“Era uma relação de amor e ódio. Teuda foi a mulher com mais força que eu conheci na vida. Apanhava dela, de vez em quando, amorosamente”. O diretor Gabriel Villela saiu de madrugada de São Paulo para chegar ao velório de Teuda Bara. A atriz do Grupo Galpão, morta ontem (25/12), aos 84 anos, foi velada hoje (26/12) no Palácio das Artes. O enterro será às 17h no Cemitério da Colina.

“Não podia ser diferente. É uma celebração, mas também um ritual de tristeza, lamento e perda. Com a Teuda tudo tinha que ser diferente, a liturgia é outra”, acrescentou Villela, que a dirigiu no Galpão em três espetáculos: “Romeu e Julieta” (1992), “A Rua da Amargura” (1994) e “Os gigantes da montanha” (2013).

“A Teuda tinha uma preparação muito grande para o teatro, assimilava tudo com uma capacidade de síntese encantadora”, completou ele, lembrando que além de ser a mulher mais forte que conheceu, ela também foi a maior feminista. “Se não desse certo ela saía na gente: beliscava, batia. Foi revolucionária no modus vivendi.”

 

Familiares e amigos se despediram da atriz durante o velório Leandro Couri / EM / DA Press
Participou de 21 dos 26 espetáculos da trupe mineira. Com o Galpão, seu último espetáculo foi "Cabaré Coragem". Leandro Couri / EM / DA Press
Transitou da comédia ao circo, do clássico ao contemporâneo, com forte comunicação com o público. Leandro Couri / EM / DA Press
Coração do Grupo Galpão, que cofundou em 1982, deixou uma série de grandes personagens, o mais célebre deles a ama de 'Romeu e Julieta' Leandro Couri / EM / DA Press
. A causa da morte foi septicemia com falência múltipla dos órgãos. Leandro Couri / EM / DA Press
Ela estava internada no Hospital Madre Teresa desde 14 de dezembro, quando passou mal em casa e sofreu uma fratura na perna Leandro Couri / EM / DA Press
A atriz Teuda Bara está sendo velada hoje (26/12), no Palácio das Artes. Leandro Couri / EM / DA Press
Teuda Bara em cena do espetáculo 'Sonhos de uma Noite com o Galpão' Alexandre Rezende/Divulgação

Teuda contava que conheceu Villela durante um festival em São João del-Rei. Segundo ela, pouco depois o diretor viajou para a Europa onde ouviu um grupo de meninos cantando “Marinheiro só”. Teria perguntado aos gringos onde conheceram essa música e eles disseram que tinha sido por meio de um grupo brasileiro chamado Galpão.

“Na verdade, tenho pouca lembrança dessa história do ‘Marinheiro só’”, disse Villela, que viu o Galpão em ação pela primeira vez em Ouro Preto e os reencontrou em São João, onde os atores participavam de um workshop com Ulisses Cruz. “Daí eu invadi a área, vi que esse povo era o meu povo.”

 

Teuda deixa os filhos André e Admar. Em 2016, a atriz foi homenageada com a biografia "Comunista demais para ser chacrete" (Editora Javali), escrita por João Santos. Beto Novaes/EM/D.A Press
No início dos anos 2000, a atriz foi convidada pelo diretor Robert Lepage para participar do espetáculo "K.Á.", do Cirque du Soleil. Na época, ela saiu do Brasil e viveu entre Montreal, no Canadá, e Las Vegas, nos EUA, cidade onde era apresentado o show. Rafa Marques/Reprodução
Em 1987, Teuda Bara foi uma das integrantes do Grupo Galpão a participar da intervenção artística "Queremos praia", realizada pelo coletivo no centro de BH, em prol da ocupação da cidade. Eugenio Sávio/Reprodução
A belo-horizontina Teuda Bara, de 84 anos, nasceu Teuda Magalhães Fernandes. Foi atriz, trabalhou em teatro, cinema e televisão e, ainda, foi uma das fundadoras do Grupo Galpão. Luiza Palhares/Divulgação
Em outubro de 2011,Teuda Bara e Selton Mello estiveram presentes na pré-estreia de "O palhaço", no Pátio Savassi, em Belo Horizonte. Eugenio Gurgel/ Esp EM/D.A. Press.
A atriz foi homenageada com dois painéis em Belo Horizonte. A primeira vez, em 2017, veio em comemoração aos 120 anos da capital mineira. O desenho foi apagado e refeito em 2021 pelo coletivo Minas de Minas. Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press
Na televisão, Teuda participou da novela da TV Globo "Meu pedacinho de chão" (2014), de Luiz Fernando Carvalho, interpretando a personagem Mãe Benta. Além disso, fez parte da série "A vila", com o humorista Paulo Gustavo (1978-2021). Renato Rocha Miranda/TV Globo -
Desde o início da companhia mineira, em 1981, Teuda atuou na maioria dos espetáculos. Neste ano, a peça "Doida" (foto), na qual a atriz divide a cena com o filho Admar Fernandes, completou 10 anos. Fernanda Abdo/Divulgacao.
Teuda também fez diversos filmes. A atriz participou do longa "O palhaço" (2011), dirigido e protagonizado por Selton Mello, interpretando a Dona Zaira, integrante da trupe do Circo Esperança. Imagem Filmes/Divulgacao
Teuda Bara ainda participou dos filmes "As duas Irenes" (foto), de Fábio Meira, que representou o Brasil no Festival de Berlim em 2017, além de "La playa D.C", de Juan Andrés Arango, "Órfãs da rainha", de Elza Cataldo, e "Ângela", da cineasta mineira Marília Nogueira. Vitrine Filmes/Divulgacao

“Romeu e Julieta” foi realizado com pouquíssimo dinheiro. O espetáculo estreou em 12 de setembro de 1992 em Ouro Preto. Na época, o grupo tinha uma dívida de US$ 12 mil – que foi sanada paulatinamente diante do absoluto sucesso da montagem.

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“Era muito pouco dinheiro e o grupo foi assumindo dívidas para poder dar um trato cinematográfico na veraneio (que foi o palco/cenário da montagem)”, completou Villela. As falas debochadas da ama interpretada por Teuda, que carregava grandes sacos plásticos presos sobre os seios, garantiam as maiores gargalhadas do público no sem número de apresentações que a peça teve, nas ruas e nos palcos, até 2013.

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