Uma comédia agridoce: é assim que Miá Mello define "Mãe fora da caixa", filme que está em cartaz em BH. No longa, ela dá vida à protagonista Manu, uma jovem mãe que vê sua vida virar do avesso com o nascimento da primeira filha.
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"O puerpério não tem graça nenhuma. Nenhuma!", enfatiza Miá, em tom de alerta, em entrevista à Folha de S.Paulo. Mãe de Nina, 15, e Antônio, de sete anos, a atriz se vale, no entanto, do poder do riso para comunicar a mensagem principal do filme: como é a maternidade real.
Estrela de comédias como "Meu Passado Me Condena" e dubladora de "Divertida Mente", Miá acredita que humor tem a habilidade de abrir discussões sobre assuntos espinhosos com uma abordagem suave. "Mas, mais do que fazer uma comédia para o público brasileiro dar risada, meu objetivo como artista era transparecer a verdade. Deixar o filme num tom em que as mulheres se sentissem representadas", diz a atriz, que também assina como roteirista.
Dirigido por Manuh Fontes, o filme é inspirado na peça de mesmo nome com a qual Miá rodou o país por quase cinco anos – adaptada, por sua vez, do livro homônimo de Thaís Vilarinho.
Ao contrário da personagem, Miá teve uma primeira maternidade até que tranquila. O perrengue veio mesmo, para a surpresa da própria atriz, quando nasceu o segundo filho, fruto de uma gravidez totalmente planejada.
"O Antônio foi muito planejado, guardei dinheiro, fiz uma poupança, decidi que eu tinha que engravidar no mês tal para tirar a licença no momento perfeito. Achava que ele seria um bebê tranquilo e nasceu uma criança que não se acalentava", diz. "Foram meses de frustração, de uma sensação de não estar dando conta."
"Eu tinha uma expectativa muito grande de controle", avalia, em perspectiva. "Na minha primeira gravidez, eu estava mais solta, mais aberta e talvez seja essa a grande chave."
A diretora, que também é mãe e já esteve na pele da personagem, completa: "Essa culpa vem da romantização da maternidade, quando falam para a gente que é sagrado, que é um momento único". A ideia do filme é escancarar o oposto desse sagrado: o lado menos divino da coisa.
Falar de maternidade verdadeira, para Manuh, é falar de inseguranças, culpa, dúvidas, descontrole de tudo, hormônios em ebulição e casamento abalado. "A gente cria um elo profundo com o público porque é uma coisa comum, quase universal", diz.
Novos debates
Para a cineasta, trazer a perspectiva feminina para o cinema tem o poder de abrir espaço para debates importantes. A ampliação da licença-paternidade, por exemplo, que está em discussão no Senado, é um tema abordado no filme através de cenas cômicas.
Na trama, Danton Mello vive André, marido de Manu, um pai amoroso, presente e participativo, mas que, ainda assim, consegue dar um salto na carreira e até curtir um dia de praia enquanto a esposa mal consegue tomar banho. "Existe um abismo entre a doação dele e a doação da mãe", observa Manuh.
"Durante muito tempo, a maternidade foi retratada por olhares masculinos, pelos homens. Quando a gente traz um tema feminino com uma perspectiva feminina, damos voz para de fato mostrar o que acontece, qual a realidade, como as mulheres sentem, o que elas vivem, como é a dinâmica da casa, as dores e as delícias", diz. "E quando geramos diferentes perspectivas, cria-se o diálogo, abre-se espaço para o debate. Se você só tem uma voz, não consegue debater nada.
Miá completa: "Não quero achar que vou resolver alguma coisa com esse filme, mas espero que seja ferramenta para abrir essas novas discussões que são tão necessárias". (Anahi Martinho)
“MÃE FORA DA CAIXA”
Direção de Manuh Fontes. Com Miá Mello e Danton Mello. Em cartaz em BH nas redes Cineart, Cinemark e Cinépolis.
