Ambientada no momento que delimita o intervalo entre o impacto de um acidente e a possibilidade da morte, a peça “Enquanto ainda há” estreia nesta terça-feira (16/12), com sessões na Funarte até domingo (21/12). O dramaturgo Arthur Barbosa propõe discussões sobre afetos, relacionamentos, escolhas e formas de lidar com as relações na sociedade contemporânea.

Dirigida por Carolina Cândido, parceira de Barbosa na dramaturgia, a peça tem elenco composto por Anselmo Bandeira, Camila Félix e Camila Furtunato.

A mente do personagem Leonardo é o “cenário” da trama. Após sofrer um acidente, o terapeuta revisita fragmentos de sua vida, enquanto tenta reorganizar memórias, vínculos e conflitos antes de perder a consciência.

Esposa, amante e paciente

A história se constrói a partir de três personagens em volta do limbo de Leonardo: Maia, a esposa (Camila Furtunato); Samira, a amante (Camila Félix); e Gilberto, o paciente (Anselmo Bandeira). Cada um revela perspectivas distintas do protagonista e das relações que ele estabeleceu.

“Leonardo está naquele momento do limbo, em que a pessoa revê toda sua vida antes de morrer. Os três personagens estão na mente dele, que tem relações específicas com cada um. A partir disso, vemos os sentimentos e as reações dos três”, explica o ator Anselmo Bandeira.

Histórias dos personagens são apresentadas a partir do ponto de vista que mescla memória, imaginação e elaboração emocional. Anselmo interpreta Gilberto, homem em crise diante das expectativas impostas pela masculinidade em uma sociedade patriarcal.

O personagem questiona sua própria postura, escolhas e o modo como aprendeu a se relacionar. Para o ator, as escolhas de Gilberto impactam a mente de Leonardo como profissional e como homem.

“As ações do Gilberto mostram como o Leonardo lida, ou não lida, com os próprios afetos. Normalmente, temos a expectativa de que o terapeuta, a pessoa que está ali como trabalhador para nos analisar, seja a pessoa com mais noção e consciência dos sentimentos, mas isso é ilusório”, afirma.

A temática do espetáculo se relaciona a questões comuns na sociedade contemporânea, como a dificuldade de diálogo e o afastamento entre pessoas próximas.

Urgência

Para Bandeira, o título do espetáculo aponta para uma urgência. “O que estamos deixando de fazer enquanto ainda há tempo e há afeto, enquanto alguém ainda confia, acredita e se coloca à sua disposição e enquanto ainda há interesse de viver em sociedade?”, afirma. Segundo ele, a montagem propõe um olhar sobre negligências cotidianas nas relações pessoais e sociais.

“Enquanto ainda há” é uma reflexão sobre a complexidade dos relacionamentos nos dias atuais e de discussões voltadas para a masculinidade tóxica. “Nós, homens, podemos ser menos preconceituosos, machistas e escrotos. Então, meu personagem, de alguma maneira, incorpora essa realidade”, afirma.

Criação coletiva

O início do processo de criação ocorreu por meio de conversas em 2019, mas ganhou corpo a partir de 2024, com ensaios e sugestões desenvolvidas de forma coletiva.

Segundo Anselmo Bandeira, a construção dos personagens passou por memórias pessoais e pela troca constante entre elenco e direção. Ele destaca que a parceria com as atrizes Camila Félix e Camila Furtunato foi central para lidar com os temas sensíveis abordados em cena.

“ENQUANTO AINDA HÁ”


Peça de Arthur Barbosa e Carolina Cândido. Direção de Carolina Cândido. Com Anselmo Bandeira, Camila Félix e Camila Furtunato. Desta terça-feira a domingo (16 a 21/12), na Funarte MG (Rua Januária, 68, Centro). Sessões de hoje a sexta, às 20h30; sábado e domingo, às 19h30. Ingressos à venda por R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)na plataforma Sympla e na bilheteria da Funarte.

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

compartilhe