Race UK, fez sua estreia na London Fashion Week para o estilista Richard Quinn e sua co-estrela Tayce como o rosto de uma campanha de fragrâncias de Jean Paul Gaultier.

O editor da Vogue britânica, Edward Enninful (à esquerda), apareceu na série mais recente de RuPaul's Drag Race UK
BBC / WORLD OF WONDER
O editor da Vogue britânica, Edward Enninful (à esquerda), apareceu na série mais recente de RuPaul's Drag Race UK

Enquanto isso, as modelos Jourdan Dunn e Leomie Anderson apareceram como juradas convidadas na RuPaul's Drag Race UK e o editor da Vogue britânica Edward Enninful recentemente apareceu como mentor durante um desafio de design.

As rainhas da RuPaul's Drag Race UK também são versadas na história da moda, com designers como Vivienne Westwood e Alexander McQueen frequentemente citados como inspiração nas passarelas.

Como o drag virou moda — com ajuda de Lady Gaga

O designer Brad começou sua carreira fazendo roupas para artistas performáticos e drag queens da cena underground do Brooklyn, em Nova York, no início dos anos 2000.

Foi isso que fez com que ele fosse notado primeiro pela estilista da rapper Azealia Banks e depois por Lady Gaga.

Brad diz que a cantora de Bad Romance agiu como uma "ponte" que permitiu que artistas drag fossem aceitos no mundo da moda contemporânea.

"O pop agora é sobre conseguir um momento viral, e eu culpo Gaga por isso", diz ele. "Essa é a razão pela qual esses looks totalmente glamourosos entraram na moda."

Lady Gaga dançando com roupa colorida durante turnê
Getty Images
Roupa que Brad Callahan criou para a turnê Artpop de Lady Gaga

Enquanto isso, o historiador da moda Shaun Cole vê paralelos com os anos 1980 e início dos anos 1990, quando os designers se inspiraram nas cenas drag e Club Kid.

Designers e artistas drags muitas vezes moravam juntos, acrescenta. Os estilistas confeccionavam roupas para ir às baladas e as drag performers desfilavam em seus shows.

"A cultura queer na década de 1980 tratava da indefinição de gênero", diz Shaun, acrescentando que essa explosão de criatividade queer pode ser vista como uma reação à homofobia da época.

"Foi em parte uma resposta à intensa homofobia que vimos em todo o mundo com uma pandemia de Aids. Foi um momento de contra-ataque, de tentar impulsionar um mundo mais aberto."

No início da década de 1990, o estilista francês Thierry Mugler fez história ao usar a artista drag americana Lypsinka como modelo de passarela — e RuPaul obteve sucesso com seu sucesso de dança Supermodel (You Better Work).

O artista e apresentador de TV RuPaul passou a ser o primeiro rosto da campanha de maquiagem Viva Glam, da MAC, e apareceu na capa da Vanity Fair e da Cosmopolitan.

'A maneira como as jovens usam maquiagem é muito drag'

Designers como Brad agora trabalham com artistas drag como as participantes da Drag Race Kylie Sonique Love, Kandy Muse e Pearl — assim como ícones da moda moderna como Doja Cat e Lil Nas X.

E, de acordo com Brad, o drag está influenciando a forma como usamos base, batom e iluminador, com artistas drag como Trixie Mattel e Kim Chi até lançando suas próprias marcas de maquiagem.

"A maneira como as mulheres jovens usam maquiagem para contornar e usar cílios postiços é muito drag", diz.

Enquanto isso, Brad tem visto um aumento no número de jovens designers que desejam trabalhar com drag queens.

"Há muitas crianças que me procuraram e estão entrando na faculdade ou começando a estudar e querem ser designers drag", diz ele.

"Acho ótimo que agora exista toda uma geração que possa aspirar a ser isso e ter essa liberdade."

"O drag não é um assunto tão tabu. E eu acho que isso é bom, porque significa que muito mais crianças estão aprendendo sua história queer e tentando encaixar tudo."