FESTIVAL DO CINEMA FRANCÊS

Filme premiado 'Mãos à obra' aborda a paixão e o calvário de um escritor

Dirigido com brilho por Valérie Donzelli, longa que levou o prêmio de Melhor Roteiro em Veneza está em cartaz em BH

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Paul podia se considerar bem-sucedido. Era fotógrafo de renome na França, tinha dinheiro, reconhecimento e família estruturada. Certo dia, simplesmente decidiu viver só de literatura, havia escrito um ou dois livros que fracassaram comercialmente. A escolha, aparentemente simples, tornou-se queda livre. A família não aceitou, originais enviados à editora foram recusados e o dinheiro desapareceu. Para piorar, a esposa pediu o divórcio e se mudou para o Canadá com os filhos.

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Para pagar as contas, Paul entra em aplicativo que conecta pessoas que precisam de serviços gerais a trabalhadores que oferecem o menor preço por eles. Em pouco tempo, ele se torna “faz-tudo”: carrega sacos de cimento, monta móveis, pinta paredes, conserta vasos sanitários, cuida de jardins… Entre um trabalho e outro, reconstrói sua própria voz literária e começa a escrever, quase escondido, o que se tornará sua obra-prima.

Esta é a história de “Mãos à obra”, filme de Valérie Donzelli estrelado pelo excelente Bastien Bouillon, que acumula o Prêmio César de Melhor Ator Revelação e Melhor Ator Coadjuvante. O longa está em cartaz na sala 2 do Cine Ponteio nesta terça-feira (2/12), às 19h55, na programação do Festival de Cinema Francês do Brasil.

Baseado no romance “À pied d'ouevre” (“No trabalho”, em tradução livre), de Franck Courtès, “Mãos à obra” é um dos destaques do festival. Com direção minimalista, Valérie aposta na simplicidade, contenção e economia de elementos visuais para investigar a essência do protagonista.

“A origem do projeto está estranhamente ligada à origem da minha vocação artística”, contou a cineasta durante sua passagem pelo Rio de Janeiro para a abertura do festival.

“Meu pai desenhava muito bem, teria sido ótimo chargista, mas acabou não sendo artista porque o pai dele não quis. Eu, criança, via meu pai infeliz e já dizia que teria um trabalho que me realizasse”, revelou a diretora, lembrando que largou o curso de arquitetura para se dedicar ao cinema.

 A diretora Valérie Donzelli olha para a câmera e posa para fotógrafos no festival de cinema de Veneza
A diretora Valérie Donzelli enfrentou o mesmo dilema do personagem Paul do filme 'Mâos à obra', que a levou ao Festival de Veneza em agosto deste ano Stefano Rellandini/AFP

No ofício, Valérie viveu incertezas e enfrentou dificuldades financeiras, assim como Paul. “Quando mostrei o roteiro deste filme para meu pai, ele perguntou: ‘Por que você não escreve um filme que vá fazer sucesso?’”, lembrou.

De certa forma, “Mãos à obra” é a resposta (ou a superação) desse questionamento. A diretora não chegou a fazer bicos por preços irrisórios como o personagem, mas viveu as consequências de sua escolha artística com perseverança e quase devoção, como a monja que abraça a vida de um claustro particular.

“Foi essa ideia que eu quis mostrar no Paul. Queria que ele fosse ficando cada vez mais depurado, mais limpo de tudo, até do cabelo, que ele raspa ao longo do filme, como um monge em relação quase religiosa com a escrita”, explicou.

O reconhecimento veio com o prêmio de Melhor Roteiro no 82º Festival de Veneza, em setembro deste ano, e com a boa recepção da crítica. A Variety chamou o filme de “joia silenciosa” do evento italiano.

Ironicamente, Donzelli dedica o filme ao pai. “Não guardo mágoas. Pelo contrário, nossa relação sempre foi muito bonita. Inclusive, antes de ele morrer, conversamos muito sobre isso”, disse cineasta.

“MÃOS À OBRA”


França, 2025, 92 min. De Valérie Donzelli. Com Bastien Bouillon e Virginie Ledoyen. Nesta terça (2/12), no Cine Ponteio 2, às 19h55.

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