Sérgio Pererê chega ao palco do Cine Theatro Brasil nesta quarta-feira (19/11) levando consigo não apenas a voz, mas um arsenal de sonoridades que expandem o território da música de concerto. Ao lado da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, sob regência de Joel Barbosa, Pererê recorre a canções autorais e clássicos de compositores negros da MPB, costuradas num repertório de fluxo contínuo, que ora parte da orquestra, ora desemboca nela.
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“Tem mistura muito grande, com os elementos tradicionais de orquestra e as sonoridades que eu levo e que passam longe desse ambiente”, define Pererê, adiantando que o programa, com entrada franca, contará com músicas de Milton Nascimento, Chico César, Dona Ivone Lara e Maurício Tizumba.
O programa gira em torno de obras produzidas com o viés da brasilidade afro. “Mesmo que músicos de uma orquestra sinfônica tragam como base estrutural de sua formação a tradição ocidental, estamos todos expostos à música de nossa cultura”, ressalta o maestro Joel Barbosa.
A ideia de contemplar compositores negros dialoga com o Dia da Consciência Negra, comemorado amanhã (20/11). Isso ecoa pelas canções escolhidas, como a sugestiva “Mama África” (de Chico César e George Thomaz); “A criação” (Maurício Tizumba), que exalta a mata de Oxóssi, o trovão de Xangô e o vento de Iansã; e “Alguém me avisou” (Dona Ivone Lara), com os versos de força simbólica “Ô padrinho não se zangue/ que eu nasci no samba”.
Representatividade
A representatividade vai além do repertório. Pererê conta com extensa obra que nasce diretamente das matrizes afro-brasileiras, passando pelo congado, tambor mineiro, toques de terreiro, ritmos de matriz bantu e iorubá, além de cantos de trabalho que moldam a música negra em Minas e no Brasil.
O maestro Joel é um dos poucos negros que ocupam o cargo de regente. “Ao longo de nossa caminhada, nós nos deparamos com situações desafiadoras que nos fazem questionar se vale a pena seguir enfrentando os gigantes que se interpõem entre nós e nossos sonhos”, ele diz.
“Então, para mim, essa data é um momento de reflexão sobre tudo isso, pois é um momento em que lembramos que a opção pelo enfrentamento valeu e tem valido a pena. A vida é uma só, e a que me foi dada a viver não foi um presente do acaso. Sempre houve um propósito”, acrescenta.
A importância do protagonismo negro no concerto é incontestável, o que agrada a Pererê e Joel. No entanto, há a preocupação de que isso não fique restrito à efeméride. Os dois concordam o fato de haver negros em posição de destaque não deveria ser tratado como algo incomum, visto apenas no mês da Consciência Negra.
“A estrutura que a gente vem trazendo, que mistura tambores africanos com instrumentos de orquestra, deveria ser apresentada em qualquer momento do ano. É preciso entender o negro como algo comum dentro da música brasileira e não uma coisa exótica. Afinal, não tem como desvincular a música brasileira da africana. A cultura brasileira é fundamentada na cultura negra”, conclui Pererê.
SINFÔNICA POP
Com Sérgio Pererê e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Nesta quarta-feira (19/11), às 20h, no Grande Theatro Unimed-BH do Cine Theatro Brasil (Praça Sete, Centro). Entrada franca.
